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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O direito de ir e vir

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Artigo de R. Ney Magalhães

Assisti nesta semana, cenas de “guerrilha armada” protagonizadas por pobres brasileiros que em situação de miséria encontram-se acampados, ou simplesmente abandonados às margens da BR 463, nas proximidades de uma grande Usina de Álcool, no município de Ponta Porã.

Descartando inteligentemente a Foice e seu simbolismo comunista, mais de duzentas pessoas, entre homens e mulheres, com enxadas e cavadeiras que mais pareciam lanças de combate, cercavam e rodeavam os carros, impedindo o transito.

Ouvi as palavras de ordem, “queremos a nossa Terra !!! e de graça”.
A organização do movimento sugere uma preparação de revolução civil, com inocentes vitimas servindo de escudos.

Os viajantes, entre eles, muitas mulheres e crianças assustadas, estavam apavorados e abandonadas à própria sorte.

Alegando descaso dos Políticos atuais Governantes, em busca de diálogo e soluções formaram uma “barreira” humana que obstruiu a estrada nos dois sentidos.

Viajando para Dourados, por algumas horas fiquei detido naquela “barreira” e tive oportunidade de conversar com membros do Movimento, constatando o desespero daqueles cidadãos descamisadas e de suas famílias, vitimas do sistema cruel de nossas Leis Fundiárias e Social-Trabalhistas, responsáveis por todo esse caos.

Conhecendo muito bem o local e a região do acampamento, que fica na área Central da antiga Fazenda Dependência, naquele instante passou pela minha mente todo o Filme da Primeira Colonização Gaúcha do Sul do Mato Grosso, titulo de meu Livro que será editado no próximo ano, antecipando a comemoração Oficial, de Um Século da chegada de nossos Avós Riograndenses.
Logo no início do século passado, o Coronel João Lima por insistência do Governo Federal utilizou recursos financeiros próprios, no requerimento pago e na implantação de investimentos naqueles desertos campos e coxilhas. A área localizada entre os Rios São João, Dourados e Doradilho, com pequena distancia de Linha Seca, compreendia aproximadamente Cem Mil Hectares.

Um dos trabalhos de meu avô Luiz Pinto de Magalhães que aqui chegou em 1900, foi localizar e construir onze “retiros” administrativos dentro dessa Fazenda, denominada DEPENDÊNCIA pelas origens políticas do proprietário e de seus colaboradores, seguidores do Império e contrários à Independência e a Republica.

Eles eram contrários ao Federalismo. Maragatos e Farrapos ainda não se conformavam com as resoluções políticas da Revolução Farroupilha.
O saudoso Cel. Lídio Lima, filho de João Lima, ao regressar dos estudos no Rio de Janeiro, assumiu o controle administrativo daquela Gleba, que progredia com um grande rebanho bovino, alem da exploração de erva-mate. Foi mais de meio século de trabalho árduo e colonizador na fixação pós-guerra, de nossas linhas fronteiriças.

Lídio Lima foi Prefeito de Ponta Porã, e grande líder da UDN, União Democrática Nacional, partido do vovô Luiz Pinto de Magalhães, Ponciano de Mattos, Valencio de Brum, até chegar aos tempos de Aral Moreira e depois de Rachid Derzi. Todos ex-prefeitos.

Em 1958 quando iniciei minhas funções de Fiscal/Avaliador do Banco do Brasil, Agência de Ponta Porã, conheci mais de perto o Coronel Lídio Lima, seus irmãos e suas terras, das quais, na época ainda detinham aquelas posses. Juntamente com Athamaryl Saldanha e Jorge Maciel da Silva vistoriei e acompanhei projetos de desenvolvimento agrário, financiados pelo Banco do Brasil naquela propriedade rural.

Com visão de futuro, Lídio Lima passou a promover uma verdadeira Reforma Agrária, ou Fundiária, loteando e vendendo diversas áreas, por preços bem abaixo do valor de mercado e com longos prazos, beneficiando inicialmente os seus trabalhadores e que já residiam naqueles locais. Então, a Gleba que na década de 1950 pertencia apenas para uma família, em 1960 contava com mais de cinqüenta proprietários.

Com o advento da Segunda Colonização Gaúcha que teve inicio em 1969/70, ali se instalaram diversas lavouras mecanizadas.
Hoje são centenas de médias propriedades altamente produtivas. Alem de um Assentamento e dois aldeamentos Indígenas.
Cortadas pela BR 463, essas terras são agora, as mais valorizadas da Região.

Decorridos mais de CEM ANOS, e com o vertiginoso crescimento populacional, a terra no Brasil passou a ser um Bem Social, considerado por governantes despreparados como única solução para sanar a fome e a miséria, daqueles que por falha governamental não receberam estudos e qualificação profissional. Eis a questão.

O atual Governo Federal que tanto prometeu e após completar oito longos anos no Poder, somente usou estes pobres brasileiros como massa de manobra política.

Eis novamente a questão.

O Direito de ir e vir está sendo desrespeitado.
O Direito dos agricultores em cultivar terras para seu sustento continua reprimido.
E o Direito sagrado dos proprietários legais perante a Constituição Brasileira, está ameaçado.

Do atual Executivo e dos Congressistas, que jogaram as denuncias do Mensalão e outros Crimes para baixo do tapete, nada mais podemos esperar.
Foi mais um Governo que não deu certo.

Produtor Rural / [email protected]

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