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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Falta alguém na guilhotina

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Artigo de Alberto Dines

A mídia está acompanhando, mas não está conseguindo flagrar e avaliar todos os desdobramentos da Operação Guilhotina desencadeada na sexta-feira (11/2) pela Secretaria da Segurança do Estado do Rio de Janeiro, Polícia Federal e Ministério Público.

Foi o maior golpe já desferido contra a corrupção policial no país: foram presos 35 agentes (civis e militares) e quatro delegados, entre eles o ex-subchefe da Polícia Civil do Rio, que até a véspera era subsecretário de ordem pública do município. O próprio chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, foi imediatamente convocado para depor na PF como testemunha. Não caiu, mas dificilmente conseguirá recompor a imagem e superar o desgaste. [N.da R.: O delegado oficializou sua renúncia ao cargo no fim da manhã de terça-feira (15/2)]

Os acusados estão envolvidos no tráfico de drogas, de armas e, sobretudo, na montagem de uma formidável rede de proteção aos barões do crime organizado.

Sem entender

A guilhotina poderia ter sido acionada antes, em seguida à espetacular operação de reconquista da Vila Cruzeiro e do Morro do Alemão, no final de novembro passado, quando só foram pegos os “pés de chinelo”.

Naquele momento de euforia, o antropólogo Luis Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública, soltou uma série de provocações para sacudir a mídia da perigosa simplificação que reduzia a questão da segurança ao confronto policial versus bandido. Para ele, o crime organizado não está apenas nos morros e favelas do Rio; está em São Paulo, Curitiba, no elaborado sistema de lavagem de dinheiro dos paraísos fiscais e nos esquemas de corrupção no aparelho do Estado brasileiro que os protegem (ver, neste Observatório, “A empáfia cega a mídia”).

A mídia não quis entender ou fingiu que não entendia as convocações de Soares. Nem se abalou em dar seguimento a uma inocente informação na primeira página do sisudo Valor Econômico – prontamente amplificada neste Observatório da Imprensa – sobre o funcionamento do LAB-LD (Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro) junto a Polícia Civil e cuja principal façanha resultara apenas na prisão da companheira do traficante Polegar (ver “Software acha ‘máquinas’ de lavar dinheiro”).

Dois meses

O pífio resultado dessa sofisticada força-tarefa evidenciava uma tremenda malfeitoria da cúpula da Polícia Civil: ao invés de localizar e prender a elite do narcotráfico e desbaratar o esquema de lavagem de dinheiro, os agentes acharam mais rentável chantagear os mafiosos.

O assunto foi tratado no programa de TV deste Observatório exibido em 7/12/2010 (ver “Os poderosos chefões”), quando a grande mídia foi insistentemente cobrada. Continuou inabalável e imóvel.

O LAB-LD da Polícia Civil do Rio não mereceu qualquer atenção além da discreta matéria do Valor Econômico. Nosso jornalismo investigativo só trabalha com vazamentos – e como nada vazou, ninguém se mexeu e nada foi apurado.

Dois meses depois está evidente que os capi do narcotráfico escaparam do cerco. Resta o consolo de ver guilhotinado o esquema de corrupção da Polícia Civil que os chantageou e depois liberou.

Esta é uma história que deveria ter sido contada pela mídia. E não pelos seus críticos.

Observatório da Imprensa

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