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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Dilma e o Abaporu

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Artigo de Paulo Renato Coelho Netto

Ao apresentar no Palácio do Itamaraty o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, ao presidente americano Barack Obama, durante sua visita a Brasília, a nova presidente do Brasil deixou claro que seu estilo é diferente de seu antecessor.

A obra de arte, pintada em óleo sobre tela, é uma referência de Tarsila do Amaral à antropofagia modernista, movimento cultural do qual fez parte na década de 20 em São Paulo, juntamente com o marido Oswald de Andrade. A antropofagia modernista visava engolir a cultura estrangeira e adaptá-la à realidade brasileira.

Foi o que aconteceu na visita de Obama ao Brasil, uma das raras vezes que um presidente americano conheceu um presidente brasileiro fora da Casa Branca, em Washington, logo após a eleição do colega sul-americano.
Abaporu pertence ao acervo do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba) e veio da Argentina ao Brasil a pedido de Dilma Rousseff para integrar a mostra “Mulheres artistas e brasileiras – Produção do Século 20”. A tela é avaliada em US$ 10 milhões.

No Planalto, atribui-se a visita de Obama [19 e 20 de março] a Dilma Rousseff ao reconhecimento dos gestos mais democráticos da presidente se comparados aos de Lula.

Entre eles, Dilma ter tomado distância do ditador iraniano Marmud Armadinejad que Lula defendia, assim como o fazia com chefes de Estado do porte de Hugo Chávez (Venezuela), Fidel Castro (Cuba) e Evo Morales (Bolívia).

A visita de Barack Obama ao Brasil e a popularidade em alta e subindo de Dilma Rousseff caíram como luvas para a presidente marcar seus primeiros noventa dias no poder.
Barack Obama declarou ainda em Brasília que sob o governo Dilma a Casa Branca vai ter que dispensar a mesma atenção ao Brasil como faz atualmente com a China e a Índia.

Até aí nenhuma novidade sendo que o Brasil faz parte do BRIC, sigla que se refere ao Brasil, Rússia, Índia e China, países com economia em ascensão.

De acordo com pesquisa CNI/Ibope, publicada no início de abril, ao completar três meses de governo a gestão Dilma é aprovada por 73% dos brasileiros, mais que Lula e FHC nos primeiros meses de poder.
Lula nunca escondeu de ninguém que quer ser presidente de novo. Deixou Brasília se queixando que não teria o que fazer e que sua agenda inicial seria frequentar estádios de futebol e incomodar sua esposa em São Bernardo do Campo (SP).

O mundo gira e a imagem positiva de Dilma Rousseff pode fazer água nos planos de Lula.

Isso sem mencionar que o escândalo do suposto mensalão do PT, sob a presidência de Luiz Inácio, ainda volta às páginas dos principais jornais e revistas do Brasil. Escândalo que o ex-presidente afirma não saber de nada.
Se a presidente Dilma continuar trabalhando assim, surpreendendo a todos e em especial a direita brasileira, onde se encontram a maioria dos empresários, industriais, banqueiros e o dinheiro que financia campanhas, dificilmente o projeto de Lula pode se realizar.

Fora isso, levando-se em conta que não se sabe mais fazer oposição neste país e que o PMDB se sente confortável como aliado político do governo, só por milagre o PT perderá o poder nos próximos anos.

Cabe uma pergunta: onde está a dificuldade em se fazer oposição no Brasil onde praticamente tudo está errado?

Na essência, Lula e Dilma são imiscíveis feitos água e óleo. Ela é economista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ainda jovem estudou no Colégio Sion de Belo Horizonte, um dos mais tradicionais do país e de influência católica.

Chegou a iniciar o curso de doutorado em Economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sem defender a tese final.

Fluente em português e inglês, não é apenas por ter estudado que a presidente Dilma se difere completamente do Lula.

O melhor de tudo: Dilma é humana e poderá ser criticada.
Lula foi catapultado pelos petistas à categoria de semideus, o que o impede – segundo sua patrulha ideológica – de receber qualquer tipo de crítica. São taxados até hoje de preconceituosos os que ousam falar algo que desagrade o ex-presidente.

Lula adorava entrevistas e fazer discursos em palanques. Dilma, como toda mineira, trabalha quieta. Ficou praticamente no mais absoluto silêncio no primeiro mês de poder.

Após oito anos de governo populista, grande parcela dos brasileiros dá graças a Deus pelo fim da era Lula. Até mesmo quem é ateu.

O jornalista e produtor cultural Nelson Motta resumiu bem este sentimento: “Como é edificante ter uma presidente que não se orgulhe de sua grossura e ignorância nem deboche dos que estudaram mais. Que sensacional ter uma presidente que lê jornais e livros”.

Paulo Renato Coelho Netto é jornalista, pós-graduado em marketing. www.paulorenato.net.br

O quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral.

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