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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Artigo: E agora: você tem Fomo?

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Artigo de Priscila Lourenção

Sons de pássaros e automóveis na rua que beira minha janela enquanto escrevo. Nos interiores da pequena cidade paulista onde estou, seria óbvio dizer que o progresso técnico e tecnológico avança na velocidade astronômica da luz: lugar algum mais ficará para trás, com a internet, suas redes sociais e apêndices.

Menos óbvia é uma mais recente descoberta psicológica, derivada das novas relações que estabelecemos com os outros e conosco mesmo. Trata-se de Fomo, em inglês , “Feelings of missing out”, algo como “Sentimentos de estar por fora”. Em resumo: sentir-se excluído das divertidas, imensas e também astronômicas possibilidades de entretenimento no mundo moderno.

Ao ler artigo de Jenna Wortham no New York Times do ultimo dia 9, meus olhos saltaram para a tela do computador: Seria um exagero, mais uma dessas descobertas médicas contemporâneas e pós-modernas da psicologia atual, que tentam enxergar, no ser humano e em seu comportamento, doenças de inúmeros e diferentes nomes?

Não sei se mais alguém, mas confesso que apesar de domingo, lá no intimozinho do meu travesseiro, o medo ou a culpa de me arrepender me assombra sempre que saio ou não de casa. É realmente algo da era moderna que se estenda a todos nós?

Pois ter Fomo (ou, melhor, sentir-se com Fomo) tem a ver com lidar com o montante de informações com as quais somos todo dia bombardeados. Isso também é moderno e inegável. Bombardeados, porém ainda vivos. A questão agora é como selecioná-las melhor, excluir as mensagens supérfluas mais rápido, algo que quase nunca conseguimos fazer. O filtro, que também agora é outro, estaria apenas no esforço individual, na força de vontade física e emocional de cada um de nós, no poder de escolha enquanto consumidores de informação?

Segundo Dan Ariely, professor de psicologia da Duke University, diagnosta do novo fenômeno e entrevistado por Jenna, o indivíduo vítima de Fomo é atingido por um sentimento de desapontamento e até rancor. Ele surge quando se frustra a necessidade de sempre saber como, quando, onde (algumas vezes faltando o “porque”) das novidades, das informações, dos acontecimentos, que se encontram nesse playground de possibilidades no mundo digital.

É fácil reconhecer que a descoberta de Ariely apresenta semelhanças com uma interpretação, dada por Slavoj Zizek, a ideia de Lacan: a necessidade obrigatória do gozo, do divertir-se a qualquer custo, a qualquer preço, não importa como.

Talvez apenas os sentimentos possam explicar se isso realmente nos atinge. Nos sentimos obrigados a nos divertir em alguma festa, a estar na rua, a ter a companhia de um amigo, obrigatoriamente as gargalhadas?

A questão que fica é: vivemos genuinamente todos os nossos instantes, ou apenas queremos estar presentes, não ser deixados do lado de fora da janela? Por se sentir obrigatoriamente assim? É uma sensação contraditória, mas comum.

Talvez o Fomo seja apenas mais um dos preços que pagamos, no variado mercado mundial de desejos, para estar inseridos em quase tudo. Um preço alto, quando afeta diretamente a nossa saúde e o modo saudável que interpretamos e vivemos o mundo.

  • Priscila Lourenção é colaboradora do portal Outras Palavras

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