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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Marçal de Souza: memória de um guerreiro

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Artigo de Osni Dias · São Paulo, SP

Marçal: “sou marcado para morrer, mas por uma causa justa a gente morre”

Após mais de 25 anos de sua morte (25/11/1983), o líder guarani Marçal de Souza Tupã’i é lembrado pelos indígenas do Mato Grosso do Sul como um guerreiro que não foi derrotado. Em Atyguasu, grande reunião, realizada em outubro de 2008 na Aldeia Campestre no município de Antonio João, a foto do líder ocupou lugar de honra no centro da tenda improvisada onde centenas de indígenas debateram a luta dos povos Guarani e Kaiowá pela demarcação de suas terras.

Nesse mesmo local, em 1983, Marçal foi brutalmente assassinado na porta de sua casa, aos 63 anos de idade, com cinco tiros, sendo um na boca, representando simbolicamente a tentativa de alguns setores da sociedade de calarem seu discurso em prol dos direitos dos povos indígenas. Sua voz, porém, ainda pode ser ouvida nas palavras de outras lideranças que seguiram seus passos e continuam lutando não somente pelas terras que lhes pertencem por direito, mas também por dignidade e respeito.

A vocação para proferir discursos inflamados já era evidente desde que Marçal começou a pregar o evangelho, após a conclusão do curso de Liderança Cristã, em Patrocínio, Minas Gerais, com duração de três anos.

Marçal atuou também como intérprete guarani-português, tendo a oportunidade de conviver com antropólogos e cientistas sociais, como Darcy Ribeiro e Egon Shaden, o que lhe proporcionou acesso ao conhecimento científico e cultural.

Mais tarde, afastando-se da igreja presbiteriana e discordando da postura da FUNAI, passou a viver intensamente suas raízes, afirmando: “quero viver com meus patrícios, defender o sangue que corre em minhas veias”. Passou a denunciar os desmandos da FUNAI dentro da reserva indígena, a venda ilegal de madeira, erva-mate e gado, bem como a venda de índias entre 12 e 15 anos, que eram engravidadas por brancos e, como opção de fuga, escolhiam o suicídio.

Marçal denunciou também a escravização de mão de obra indígena nas lavouras, por meio do sistema de adiantamento feito nos armazéns da companhia Matte Larangeira onde os índios, utilizando-se dos produtos antecipadamente, acabavam contraindo uma divida interminável, fato que impedia sua saída dos ervais.

Esses e outros problemas apontados por Marçal ainda são muito atuais, sendo discutidos em livro escrito pelo professor Laerte Tetila, em 1994, e também em documentário produzido por quatro jovens universitários, Ednaldo Rocha, Marcos Bonilha, Dalila Cividini e Leonardo Gordilho, que dedicaram seu trabalho de conclusão de curso ao tema. Desenvolveram um artigo científico, inscreveram-se em um Festival de Vídeo e receberam duas premiações pelo trabalho, em duas competições universitárias.

Essa repercussão confirma que a história deste mito não será esquecida e que não se restringe somente a Dourados ou ao estado sul-mato-grossense. Essa é uma luta de todos os povos indígenas e de todos os brasileiros. É a memória de um homem que lutou por direitos, pelo povo índio e pela raça humana.

Enviado por Cleber de Araújo Arantes: Professor graduado em História pela UEMS/Amambai, especialista em História do Brasil pelas Faculdades Adventistas e Mestrando em Educação pela UFGD/Dourados

Foto: Maria Helena Brancher - arquivo CIMI

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