Artigo de R. Ney Magalhães
O S.P.I., Serviço de Proteção aos Índios que eu conheci na minha infância dedicava-se especialmente na defesa da saúde indígena.
Vacinações e outros tratamentos preventivos de saúde eram as funções principais do Inspetor Regional senhor Rafael Bandeira e seus auxiliares.
Nas proximidades da esquina da Tiradentes com a Avenida Brasil em Ponta Porã estavam localizados o escritório e a residência do Sertanista que era o chefe daqueles Serviços Federais.
Então, quando ainda criança eu admirava as enormes CARRÊTAS com três ou quatro juntas de Bois que acampavam ao lado da Lagoa nas proximidades do Colégio Mendes Gonçalves.
Era o meio de transporte de Mantimentos e Medicamentos que seriam encaminhados para a ALDEIA TAQUAPIRY lá nas proximidades do Distrito do Antonio João, hoje Município de Coronel Sapucaia. Este era o maior aldeamento Indígena que conhecíamos.
Alem dessa Reserva, no então Distrito de UNIÃO, antiga denominação deste Municipio, existia apenas outra Aldeia com o nome de Amambaí.
Os integrantes dos aldeamentos eram conhecidos como Índios Guaranis, ou melhor, como Indígenas Guarany.
Ao longo dos anos aqueles serviços de proteção ao Índio foram se deteriorando e com o crescimento demográfico da população indígena os problemas foram também aumentando.
Atualmente os Órgãos Federais que atuam em nossa Região, me parecem absolutamente fora do fóco que necessariamente deveriam estar.
Naturalmente que com o aumento da população a luta por mais Terra é uma das Bandeiras, mas não a única, e talvez não seja a mais importante.
Considero a população indígena de nossa Região muito diferente das outras do País.
Aqui, os guaranis foram nos idos de 1950 quase que totalmente integrados com os habitantes “chamados brancos”.
Sua mão de obra para as atividades ERVATEIRAS era valiosa e seus serviços melhor remunerados do que para os paraguaios ou de outros nativos regionais.
A aptidão para as outras atividades produtivas, como a roçada e derrubada de Matas muito requisitadas na época, valorizava os “guaranis”, que eram os preferidos dos empresários formadores de Pastagens Artificiais.
Os Índios portanto tinham vida própria e lutavam no dia a dia pela manutenção de suas famílias.
Homens importantes de Amambaí muito contribuíram para aquela integração e independência.
Merece menção especial o Delegado e depois Prefeito Alcino Franco Machado, meu amigo particular o PEQUENO, um líder Político que perseguia a total integração daqueles trabalhadores diferenciados.
Possuidores de um potencial de mão de obra altamente produtivo eram muito requisitados e naturalmente proporcionando “lucros” para os Patrões, não acontecia a discriminação observada nos dias atuais.
As Escolas construídas nas Aldeias preparavam as crianças, não havia índio analfabeto em Amambaí.
Os Ex-Prefeitos Eron da Rosa Brum, Ernesto Vargas Batista e Orlando Viol também foram incansáveis na construção e manutenção das Escolas nas Aldeias.
A conquista alcançou seu ápice quando Amambaí chegou a eleger dois vereadores Índios em uma mesma Legislatura.
Os tempos mudaram. A exploração da Erva-Mate e a Formação de Pastagens em derrubada de Matas foram extintas de nossa Região.
Os Índios estavam preparados apenas para aquelas atividades.
E para acompanhar o Desenvolvimento Rural os Governos não se preocuparam em preparar essa mão de obra, qualificando esse enorme potencial produtivo, que ficou abandonado a própria sorte.
Aos Índios não restou nem mesmo a alternativa da Caça e Pesca, descartadas pelo avanço da civilização e do Progresso.
E para completar o quadro de abandono, os últimos Governos resolveram desapropriar criminosamente “terras produtivas” e geradoras de empregos em nossa Região, assim eliminando a galinha dos Ovos de Ouro.
Auxílios chamados de Bolsas são paliativos que estão levando perigosamente essa população para a ociosidade e criminalidade.
Nossos jovens irmãos indígenas precisam com urgência é de Escolas Profissionalizantes. O único caminho.
Artigo reeditado em homenagem ao Dia do Índio.
Produtor Rural em Amambaí
[email protected]