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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

A Homossexualidade e a Religião

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Por Vitor Guidotti

O que surgiu primeiro? A religião ou a homossexualidade? Pergunta essa que poderá exemplificar e promover o entendimento do texto. Bom seria se a dúvida e a necessidade fosse apenas desvendar a resposta deste questionamento, porém, infelizmente, um rapaz há uns dias atrás levou 30 facadas por possuir genes diferenciados de outros rapazes que perambulavam pela rua.

A homossexualidade é a atração sexual pelo membro da mesma espécie que possui o mesmo sexo. Utilizei a palavra espécie justamente para dizer que não existem apenas homossexuais na raça humana, isso a biologia e a etologia já descobriram há tempos, explicações para esses fatos são encontrados em trabalhos de grandes pesquisadores como o do biólogo Bruce Bagemihl, que comprovou que o comportamento homossexual é uma normalidade presente na natureza. O que podemos comprovar com bases nesses estudos, segundo o autor Colin Spencer é que: “Em fim, a homossexualidade no reino animal é uma prática natural, sendo assim, é de se pensar que o mesmo ocorra com o homem”.

Questiona-se então – já que a pratica homossexual presente nos animais é certamente prejudicial para a reprodução da espécie – qual é o motivo da existência da homossexualidade nos animais? Felizmente, por meio de estudos científicos, alguns autores conseguiram algumas respostas. O autor Robert Wallace, em seu livro O Sexo entre os Animais cita que:
“O sexo, mesmo entre muitas espécies animais, não visa exclusivamente à procriação, e que muitos animais copulam fora do período fértil, documentando se a prática de relações entre animais do mesmo sexo em mais de trezentas espécies do reino animal”.

Evidências científicas sobre animais homossexuais existem em abundância, basta pesquisar no site de pesquisa Google e você irá encontrar cerca de dezessete milhões de conteúdos disponíveis entre notícias, vídeos, artigos e documentários. Nota-se então o vasto conhecimento e a forte confirmação da evidência sobre esse fato.

Retorna-se então a pergunta que da inicio a esse texto, com um pouco mais de leitura a respeito. Uma pessoa que possui pouco conhecimento sobre biologia sabe que se o comportamento homossexual está presente na natureza e é algo normal, sabe também que essa característica é transmitida pelos genes das espécies, em busca da perpetuação da mesma, e quando se diz tal afirmação vale lembrar que uma mutação genética, ou melhor, uma variância genética para resistir à seleção natural existente na batalha da evolução não nasce de um dia para o outro, ou melhor, de um milênio para o outro. O que quero dizer aqui é que os genes homossexuais são existentes a milhares de anos, perpetuados naturalmente pelos genes das espécies que possuem tal característica. Confirmado pelo pesquisador Colin Spencer, em seu livro Homossexualidade: Uma História:
“A verdade é que, seja ele um ato instintivo ou não, a existência da homossexualidade remonta desde os primórdios da humanidade. Em um estudo detalhado de antropólogos a cerca da homossexualidade, revelou a prática de rituais homossexuais a mais ou menos 10.000 atrás.”

Embora seja difícil realizar estudos genéticos a respeito da homossexualidade, Mayana Zatz, pós-doutora em genética humana e médica, em uma entrevista com a revista VEJA, perguntada a respeito se a homossexualidade era uma anomalia genética respondeu:
“Na minha opinião, certamente não. Para quem é heterossexual às vezes é difícil entender, mas o fato de observar-se um comportamento semelhante em animais sugere também que existe uma predisposição genética. Eles não sabem o que a sociedade espera deles, o que é considerado “certo” ou “errado”. É interessante que em camundongos já foi observado que há um aumento de homossexualismo quando há uma superpopulação – talvez uma forma da natureza de controlar a explosão populacional”.

A principio, a pergunta do inicio está respondida, pelo menos considerando a religião cristã, que afirma que a Terra possui cerca de dez mil anos. E é da religião que devemos tratar, pois não se conhece outra ideologia que defende tão ferozmente que a homossexualidade é um defeito humano digno de uma passagem livre para a condenação infinita no inferno. Segundo Carlos Moreira Filho e Daniela Martins Madrid, no artigo de suas autorias chamado A Homossexualidade e a sua História, a religião cristã, desde o seu principio, condenava aqueles que mantinham práticas sexuais com pessoas do mesmo sexo com castigos que vão desde o banimento da igreja, quando relacionados a padres, até a queima na fogueira, para simples cidadãos.
Nota-se então a grande falta de conhecimento científico por parte dessa ideologia religiosa, propagando suas idéias totalitárias, que não possuíam sequer alguma base científica, aplicando seus pensamentos pela justificativa das vontades inspiradas por um ser divino. Não vejo outra palavra a não ser crueldade – se considerarmos a existência do deus cristão -, para denominar essa divindade venerada pelos cristãos, que tem a capacidade de criar algo que vai contra os preceitos de suas leis divinas, aplicando-as, ainda, a pessoas que ao nascerem, tinham seus destinos marcados no fogo do castigo eterno, lembrando que hoje temos a evidência que é naturalmente biológico carregar genes homossexuais.
A idéia de livre arbítrio, por mais que Nietzsche e Schopenhauer tenham a derrubado – considerando o livre arbítrio de natureza religiosa, tendo em vista que o termo é empregado com outro significado de cunho filosófico –, poderá vir como argumento do cristianismo, então, se ainda persistir esse argumento, recorrer a leituras complementares a respeito será uma boa escolha, como obras de Epícuro.

Hoje em dia, é aterrorizante concluir que o mesmo pensamento errôneo de mil anos atrás é encontrado tão facilmente encontrado na maioria da população. Por mais que o governo brasileiro, algumas universidades e outros grupos em favor do respeito à homossexualidade tenham combatido esse preconceito, não é difícil termos noticias como “Jovem de 16 anos é morta em crime homofóbico em Goiás” ou “Homossexual é Morto a Facadas em Itabuna”, retratando apenas alguns exemplos de crimes homofóbicos.

Não obstante, é comum a pregação em Igrejas, especialmente por padres e pastore que o comportamento homossexual é um crime contra as leis divinas. Estes representantes religiosos, com grande capacidade de influência, estão dizendo que é errado tal comportamento. Até mesmo o maior representante da religião católica, Joseph Ratzinger afirma que “o homossexualismo é a destruição do trabalho de Deus”. Richard Dawkins, em seu livro Deus, Um Delírio afirma que os representantes religiosos possuem discordância sobre o homossexualismo:
“O pastor Fred Phelps, da Igreja Batista de Westboro, é outro religioso que tem uma antipatia obsessiva pelos homossexuais. Quando a viúva de Martin Luther King morreu, o pastor Fred organizou um piquete no enterro dela, proclamando: Deus Odeia Bichas e Quem Ajuda Bichas”.

Dawkins ainda indica que pessoas como o pastor Fred Phelps e o seu conceito sobre homossexualidade pode influenciar uma gama de pessoas:
“Segundo seu site, Phelps organizou 22 mil manifestações anti-homossexuais desde 1991 (isso da uma média de quatro por dia) nos Estados Unidos, no Canadá, na Jordânia e no Iraque, com slogans como: GRAÇAS A DEUS PELA AIDS. Um recurso especialmente encantador de seu site é a contagem automática de há quantos dias um determinado homossexual, identificado pelo nome e já morto, está queimando no inferno”.

Atualmente, um representante político da sociedade brasileira, Jair Bolsonaro, é a imagem do racismo e do preconceito. Bolsonaro está famoso por dizer em público suas opiniões a respeito da homossexualidade. Traços de homofobia são marcantes em seus dizeres, até mesmo está sendo processado por racismo. Certamente era de se esperar esse posicionamento de um cristão conservador e defensor da ditadura militar. Como o mesmo saberia que sua opinião a respeito da homossexualidade exibida para a sociedade brasileira poderia deixá-lo com uma má reputação, teve a capacidade de colocar em seu site um plano do governo sobre defesa dos direitos humanos, incluindo homossexuais. Certamente em vão, pois suas palavras ditas anteriormente exemplificam bem o seu perfil preconceituoso.

Por fim, compreender o porquê dessa perseguição religiosa pela homossexualidade é um desafio, por mais que seja um tabu e esteja elencado como um dos temas que vão contra os preceitos cristãos, ignorar evidências científicas a respeito deste assunto é algo tremendamente inaceitável. Vale lembrar que a não aceitação dessa naturalidade no meio social cria apenas a violência, o preconceito e a exclusão social. Infelizmente a luta pela quebra desse preconceito está culminada a fracassar, contando que essa ideologia homofóbica esta sendo investida por políticos e representantes religiosos. Resta-nos pensar o porquê de existir o repúdio por pessoas que simplesmente nasceram com o comportamento sexual diferenciado, haja vista que já está bem explicito que é natural possuir tal comportamento. Simplesmente condenar pessoas por intermédio de uma crença não é o melhor a ser feito, sobretudo porque um dos ensinamentos básicos do próprio cristianismo reside na máxima: “Amar o próximo como a ti mesmo”.

Vitor Guidotti é acadêmico de Administração

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