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sábado, 23 de novembro de 2024

Adolescente que matou 4 diz que pena para “menor” é muito branda

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Garoto afirma que todas as mortes tiveram motivo e não arrependimento

Consciente de seus crimes, o adolescente de 17 anos recapturado na noite de ontem (26), pelos policiais da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento a Infância e Juventude), após fuga da Unei (Unidade de Internação Educacional) Dom Bosco afirma que a certeza do pouco tempo de detenção aumenta a vontade de praticar mais roubos, homicídios e outros diversos atos que, segundo ele, são sinônimos de aproveitar a vida.

“Falaram pra mim quando eu tinha 14 anos e eu falaria também: aproveita enquanto é de menor, curte a vida, toca o terror mesmo. Você é de menor, aproveita mete bala agora porque depois é prisão e pena de verdade”, diz.

Para ele, a satisfação de eliminar um de seus inimigos é maior do que a pena branda que lhe será aplicada.

O garoto tem passagens pela polícia desde os 14 anos, sendo quatro por homicídios. Ele também é fichado por diversos roubos, inclusive a malotes, além de três tentativas de homicídio.

Ele é apontado como o líder da fuga de oito adolescentes da Unei, na madrugada de segunda-feira (23) e considerado o de mais alta periculosidade entre os fugitivos.

Mesmo tendo sido internado por ao menos três vezes na Unei para cumprir medida sócio-educativa pelos homicídios, o adolescente diz nunca ter ficado mais de seis meses em cada temporada na Unidade.

“Se da primeira vez que fui preso tivesse ficado até os 18 era melhor. O que adiantou ser preso e solto, se meses depois eu tava lá de novo. Se o menor soubesse que ia ficar lá até os 18 anos ia pensar mais antes. E depois, quando fosse de maior, a lei é outra”, diz.

Prova disso, segundo o garoto, é o alto índice de reincidência dentro da Unei. “Vai lá fazer uma entrevista e pergunta quem é primário. Se de 70 tiver 20, é muito. Tem muleque que está lá pela oitava vez”, afirma.

Com seus direitos na ponta da língua, o adolescente é categórico ao dizer que vai tentar fugir novamente da Unei. Ele sabe que até completar 21 anos vai voltar para a Unidade e cumprir a medida como menor de idade. O adolescente irá completar 18 anos no dia 17 de junho.

Ele conclui dizendo que “falam que menor é fofo, mas é nada. Não tem nenhum fofo lá na Unei não”, diz.

Assassinatos – A primeira passagem policial do garoto aconteceu em 2007, quando em meio a uma briga de gangues o adolescente se envolveu na morte de uma criança de 10 anos, portadora de síndrome de down.

A vítima estava com a família em uma pizzaria no bairro Santa Carmélia e foi atingida por um dos disparos feitos pelos jovens. Sobre esse crime, o garoto garante não ser o autor.

“Não matei a menina não, não tenho nada a ver. Nem estava armado nesse dia, mas tava lá no meio da briga com a gangue rival”, diz.

Já os outros três homicídios, o adolescente não só confessa a autoria, mas também conta detalhes de como matou as vítimas e aponta motivos para cada uma das mortes, sem nenhum arrependimento.

No final de 2009, o garoto lembra que atirou contra um rapaz após ele ter mexido com sua namorada. “Estava passando com ela e ele folgou, veio mexer com ela, aí eu estava armado e atirei. Mas não achei que ia matar”, diz.

Cerca de um ano depois, em dezembro de 2010, o assassinato foi motivado por vingança a um roubo na casa do pai, ocorrido em maio de 2009. Segundo o garoto, vários adolescentes de uma gangue rival, do bairro Santa Carmélia, invadiram a residência para bater e roubar sua família.

“Demorou, mas esbarrei com o cara e aí matei ele. Sabe como é, a gente vai se esbarrando pelas vias. Dei quatro tiros na cara”, conta.

Também como acerto de contas, o adolescente matou com três tiros o jovem Kleber de Oliveira Teles, de 26 anos, em março deste ano, no Clube Ypê. O garoto conta que na verdade queria matar outra pessoa, que estava junto com Kleber, mas como a vítima “encrencou” acabou sendo assassinada.

“Mas eu ainda quero matar o outro”, diz.

Para ele, os assassinatos sempre tiveram motivos e por isso não resta nenhum arrependimento. “Depois que morre vira santo, mas eles arrumaram a briga também, não sou de arrumar briga com qualquer um”, afirma.

Questionado sobre como é ter a lembrança nítida dos assassinatos na memória, o garoto diz que não pensa nisso e também não sabe se acredita em Deus. “À noite eu deito e durmo, não fico pensando nisso. Eu sei que não é certo, mas também não é errado. Nunca parei pra pensar em Deus e o que isso significaria”,diz.

O adolescente afirma que geralmente anda armado e que os roubos praticados serviam para comprar novas munições e diversos objetos.

Ao contrário do perfil da maioria dos adolescentes internados na Unei, o garoto afirma não ser usuário de drogas.

Vida, mudança e planos – Em sua família, o adolescente diz não saber de nenhum parente com passagem pela polícia. Com oito irmãos e morando com o pai e a mãe, o garoto afirma que “os pais não tem nada a ver com isso” e que nunca incentivaram ou deram algum exemplo negativo que o levasse para a criminalidade.

Questionado, então, sobre de onde veio a natureza agressiva e a vontade de praticar crimes, o adolescente diz também querer saber. Mas ele conta que tudo começou na escola, com os amigos de bairro, que criavam as gangues para arrumar brigas e se auto-afirmarem.

Com a namorada de três anos – que foi motivo de ciúmes e morte em 2009 – o adolescente tem um filho de cerca de 1 ano de idade. Ele diz que ela não aprova as suas atitudes agressivas e que por várias vezes pediu para ele sair “dessa vida e ficar de boa”.

“Ela não gosta nem de sair comigo, tem medo. Ela me pediu para parar, mas eu não queria nada com nada, nem ligava pro meu filho. Queria era aproveitar enquanto era menor de idade. Nesses dias em que fiquei foragido é que fiquei mais perto do meu filho, olhei pra ele direito”, conta.

O adolescente diz que quando completar 18 anos vai mudar de cidade e “ficar numa boa, começar outra vida”.

“Se continuar aqui arrumando confusão vou ser preso de novo e aí não saio mais, a lei vai ser outra”, diz.

Mas para isso ele precisa terminar de cumprir a medida disciplinar na Unei – o que ele não quer. “Não sei por que não me deixaram solto, já vou ficar de maior e aí não vou mais ser problema deles. Tanto menor aí de 14 anos pra prenderem e pegam justo eu”, diz.

Apesar das declarações do garoto, afirmando que a pratica de crimes vai terminar aos 18 anos, a delegada titular da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento a Infância e a Juventude), Maria de Lourdes Cano, acredita que a reeducação do adolescente para a sociedade será difícil.

Isso por um único motivo, “ele parece não querer parar com os crimes”, diz a delegada.

Recaptura – O adolescente foi recapturado na noite de ontem, durante as investigações da Deaij. Ele foi encontrado na casa do cunhado, no bairro Coophatrabalho.

O local, segundo a Polícia Civil, é de difícil acesso e os policiais precisaram arrombar o cadeado do portão e pular o muro de mais de quatro metros de altura. O garoto ainda tentou resistir a apreensão fugindo para casas vizinhas, mas foi surpreendido por outros policiais em uma casa, cercada e com o reforço de cachorros.

O garoto contou que após a fuga da Unei os oito adolescentes foram para o Jardim Noroeste, onde se dividiram. Segundo a delega da Deaij, os outros garotos pediram para seguir junto com o menino apontado como líder, mas ele disse que não queria ninguém com ele, pois sabia que seria mais fácil para ser preso.

Ainda segundo a delegada, o menino pediu a ajuda do pai e chamou um moto-táxi. “A família dele apóia ele em tudo. Quando ele mata, falam que foi por algum motivo, sempre justificam os atos do garoto”, diz.

Maria de Lourdes diz que os policiais empenharam-se prioritariamente na recaptura do garoto por saber que se ele continuasse na rua iria contribuir para o aumento no número de homicídios e roubos.

Além do garoto, outros quatro fugitivos já foram recapturados.

Paula Vitorino / Campo Grande News

Garoto diz que vai fugir novamente da Unei. (Foto: João Garrigó)

Para garoto, certeza de pena branda incentiva crimes na adolescência.

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