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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Sobre os dizeres dos nossos políticos

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05/10/2011 08h47 – Atualizado em 05/10/2011 08h47

  • Vitor Hugo Rinaldini Guidotti

Em 2012 teremos as eleições para prefeitos e vereadores dos nossos municípios, um momento para refletir e analisar qual o melhor representante do povo para ocupar os cargos legislativos e executivos, estes indivíduos que caso eleitos pelo povo deverão ser condizentes com o bom andar da administração pública, buscando promover o bem coletivo da sociedade a qual foi designado a representar.

No entanto, por mais que a eleição tenha sua efetuação concreta no próximo ano, as movimentações políticas de tais concorrentes aos cargos já começam a se tornar públicas, não que estas existam a partir de agora, pois, de fato, articulações políticas não param de acontecer. No entanto, a notoriedade dos políticos aumenta pelo fruto da difusão das fontes midiáticas existentes em nossas cidades, atrelada ao tempo que se esvazia conforme o “dia D”, o dia da decisão operacional eleitoral da população, fica cada vez mais visível no nosso calendário, tornando assim a preocupação dos nossos aspirantes a representante político cada vez maior.

É neste tempo de incertezas e campanhas políticas que estes homens mostram os seus projetos, difundem as suas ideias e conversam com a sociedade, buscando assim uma aproximação maior do povo. Entretanto, nem todos são honestos com o eleitorado, apresentando projetos que não podem cumprir e proclamando falas impregnadas de mentiras e falácias.

Neste contexto, para que tenhamos uma maior capacidade de analisar os dizeres dos nossos políticos, faz-se justo pedir auxílio à filosofia, mais precisamente, sobre o estudo das falácias. João Mattar, em seu livro intitulado “Filosofia e Ética na Administração” considera a falácia como “erros de construção lógica que acabam por contaminar os raciocínios e, consequentemente, as argumentações”. Este erro lógico muitas vezes é usado como artifício pelos políticos que, aproveitando muitas vezes da inocência da população, utilizam as falácias, pois estas “são elaboradas de tal forma que acabam por ludibriar as pessoas, como se não houvesse nenhuma falha em sua construção”. Neste texto serão mostradas algumas falácias mais ocorrentes no campo político, baseadas no estudo de João Mattar, visando assim proporcionar uma melhor análise sobre o que os nossos políticos andam dizendo.

A primeira falácia, e a mais utilizada em geral, chama-se “Ad Hominem Ofensivo”, onde “ataca-se a pessoa que propõe o raciocínio, e não o raciocínio”. Um exemplo seria um político, em sua campanha ou em uma conversa com a população, dizer que tal político não é capaz de realizar um bom trabalho em um cargo público, pois este tem relações com presidiários ou não pertence a uma religião (motivos erroneamente considerados imorais pela maior parte da sociedade). Neste exemplo, o autor do argumento desqualifica a pessoa pela sua personalidade, pelo seu convívio, e não pela sua competência.

A segunda falácia chama-se “Ad Hominem Circunstancial”, e é verificada quando “ignora-se a questão da validade ou não do raciocínio do interlocutor, mas se preocupa provar que ele deve aceitar nossa argumentação por causa da situação ou circunstância”. Um exemplo seria quando um político fala para um eleitor que a situação a qual ele se encontra é precária, e que apenas votando em determinado candidato e sua vida irá melhorar. Neste exemplo, o político utiliza da precariedade circunstancial do eleitor e o chantageia, dizendo que a solução só pode ser concretizada por determinado candidato ou político.

A terceira falácia chama-se “Ad Ignorantiam” (Apelo à Ignorância), que “consiste em justificar que se aceite determinada proposição visto nunca ter sido provada a sua falsidade, ou fundamentá-la porquanto a verdade nunca tenha sido provada”. Um exemplo sobre esta falácia seria, hipoteticamente, quando um vereador exigir que se verifique uma possível fraude sobre gastos da prefeitura e, de contrapartida, outros vereadores contestarem que não se foi provado tal fraude. Neste caso, ambos estão acusando sem provas e, de fato, o melhor a se fazer é apurar o caso concretamente.

A quarta falácia chama-se “Pergunta Complexa”, e “ocorre quando determinada pergunta já assume, por conta do interlocutor, determinada posição ou resposta”. Como exemplo podemos citar as seguinte pergunta:

  • A administração pública passada errou em contratar a empresa “ConstrutoraUm” ou a empresa “ConstrutoraDois”?

Neste caso, de qualquer forma, quem proferiu tal pergunta já acusa a administração passada, propondo que de qualquer forma esta errou.

A quinta falácia chama-se “Ad Populum” (Apelo Popular), onde “procura-se utilizar a sabedoria popular, o senso comum, como justificativa de uma argumentação fraca”. Muitas vezes isso ocorre quando um político diz que sua atuação é excelente porque todo mundo o aprova, ou quando dizem que determinado político irá perder as eleições porque é o que a população está dizendo. Nos dois casos, a argumentações não possuem fundamento concreto, pois o conhecimento popular não é comprovado o suficiente para se ter como embasamento, incidindo então na falha da argumentação.

A sexta falácia chama-se “Ad Misericordiam” (Apelo à Piedade), e ocorre quando “apela-se à compaixão para que o interlocutor admita determinada argumentação”. Pode ocorrer quando um político pretende aprovar determinado projeto que implica em empréstimos financeiros além do suportado, e diz que é justificável porque estará contribuindo pela felicidade e o bem estar da população. Este caso mostra como os políticos utilizam a emoção para convencer os eleitores.

A sétima falácia chama-se “Ad Verecundiam” ou “Apelo à Autoridade”, e “ocorre quando determinada conclusão é associada à opinião de determinada autoridade”, no entanto, “quanto esta possui conhecimento e é respeitada no campo de conhecimento em questão, não existe falácia”. Um exemplo que ocorre no campo político é quando determinado candidato contrata artistas, e estes dizem que tal administração está fazendo um trabalho certo no quesito saúde e transporte, ora, tais artistas provavelmente não entendem sobre o que propagandeiam e tampouco suas falas podem ser consideradas.

A oitava falácia chama-se “Ignoratio Elenchi” ou “Conclusão Irrelevante”, e “ocorre quando se discursa sobre determinada conclusão e se espera que essa conclusão sirva de substrato para a argumentação”. Um exemplo seria quando um político acusa outro de roubar em um cargo que ocupou anteriormente, e salientar que o roubo é uma prática horrível, digna de punição. Neste exemplo o político que argumenta reforça que roubar é errado, forçando assim que os ouvintes tenham em mente que o que está sendo acusado cometeu tal ação, mas na verdade, ele não prova que o acusado realmente roubou.

A nona falácia chama-se “Homem de Palha”, onde “procura-se confundir determinada proposição com outra mais fraca, menos plausível, para então atacar essa proposição mais fraca”. Pode ocorrer, por exemplo, quando algum político é questionado a respeito de sua má administração, e este responde que a administração anterior errou em alguns pontos, que os representantes da época foram irresponsáveis e não deram conta do trabalho. Neste exemplo, o político desvirtua a pergunta com outra resposta, e começa a atacar a própria resposta que deu, tirando a atenção da pergunta inicial e argumentando sobre erros de outrem, assim não respondendo a pergunta de inicio.

A décima falácia chama-se “Impertinência”, e até mesmo o autor consultado a atribui como peculiaridade dos políticos, onde ele diz que estas falácias “são utilizadas observações que não têm relação direta com o assunto tratado para desviar a atenção da argumentação principal”, segundo João Mattar, “os políticos são reis da falácia da impertinência”. Um exemplo seria quando um político é questionado a respeito do problema da secretária de educação, e este responde que há problemas, porém a secretária de obras está atuante em seu mandato, que as obras não param de aparecer na cidade e que a construção de asfalto aumenta a cada dia. Esta falácia se parece com a falácia do Homem de Palha, no entanto, quem a comete procura ludibriar por meio de uma resposta falsa, passando então a aparência de que a resposta de inicio foi respondida, o que na verdade não ocorreu.

A décima primeira falácia e a ultima tratada neste texto é intitulada como “Jogador”, e ocorre quando se afirma que algo por não ter ocorrido recentemente tende a ocorrer logo. Um exemplo seria quando um político diz que a sua administração não atendeu as respectivas vontades da população, mas que se caso eleito, em sua próxima gestão tudo mudará e ele conseguirá atingir a meta esperada pelos seus votantes. Neste caso não há provas que isto vai ocorrer, pelo contrário, o político já tem como prova a sua má administração.

Há muitas outras falácias que podem ocorrer no campo político que não foram tratadas neste texto, porém estas formam uma boa base do que pode ser escutado em comícios, debates, sessões e reuniões, às vezes podem ocorrer sem a intenção premeditada, ou pode ocorrer com todo o intuito de enganar aqueles que ouvem. As movimentações políticas, como já dito, não param de ocorrer e desde já, nós, eleitores, devemos estar atentos as falas que os nossos candidatos e políticos proferem, permitindo assim uma melhor reflexão, análise e escolha daquele que pode passar quatro anos nos representando em um cargo público.

Referência: Mattar, João A. N.. Filosofia e ética na administração. São Paulo: Saraiva, 2006.

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