14/10/2011 17h44 – Atualizado em 14/10/2011 17h44
Por Odil Toledo Puques
Lembrança. Saudades dos tempos de Dom Aquino Corrêa. A primeira foi no Felipe[1] com a Vanderlan, depois já domaquinense, que o estudo lá era mais forte, a Virgilina, Érica e Marleninha, da segunda, terceira e quarta respectivamente.
-Em fila; do menor pro maior; meninos de um lado, meninas de outro; tomar distância; mão direita no ombro do que está a sua frente. Paaaaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnn. É pra entrar. Pan de novo. É o recreio com os pastéis da Dona Pequena. Ainda sinto o gosto esfumaçado daqueles lanches recheados de alegria e algazarra.
-Tuca.
-Tava no pido bobão.
-Respido.
-Terezinha de Jesus foi à queda foi ao chão, acudiu três cavaleiros, todos três chapéu na mão, o primeiro foi seu pai, o segundo seu irmão, o terceiro foi aquele que a Tereza deu a mão, da laranja, quero o gomo do limão quero um pedaço, da menina mais bonita quero um beijo e um abraço.’ Mas e a coragem??? Abraçá-la como??? E se ela disser não??? Meu Deus que vergonha. Mas amanhã eu abraço, ah se abraço. Mil vozes, quem entende? Da quinta em diante, vários os professores. Lembrar de todos? Impossível. Cinco matérias por dia, um mestre pra cada uma delas. Aí chegou a Professora Ida pra direção. Braba feito uma sargenta pôs ordem na casa. E tinha a Zuel e o Indalécio na Educação Física, o Padre Bonfilho no ensino religioso, a Ivone em português – esta mandou ler ‘O Cortiço’ em plena quinta série – a Viviane era história e a Selene matemática, impossível passar com ela sem recuperação.
-Fia da Puta!!!
-Fia da Puta é você.
-Vem pro pau então.
-Não te bato agora porque não quero ficar na secretaria, nem assinar o livro preto.
-Te pego na saída.
-Vamos ver.
Dali uns dias os intercolegiais, primeiro na torcida, tempos depois na quadra. E cantávamos…
-‘Oh quem vem lá, oh quem vem lá, óh quem vem lá, é o dom aquino que vai arrasar, vermelho e branco, amor profundo, é o dom aquino que enobrece o mundo.’
-‘O goleiro de cueca é uma boneca, lalalala. O goleiro de calcinha é uma gracinha, lalalala. O goleiro de batom na boca é uma bicha loca, lalaialaia.’
-É canja, é canja de galinha, coloca outro time pra jogar na nossa linha. É canja, é canja de urubu, coloca outro time, que esse já tomou…sodinha gelada é bom pra garotada, sodinha…’
Não ousaríamos tanto.
-‘O Felipe vai virar pepino e o campeão será o dom aquino.’
E éramos. Quase sempre. Mas aí só podíamos ir até a oitava, não tinha o científico lá. Tinha que mudar de escola, diziam. Mas como mudar de escola??? Nossa alma já estava plantada ali, era como mudar de time, trocar de mãe, sei lá, simplesmente impossível. Mas tinha que ser – é o futuro – diziam. Preferi ir pra Campo Grande.
[1] Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Felipe de Brum.
O autor é natural de Amambai, advogado e fundador da Associação Casa Paraguaia de Amambai.