17/10/2011 08h18 – Atualizado em 17/10/2011 08h18
- Artigo de Carlos Monteiro Alves
Nos últimos dias vimos categorias profissionais deflagrando greves que direta ou indiretamente afetaram uma grande parte da população brasileira, poucos não foram atingidos pelas greves dos Correios, já encerrada, e pela greve dos bancários que ao que tudo indica termina no inicio desta semana.
Acompanhando os desdobramentos dessas paralisações por meio de sites jornalísticos e por meio de conversas informais com diversas pessoas um fato me chamou a atenção, a quantia de criticas que as paralisações dos trabalhadores recebiam de maneira geral os comentários dirigidos as greves eram mais ou menos os seguintes: “coloquem eles para puxa enxada, ai quero ver se fazem greve!”, outro, “tem que descontar todos os dias de paralisação”.
Vale observar que os funcionários dos Correios não se negavam a repor os dias parados se negavam a aceitar o desconto na folha de pagamento, outro comentário, “não estão satisfeito vão procurar emprego na iniciativa privada”, e, especificamente para os bancários, “para que querem aumento? Pelo que sei não se sujam, não trabalham final de semana e ganham muito bem!”, outros comentários, por sua natureza desrespeitosa, não poderiam ser reproduzidos aqui.
As greves dos Correios e bancos tiveram em comum o que a maioria das greves têm, ou seja, reivindicação por melhores salários, melhores condições de trabalho e melhorias para a categoria de maneira geral, fiquei curioso em entender porque tanto ódio aos movimentos sociais, o que faz alguém discriminar um trabalhador que unido a sua classe está exercendo um direito constitucional e lutando por melhorias em sua vida?
Seria inocência de minha parte apontar um único fator como sendo a origem de todas essas criticas, talvez para se chegar as causas responsáveis por tal posicionamento seria necessário uma investigação sociológica ampla, porém, muito provavelmente tal investigação apontaria, entre outros, os fatores expostos a seguir.
Os críticos são pessoas que não conhecem a sua própria história, não possuem o entendimento de que os direitos sociais que têm, foram conquistados através de reivindicação que tem muitas semelhanças com a que assistem agora, por exemplo, direito ao voto, décimo terceiro salário, férias, licença maternidade, licença paternidade, política de cotas para negros, índios, mulheres, deficientes e etc., estabilidade no emprego, direito de ir e vir, direito a escola publica gratuita, ignoram que conquistas sociais não nos foram dadas, foram conquistadas.
Trabalhadores que se colocam contra movimentos sociais assumem a idéia de que reivindicar é coisa de arruaceiro, tal idéia só favorece aos interesses patronais, esses empregados provavelmente acreditam que os reajustes salariais que recebem são uma benevolência do empregador e que este se preocupa com seu bem estar, não percebem que o objetivo do patrão é o lucro e não melhorias na qualidade de vida de seus trabalhadores.
Outro fator que provavelmente influencie neste posicionamento é o fato de que as lutas sociais produzem resultado no médio ou longo prazo o que para algumas pessoas passa o entendimento simplista de que as manifestações sociais não produzem resultados.
A sabedoria popular diz que: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, de maneira bastante didática esse dizer resume a ação dos movimentos sociais que via de regra conquistam seus resultados através da persistência.
- Carlos Monteiro Alves é Historiador e funcionário público.