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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Nota de repúdio da UFGD à violência contra os povos indígenas no MS

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23/11/2011 16h22 – Atualizado em 23/11/2011 16h22

A Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) vem a público repudiar, com veemência, os atos de violência praticados contra as populações indígenas no MS, a exemplo do assassinato do cacique Nísio Gomes, do Acampamento Tekoha Guaiviry, de Amambai. De acordo com o jornal O Progresso, de 21 de novembro de 2011, a morte do cacique não é um caso isolado:

“A questão indígena em Mato Grosso do Sul é marcada por situações de violência. São diversos os casos que envolvem ataques e assassinatos de lideranças. O líder guarani Marçal de Souza foi uma das primeiras lideranças indígenas mortas em MS. Em 1983, ele foi brutalmente assassinado na porta de sua casa, aos 63 anos de idade, com cinco tiros. Marçal denunciou na época os desmandos da Funai dentro da reserva indígena, o comércio ilegal de madeira, erva-mate e gado, bem como a venda de índias entre 12 e 15 anos, que eram engravidadas por brancos e, como opção de fuga, escolhiam o suicídio.

Outra importante liderança morta foi o guarani-caiuá Marcos Veron, em 2003. Um dos filhos dele quase foi queimado vivo. Já a filha, grávida de sete meses, foi espancada. Veron foi agredido com socos, pontapés e coronhadas de espingarda na cabeça e morreu por traumatismo craniano. O crime foi praticado por seguranças de uma fazenda, em Juti.

Em setembro deste ano, índios do acampamento Puelito Kue – em Iguatemi, também no sul de Mato Grosso do Sul – foram atacados por homens armados. Vários indígenas ficaram feridos e o acampamento, às margens de uma estrada vicinal, foi totalmente destruído.

Curral do Arame – Em setembro de 2009, os guarani-kaiowá de Curral do Arame, na BR 463, a 10 km de Dourados, foram agredidos por um grupo de homens que entrou no acampamento, atirando em direção aos barracos. Um índio de 62 anos foi ferido por tiros, outros indígenas agredidos e barracos e objetos foram queimados.

Ypo’i – Em 31 de outubro de 2009 os professores indígenas Jenivaldo Vera e Rolindo Vera foram mortos durante expulsão de área reivindicada pelos indígenas como de ocupação tradicional indígena da etnia guarani-kaiowá (Tekoha Ypo´i), na Fazenda São Luiz, em Paranhos, sul do estado. Mário Vera, à época com 89 anos, recebeu pauladas nas costas, ombros e pernas. Os dois professores foram mortos e os corpos, ocultados. O corpo de Jenivaldo foi encontrado uma semana depois, em 7 de novembro, dentro no Rio Ypo´i, próximo ao local do conflito. O corpo de Rolindo não foi encontrado até hoje.

Desde 19 de agosto de 2010, os indígenas guarani-kaiowá ocupam a área de reserva legal da fazenda. Eles estão amparados por decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região – TRF3 – que cassou ordem de reintegração de posse “até a produção de prova pericial antropológica”, ou seja, os estudos que confirmem os indícios de ocupação tradicional da região por aquele grupo étnico. Segundo o Tribunal ‘existem provas de que a Fazenda São Luiz pode vir a ser demarcada como área tradicionalmente ocupada pelos índios’” (O Progresso, 21/11/2011).

A situação de violência atinge negativamente a toda sociedade sul-matogressense. Por um lado, alimenta o preconceito e a discriminação da sociedade contra os indígenas, dificultando-lhes o acesso a terra e à dignidade; por outro, há uma desvalorização de terras no mercado fundiário e uma fuga de investimentos do estado dado o clima de insegurança e instabilidade apresentado na mídia nacional e internacional. Com isso deflagra-se em toda região um clima de intolerância que desemboca em intermináveis conflitos, cada vez mais irracionais e que vitimam o grupo mais vulnerável.

Diante de todo este cenário, a UFGD vem reafirmar o compromisso com a paz, a tolerância, o convívio entre os diferentes e a diversidade de ser e existir. Reitera, portanto, o compromisso com a construção de uma sociedade democrática, justa e solidária.

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