24/12/2011 08h30 – Atualizado em 24/12/2011 08h30
Por Selvino Heck / Publicado em www.adital.com.br
Há um tempo para cada coisa. Um tempo para amar. Um tempo para a alegria. Um tempo para chorar. Um tempo imenso para viver. Outro tempo para celebrar. Um tempo para cantar vitórias. Outro tempo triste para as derrotas. Um tempo para o sonho. E o tempo todo para a utopia.
Mas a vida não se entrega. Termina, quase termina, mas não termina.
O Fiel, lá em casa de mamãe, Santa Emília, Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, viveu seu tempo. Latiu muito de noite, cuidou para que vacas e terneiros entrassem direitinho e em seus lugares no estábulo, avisou da presença de estranhos. Chegou o Totó, tão fiel e alegre quanto ele, balançando o rabo igual menino feliz com o presente. E tomou conta do pátio e da casa.
Os manifestantes no mundo cantam sua juventude e sua rebeldia: não ao dinheiro, não à hipocrisia, não ao poder sem pátria, transnacional, não às armas de guerra, não ao fim da história.
A jovem Dilma, 22 anos, hoje presidenta, e seu olhar calmo e penetrante na foto de 1970 que vai estampar camisetas e bonés, não tem medo da cadeia, da tortura, da morte, enquanto ‘eles’ tapam os olhos de vergonha. Dilma olha para frente, para o futuro. Olha para a vida, porque “a mulher é de coragem”.
Pe. Júlio Lancelotti disse outro dia: “É preciso devolver a rua aos jovens e às crianças. A rua é das crianças e dos jovens.” Lá podem sonhar, podem ser felizes, podem cantar, podem brincar sua criatividade. Nas ruas há o encontro maior, além das casas fechadas e soturnas. Nas ruas o horizonte se abre. Crianças e jovens vão em busca do horizonte, esse, como escreve Galeano, que está lá longe, nunca se alcança, mas lá está pra gente não perdê-lo de vista e persegui-lo sempre.
O nascimento é sempre uma esperança. Não só a espera do novo, do que ainda não existe. É também a esperança do inesperado, do diferente, do que vai iluminar mais vidas, fontes e águas.
A vida é esta tempestade de ideias e gestos. Cada dia um novo dia. Cada amanhecer um outro sol se apresenta, ou a chuva a abençoar e refrescar o corpo e a alma. Cada madrugada a lua alumia e encanta os amantes. Cada noite e seu sono reparador.
Somos todos iguais e tão diferentes. Eu penso, tu pensas, nós pensamos. Uma torrente de pensamentos se espraia nas dobras da manhã e caminha seus passos de sombra e luz. Juntamos nossas igualdades e diferenças, nossas verdades e silêncios, nossos humores e contrariedades e construímos a comunidade humana, que não é só humana. É também de plantas, de pássaros, de animais, de vermes, espinhos e ventos, de pingos de chuva, de laranjas e tomates, de formigas, pintassilgos e cachos de uva, de terra, folhas e flores.
E nos divertimos. É o churrasco que reúne amigos e amigas, companheiros e companheiras, o chimarrão em volta do fogão circulando de mão em mão, como a oferenda do presente que cada um quer dar ao outro e à outra, o milho cozido que torna o sabor das coisas mais forte, o queijo mineiro e seus paladares, a cachaça, o vinho, a cerveja enchendo de festa, alegria e riso os salões e as copas de futebol.
E amamos. Amamos porque é a melhor coisa do mundo. Amamos pessoas. Amamos a luta: para que a ninguém falte terra, trabalho e pão, para que a felicidade seja coletiva. Amamos o que nos une e dá sentido à existência, ao tempo e à história. Amamos o continente, seus lutadores e lutadoras. Amamos a igualdade, a justiça, o bem-viver, a fraternidade.
Anunciou Jesus: “Que todos tenham vida, vida em abundância!”
Como sempre digo e brindo: À VIDA, AO PRAZER E AO AMOR!
Feliz Natal a todas e todos de todos os quadrantes do Brasil, da América Latina e do mundo.
Em vinte e dois de dezembro de dois mil e onze.
O autor é assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República