26/01/2012 10h07 – Atualizado em 26/01/2012 10h07
Por Zélia Nolasco Freire/ O Progresso
Quantos de vocês assistiram as cenas calientes embaixo do edredom do BBB na semana passada? Com certeza, muitos. Infelizmente, por mais que não queiramos assistir quase todos os outros canais de televisão se mobilizaram em prol do ocorrido e conseguiram atingir os poucos telespectadores que tinham ficado imunes ao ocorrido. O que me chamou a atenção não foi o fato em si, mas sim, a forma como o povo reagiu a ele. Reagiram com assombro e indignação. Ficaram chocados e intimidados, dizendo que não esperavam por tamanha desfaçatez.
Lembram-se daquele ditado que diz que quando um não quer dois não brigam? Pois, é. Ali estavam envolvidas duas pessoas de sexos opostos, bem adultas por sinal. Mas, como sempre a sociedade reagiu do modo mais tradicional e esperado por uma sociedade tradicional, entenda-se, patriarcal. O homem foi o único a ser responsabilizado pelo ocorrido e a mulher se passou por vítima. Pelo menos até agora. Uma reação dessas em tempos de “Crô”??? Percebem o descompasso?
Diga a verdade, o que aconteceu já era esperado ou vocês acham que não? Avaliem bem, um programa que reúne um número determinado de pessoas e que as enclausuram em um lugar bacanérrimo, tudo do bom e do melhor, com piscina, sala de ginástica, comida e bebida à vontade. Homens e mulheres com corpos esculturais, simplesmente, para curtir a vida sem nenhuma preocupação, expondo-se de maneira premeditada para que talvez, quem sabe, caso não ganhe um milhão de reais, consiga pelo menos um trabalho na Globo ou ainda uma capa da Playboy. É tudo ou nada.
Agora, eu lhes pergunto: ficaram indignados por quê? Se isso aconteceu é porque muitos de vocês deram o aval a esse programa e não é de hoje, pois já está na 12ª edição. É isso? Viram? Como irão surpreender-lhes se não fazerem o que fizeram? A rede Globo de Televisão investe tudo para se manter no topo da audiência enquanto que o telespectador fica na espera por algo a mais. E, ainda, paga para ver. Já imaginaram quantos milhões a Globo não arrecada com as ligações em cada paredão? Como o que move o mundo são as perguntas e não as respostas, eu faço uma segunda pergunta: Vocês não têm nada melhor para fazer do que ficarem assistindo a essa BBBobageira toda? Qualquer coisa que fizerem será muito melhor do que assistir a esse tal de BBB (Big Brother Brasil). Pensem nisso.
Conhecem o escritor Afonso Henriques de Lima Barreto? Sabem quem é ele? Não? Pois, a minha sugestão é que leiam sua obra Triste Fim de Policarpo Quaresma ao invés de ficarem sentados à frente da TV, esperando o tempo passar, assistindo a esses programas alienantes que não lhes acrescentam nada de cultura e nem de conhecimento. No início de sua obra, Lima Barreto traz uma epígrafe de Renan, Marc Auréle, que diz o seguinte: “Lé grand inconveniént de la vie reéle et ce qui la rend insuportáble a l’homme supérieur, c’est qui, si l’on y transporte les principes de l’idéal, les qualités deviennent des défauts, si bien que fort souvent l’homme accompli y réussit moins bien que celui qui a pour móbiles l’egoisme ou la routine vulgaire”.
Entenderam? Não? Vejamos: a tradução é a seguinte: “O grande inconveniente da vida real e o que a torna insuportável ao homem superior é que, se transpuserem para ela os princípios do ideal, as qualidades se transformam em defeitos, de tal modo que muito frequentemente, o homem íntegro obtém menos sucesso que aquele que se motiva pelo egoísmo e pela rotina vulgar”. Aqui deixo, pelo menos, duas opções extraordinárias para preencherem o precioso tempo de vocês: aprenderem a língua francesa e conhecerem o grande escritor brasileiro da virada do século XIX. Sem falar, é claro, da urgente reflexão que a epígrafe de Renan nos obriga a fazer. Mãos à obra.