31/01/2012 10h36 – Atualizado em 31/01/2012 10h36
Por Wilson Matos da Silva
Durante três dias jovens indígenas de várias etnias e várias partes do País discutiram e ouviram painéis proferidos por especialistas do Brasil e do exterior. O tema o “O Jovem Indígena no contexto atual”. Particularmente trabalhei o tema “Direito e cidadania do jovem indígena, nosso tema foi compartilhado com o representante do MPF e outros profissionais do Direito.
O tema não deixa dúvidas, a maior preocupação como futuro dos povos indígenas está hoje depositada sobre os ombros dos jovens indígenas. Daí, a preocupação das lideranças em prepará-los como futuros guerreiros, para enfrentar a luta do dia-a-dia, na selva de pedra. Nesta selva, não é necessário flecha ou tacape é necessário a caneta; não é necessário conhecer as ervas com efeitos nocivos ou como se livrar dos animais peçonhentos, mas, é necessário o conhecimento acadêmico, para fazer frente ao fatal choque cultural.
Precisarão esses jovens guerreiros do amanhã, identificar e combater o etnocídio que é um crime que se perfaz com a omissão governamental, quando as comunidades em contato com outra cultura, a dita “civilizada”, tem a sua destruída ou corrompida por outra aparentemente superior, sem a observância de preceitos Constitucionais garantidores da alteridade.
Os nossos Jovens indígenas futuros Guerreiros, precisam buscar conhecimento acadêmico sem, no entanto, se divorciar do conhecimento milenar de nossos caciques para identificar combater a imposição forçada do processo de aculturação, ou seja a troca de nossa cultura por outra que se diz mais poderosa, mesmo que a ação seja do estado, muitas vezes travestidas de políticas públicas destinadas aos nossos povos. Combater e evitar a destruição dos valores sociais e morais tradicionais das nossas comunidades, dominadas e espoliadas há 512 anos; evitar a desintegração cultural de nossos povos, já que esta tem sido a causa do desaparecimento de vários povos indígenas na história do Brasil.
Nossos Jovens indígenas tem que se preparar para o protagonismo indígena, onde os atores possam eles mesmos a produzir as políticas públicas adequada às nossas comunidades, já que até agora as políticas públicas voltadas para os nossos povos foram sempre pensadas e elaboradas por não-índios e seus objetivos sempre foi, e é, de asilarem “pacificarem” ou transformarem as nossas sociedades ditas “primitivas” ou “atrasadas”, geralmente a pretexto da moralidade, de um ideal de progresso ou da “fatalidade evolucionista”.
Em fim os nossos guerreiros terão que combater com a caneta, qualquer AÇÃO que promove ou tende a promover a destruição de nossas etnias, já que esta destruição, não está circunscrita somente na eliminação física de indivíduo ou de grupo, mas, na ACULTURAÇÃO forçada de uma etnia ou grupo étnico, por outra cultura mais “poderosa.
A violência na disputa por terras tem aumentado dia-a-dia, dezenas de lideranças indígenas foram e ainda estão sendo assassinadas, por pistoleiros, a mando de latifundiários que se julgam “donos” das terras, com a conivência do próprio Estado. Nas Aldeias a violência cresce a níveis alarmantes; o etnocídio está sendo assistido por todos, sociedade e governo cruzam os braços diante do caos geral nas aldeias, notadamente nas de Dourados.
A falta de espaço adequado é a herança maldita que nos relegaram os grileiros travestidos de “desbravadores”. Explode hoje nas minúsculas reservas, a desgraça que massacra nosso povo dia-a-dia, em forma de fome, desnutrição, mortalidade infantil, suicídios e amontoado de índio que cresce a cada dia nas penitenciárias, são as frentes de combates que esses jovens enfrentarão com auxilio da caneta.
O autor é índio residente na Aldeia Jaguapirú, Advogado, Presidente da CEDI/OAB-Dourados, Coordenador Regional do ODIN – Centro Oeste; E-mail [email protected]