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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

No caminho da interculturalidade na universidade: rituais de brancos e índios

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06/03/2012 15h36 – Atualizado em 06/03/2012 15h36

Fonte: Caroline Maldonado

O desafio da construção de um ensino superior intercultural abraçado por algumas universidades brasileiras revela a vontade de professores e pesquisadores em se envolver e aprender com os povos indígenas e não apenas ensinar ou pesquisar suas práticas. De outra parte, nessas interações fica destacada a cordialidade das comunidades indígenas. Falamos aqui de professores doutores, mestrandos e convidados da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Estando em Mato Grosso do Sul, estes percorreram, no dia 28 de fevereiro, cerca de 500 Km até a aldeia Pirajuy, no município de Paranhos. Quem os recebeu, no dia seguinte, foi a comunidade da etnia Guarani Ñandeva. Na oportunidade, o professor Eraldo Costa, vindo da UEFS, foi homenageado pela comunidade ao ganhar um cocar, que é geralmente dedicado às autoridades políticas ou religiosas.

Em outra homenagem o cacique Norberto também recebeu um cocar. As menções honrosas do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local da UCDB foram para o cacique Duarte e o biólogo Guarani, Cajetano Vera. O encontro, finalizado com a troca de homenagens, foi para a defesa de dissertação do mestrando Cajetano, nascido em Pirajuy. Ele fez questão de dar um retorno aos parentes da comunidade que, por muitas vezes, lhe concederam entrevistas e o acompanharam e orientaram na pesquisa, sem compreender ao certo o porquê dessa atividade e de seu interesse em saber como os Guarani fazem as larvas crescer no tronco da palmeira e das suas qualidades como alimento, experimentar e confrontar os resultados com um referencial teórico, entre outras exigências dos programas de pós-graduação país afora.

Tudo isso com uma finalidade: comprovar a relevância da dissertação, por meio da defesa, que o orientador da pesquisa, Dr. Antonio Brand, classificou como “um dos rituais dos brancos”. Podemos entender o ritual como um cerimonial, um conjunto de regras a observar. O que faz com que as pessoas realizem um ritual com dedicação é o significado que ele tem para as mesmas. As homenagens trocadas revelaram a compreensão dos significados por ambas às partes.

Vemos que a vivência entre os diferentes é que afirma as identidades. O fato de estar na universidade não afasta os índios de suas culturas, pelo contrário os aproxima, em especial quando priorizam em suas pesquisas os saberes tradicionais de seu povo. Apostar no respeito à diferença parece ser o caminho para práticas interculturais na universidade, que buscam os índios ao realizar “rituais dos brancos”, na universidade e os não índios ao recebê-los nos cursos e também deslocar-se para participar dos rituais indígenas.

Aprovado pela banca examinadora, composta pelo orientador, pelos professores Dr. Eraldo Costa (UEFS) e Dr. Nádia Heusi (UFSC), Cajetano dissertou sobre a relação do consumo de larvas de besouro (mbuku) pelos Guarani, de Pirajuy, com a segurança alimentar e sustentabilidade social. Ele contou ainda com a coorientação da professora Drª Marney Cereda. Em breve sua dissertação estará disponível no site do projeto Rede de Saberes, www.rededesaberes.org. Também poderá ser encontrada na página do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local, no site www.ucdb.br.

No caminho da interculturalidade na universidade: rituais de brancos e índios

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