11/04/2012 11h13 – Atualizado em 11/04/2012 11h13
Fonte: Brasil 247
A primeira CPI é como o primeiro sutiã. Um momento transformador. Um rito de passagem. E que sempre embute dúvidas, riscos e incertezas. Por isso mesmo, como no clássico da propaganda, quando ocorre pela primeira vez, a gente nunca esquece. Desde a redemocratização, as Comissões Parlamentares de Inquérito têm abalado governos no Brasil. Com Fernando Collor, uma só bastou. Foi a CPI do esquema PC Farias, que selou seu impeachment. Com Itamar Franco, a dos “anões do orçamento” provocou grandes estragos. Fernando Henrique Cardoso estreou com a investigação dos precatórios. E a de Lula, a dos Correios, deu vazão ao maior escândalo político da história recente – o mensalão – que está prestes a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Dilma estreará com a CPI do bicheiro Carlos Cachoeira. Uma CPI aparentemente inofensiva para o governo. Mas quem conhece a rotina de Brasília sabe que CPIs nunca são inofensivas. Sabe-se como começam, mas nunca como terminam. Especialmente quando o personagem em questão é um contraventor com tentáculos tão amplos não só no mundo no político, mas também com ramificações na mídia e no Judiciário.
Cachoeira tinha como braço direito o senador Demóstenes Torres, hoje sem partido, que será um dos grandes astros da festa. Mas a investigação pode incomodar parlamentares do PSDB, como Carlos Alberto Leréia, do PT, como Rubens Otoni, do PTB, como Jovair Arantes, e do PP, como Sandes Júnior, entre muitos outros. O risco maior é que a investigação revele o trabalho que Cachoeira vinha articulando para liberar o jogo no Brasil. De acordo com um senador, ouvido pelo 247, o burburinho atual em Brasília diz respeito a uma tabela com o valor de cada deputado. Sim, Cachoeira organizava um gigantesco mensalão para alimentar a sua bancada da jogatina. Eis aí um potencial escândalo para rivalizar com o próprio mensalão.
A CPI terá também o efeito de produzir notícias diárias desde a sua instalação, que pode ocorrer ainda nesta semana, até as eleições municipais. E, com ela, muitos governistas esperam desviar o foco do julgamento do mensalão – que poderá ocorrer também no primeiro semestre deste ano. Como a CPI teve o apoio de parlamentares do PT, muitos líderes da oposição já a veem como uma manobra diversionista para fazer com que os crimes do mensalão prescrevam.
Se isso não bastasse, Carlos Cachoeira também exercia grande influência na mídia, especialmente na revista Veja, que se alimentou de vídeos e grampos ilegais produzidos por sua quadrilha. O deputado Fernando Ferro (PT/PE) já avisou que irá apresentar requerimento pela convocação de Roberto Civita, dono da Editora Abril. “Ele se associou ao crime organizado e isso não pode ficar impune”, disse ele. Nesse contexto, uma imprensa que sempre mergulhou de cabeça nas CPIs, desta vez, poderá ficar dividida. Parte irá comemorar a investigação, parte irá denunciar supostos ataques à liberdade de expressão no Brasil.
Mas como ficará o governo Dilma diante de tudo isso? Até agora, a presidente construiu uma boa imagem diante da opinião pública conduzindo sua “faxina ética”. Passa a imagem de ser uma pessoa séria, numa Brasília dominada pela corrupção. Ocorre que a CPI chega também em má hora para a presidente, uma vez que sua base de sustentação tanto na Câmara quanto no Senado encontra-se desarticulada. Quando Dilma substituiu seus líderes na Câmara (Cândido Vaccarezza) e no Senado (Romero Jucá), o que se comentava é que as velhas raposas do Congresso estariam se aninhando para pegar a presidente Dilma na próxima esquina.
Seja como for, grandes emoções nos aguardam.