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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

A raiz de toda violência

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16/04/2012 10h48 – Atualizado em 16/04/2012 10h48

Por Dom Redovino Rizzardo, cs

No dia 27 de fevereiro de 2012, segunda-feira após a semana de carnaval, numa entrevista a um jornal de São Paulo, Gilberto Gil deplorava o clima de violência que avança no Brasil, jogando por terra a imagem que, no passado, o apresentava como um país pacífico, alegre e acolhedor: «Fico chocado, abalado, agoniado, angustiado e quase deprimido com a violência que varre o Brasil».

Confirmando as palavras do músico e cantor, no mesmo dia, ao acessar um site de Dourados – a cidade onde vivo – verifiquei que todas as manchetes retratavam a mesma realidade: “Dourados registra 21 assaltos no final de semana”. “Vizinho mata dono de bar e tenta assassinar outro em Maracaju”. “Dourados: jovem tenta matar colega a golpe de canivete; vítima está em estado grave”. “Dois são presos com 13 kg de maconha que seguia para Dourados”. “Homem é flagrado vendendo droga no centro de Dourados”. “Adolescente de 17 anos esfaqueia menino de 12 durante briga”. “Onda de furtos assusta população de Dourados”. “Briga em família resulta em tentativa de homicídio”.

A partir de 1968, a humanidade começou a sofrer uma reviravolta cultural, religiosa, social, econômica e ecológica de proporções tão vastas que os profetas do fim do mundo garantem que ele acabará não por uma intervenção de Deus, mas pela ação do próprio homem. Até o Papa Bento XVI parece dar-lhes razão. Em janeiro de 2010, no discurso que pronunciou diante do corpo diplomático acreditado no Vaticano, ele declarou: «O nosso futuro e o destino do planeta estão em perigo». Poucos meses depois, no dia 13 de maio, em Fátima, reforçou a dose: «O homem conseguiu desencadear um ciclo de morte e de terror, que não consegue mais interromper».

Se a violência é a marca registrada do nosso tempo, a razão é uma só: dominado pela ânsia do ter, do poder e do prazer, o ser humano inverteu os critérios de valores e ameaça afundar num vazio existencial sem fundo e sem volta. É a constatação feita por Bento XVI: «Somos levados a substituir pontos de vista experimentados e tradicionais por tendências baratas Para o estilo de vida atual, as posições defendidas pela Igreja Católica tornam-se uma provocação insuportável».

Em seu poema “A Divina Comédia”, Dante Alighieri colocou um aviso aterrorizante sobre a porta do inferno: «Percam qualquer esperança vocês que aqui entrarem!». Da mesma forma, para o Santo Padre, é inútil sonhar um mundo diferente se não houver uma conversão pessoal e coletiva constantemente renovada. «Existem muitos problemas, e todos precisam ser resolvidos, mas não o serão se Deus não voltar a ocupar o centro e não se tornar novamente visível no mundo. O homem aspira a uma alegria sem fim, quer gozar para além de todo limite, anseia pelo infinito. No entanto, onde não há Deus, isso jamais acontece. É por isso que ele tenta criar a mentira, o falso infinito. Este é um dos sinais dos tempos que deve representar para nós, cristãos, um desafio urgente. A nossa vida deve demonstrar que o infinito que o homem precisa, vem somente de Deus; que Deus é nossa primeira necessidade para poder superar as dificuldades do nosso tempo; que é preciso mobilizar todas as forças da alma e do bem para que a verdade se imponha sobre a falsidade e, assim, se consiga romper o circuito ininterrupto do mal».

Esse “circuito ininterrupto do mal” foi magistralmente descrito por São Tiago há dois mil anos: «De onde surgem os conflitos e as rivalidades que reinam entre vocês? Não nascem das paixões que guerreiam em seus membros? Vocês cobiçam, e não conseguem possuir; então matam. Vocês invejam, e não obtêm o que buscam; então brigam e pelejam. Vocês não recebem, porque não rezam; ou, se rezam, não obtêm, porque pedem para satisfazer a seus instintos. Idólatras! Vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus?» (Tg 4,1-4).

«Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus» (Mt 18,2). Para ser feliz e realizado, o jeito é ser “pequeno”; só assim seremos carregados nos braços de Deus: «Senhor, meu coração não é orgulhoso nem arrogante o meu olhar. Não procuro grandezas nem tenho ambições. A minha alma está em paz dentro de mim, como a criança amamentada no colo da mãe» (Sl 131).

A raiz de toda violência

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