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terça-feira, 26 de novembro de 2024

O último dos bispos-políticos exerceu liderança civil e religiosa

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11/07/2012 10h49 – Atualizado em 11/07/2012 10h49

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

“Apesar de ter ajudado a criar a ala progressista da igreja, nos anos 80 dom Eugenio – já interlocutor regular do papa e membro de comissões importantes do Vaticano – usou seu poder para reverter partes fundamentais do movimento progressista”, escreve Kenneth Serbin, autor de “Diálogos na sombra: bispos e militares, tortura e justiça social na ditadura” e “Padres, celibato e conflito social” (Cia. das Letras), em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 11-07-2012.

Segundo ele, D. Eugenio “supervisionou grande parte do esforço para reduzir o radicalismo da Teologia da Libertação e de seus adeptos no país e na América Latina”.

Serbin aposta que “com o declínio do catolicismo e a transição para uma sociedade mais consumista e menos centrada no sagrado, é pouco provável que o Brasil voltará a ter indivíduos com tanto poder, prestígio e influência moral”.

Eis o artigo.

Personagem mais poderoso da Igreja Católica do Brasil moderno, dom Eugenio de Araújo Sales ajudou moldar tendências fundamentais e, com o seu estilo direto, gerou muita controvérsia.

Nos anos 50 dom Eugenio, com outros religiosos progressistas e leigos do Nordeste, promoveu transmissões de rádio para alfabetizar a população pobre que deram origem ao MEB (Movimento de Educação de Base). O MEB foi reprimido após o golpe de 1964, mas seu espírito sobreviveu nas conhecidas Comunidades Eclesiais de Base.

Embora intelectuais e religiosos de esquerda tenham criticado d. Eugênio por seu suposto apoio à ditadura, suas ações frequentemente demonstraram o contrário. Como administrador apostólico de Natal em 1964, ele foi um dos poucos bispos nas capitais a proibir comemorações religiosas de apoio ao golpe.

Enquanto progressistas como dom Hélder Câmara e dom Paulo Evaristo Arns denunciavam publicamente a tortura e a censura impostas pelo governo militar, dom Eugenio usava o respeito enorme que ele usufruía entre os generais -como resultado de seu anticomunismo e da ênfase na obediência à hierarquia – para defender os direitos humanos nos bastidores.

Apesar de ter ajudado a criar a ala progressista da igreja, nos anos 80 dom Eugenio – já interlocutor regular do papa e membro de comissões importantes do Vaticano – usou seu poder para reverter partes fundamentais do movimento progressista.

Ele supervisionou grande parte do esforço para reduzir o radicalismo da Teologia da Libertação e de seus adeptos no país e na América Latina.

Ao final, dom Eugenio será lembrado por seu patriotismo, sua defesa dos interesses da igreja e suas habilidades políticas. Sua morte sinaliza o fim de uma época em que bispos-políticos ocupavam papeis importantes de liderança no mundo religioso e público. Com o declínio do catolicismo e a transição para uma sociedade mais consumista e menos centrada no sagrado, é pouco provável que o Brasil voltará a ter indivíduos com tanto poder, prestígio e influência moral.

O último dos bispos-políticos exerceu liderança civil e religiosa

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