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terça-feira, 26 de novembro de 2024

“Não façam da religião um mercado!” (Jo 2,16)

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14/07/2012 10h35 – Atualizado em 14/07/2012 10h35

Por Dom Redovino Rizzardo, cs

Se eu fosse ateu, o meu passatempo para os dias em que tudo anda atravessado, poderia ser ligar o televisor e assistir a programas religiosos: em matéria de comicidade, alguns deles certamente não ocupariam o último lugar! De uns anos para cá, apesar do pluralismo cultural e do relativismo moral que contagiam todos os segmentos da sociedade, poucas pessoas conseguem ficar indiferentes em matéria de religião. Em alguns países, ela é temida, ao se transformar num fundamentalismo violento, que elimina quem ousa pensar diferente. Em outros, ela se esfacela e multiplica em centenas de novas denominações. É o caso do cristianismo.

Não me refiro somente às confissões evangélicas, em que pastores, ao se desentenderem com algum colega, fundam suas próprias igrejinhas, sob denominações que beiram ao esdrúxulo e ao ridículo. Penso também em algumas lideranças da Igreja Católica que desertam de seu redil, mas levam consigo conceitos, ritos, vestes e até santos da igreja-mãe. Foi assim que nasceram, entre outras, a Igreja Católica Apostólica Brasileira, a Igreja Católica Carismática, a Igreja Católica Apostólica Cristã, a Igreja Católica Apostólica Renovada e a Igreja Católica Apostólica Independente.

A confusão é tanta que, no dia 30 de novembro de 2011, «a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – cito o texto –, na defesa da verdade e da liberdade, considerou oportuno publicar a presente Nota Pastoral, destinada aos membros do episcopado, do clero, aos religiosos e a todos os fiéis leigos.

O uso de nomes, termos, símbolos e instituições próprias da Igreja Católica Apostólica Romana, por outras denominações religiosas distintas da mesma, podem gerar equívocos e confusões entre os fiéis católicos. Nestes casos, o uso da palavra “católico”, “bispo diocesano”, “vigário episcopal”, “diocese”, “clero”, “catedral”, “paróquia”, “padre”, “diácono”, “frei”, pode induzir a engano e erro. Pessoas de boa vontade podem ser levadas a frequentar tais templos, crendo que se tratam de comunidades da Igreja Católica Apostólica Romana, quando na verdade não o são.

Estas denominações, apesar de se autodenominarem “católicas”, não estão em comunhão com o Santo Padre, Papa Bento XVI, e não fazem parte da Igreja Católica Apostólica Romana. Por esta razão todos os ritos e cerimônias religiosas por eles realizadas são ilícitos para os fiéis católicos. Assim sendo, recomenda-se vivamente aos féis que não frequentem os edifícios onde eles se reúnem nem colaborem ou participem de qualquer celebração promovida por esses grupos».

Mas não são apenas essas igrejas que se apoderam do que não lhes pertence. Um número crescente de denominações pentecostais passou a adotar usos e costumes que, até poucos anos atrás, pareciam patrimônio da Igreja Católica. Surgiram bispos e bispas em dezenas de confissões religiosas, totalmente alheios à tradição eclesial, assim delineada pelo Concílio Vaticano II: «É constituído membro do Corpo Episcopal quem recebe a sagração sacramental e está em comunhão com o chefe e os membros do colégio. Assim como, por disposição de Jesus, São Pedro e os outros apóstolos constituem um único colégio apostólico, da mesma forma o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, e os Bispos, sucessores dos Apóstolos, estão unidos entre si».

Até mesmo ritos e sacramentais católicos, ridicularizados e combatidos no passado como supersticiosos – como as bênçãos e os “objetos sagrados” – retomaram a cidadania e passaram a ser oferecidos e comercializados. Há igrejas que, para engrossar suas fileiras e suas rendas, recorrem a todo tipo de expediente: passam do proselitismo ao sincretismo, prometem saúde e prosperidade, e “abençoam” casamentos e modelos de vida em aberto contraste com os postulados do Evangelho de Jesus.

Na década de 1970, causou impacto na opinião pública brasileira o livro de Délcio Monteiro de Lima: “Os Demônios descem do Norte”. Nele, com muita felicidade e rara perspicácia, o autor detecta as manipulações políticas que fomentaram a explosão das seitas no Brasil, sob o influxo do mercado internacional, com o propósito de implodir a influência da Igreja Católica na sociedade. Mas, nada há a temer, pois, como disse Gandhi, «a verdade é a única força do mundo que se impõe por si mesma».

“Não façam da religião um mercado!” (Jo 2,16)

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