17/11/2012 21h47 – Atualizado em 28/11/2012 17h23
Por Viviane Viaut Moreira
Mede-se a qualidade de uma escola pelos índices alcançados nas avaliações impostas pelos governos nas esferas estadual e federal.
Ideb, Saeb, Saems, Prova Brasil, Provinha Brasil, Enem. São vários os quantificativos atuais. De fato, os técnicos em Educação que ocupam espaço governamental têm se empenhado na elaboração de provas, avaliações e questionários.
Poderiam criar também um índice que avaliasse o grau de satisfação dos profissionais da Educação e dos educandos.
Para quem está presente no dia-a-dia de uma escola, seja como professor, coordenador, diretor ou funcionário administrativo, sabe bem o que é necessário para a Educação melhorar em nosso país.
Recursos. Enquanto as escolas tiverem que realizar eventos para angariar recursos para aquisição de bens básicos, como um bebedouro, por exemplo, falar que a educação é prioridade é balela.
Isso sem falar na ausência de dotação de recursos para pagamento de telefone, por exemplo. A telefonia móvel é garantida com o caixa da escola, abastecido pelos eventos, renda de cantinas e contribuições voluntárias.
Condições físicas dos prédios escolares. Muitas das escolas públicas estão com seus prédios comprometidos. Pintura é lenda. A ausência de investimento na estrutura física das escolas é vista a olho nu: banheiros, pátio, quadras, salas de aula, lousas, carteiras, cadeiras. Tudo foge do padrão mínimo de qualidade.
Tecnologia. Em um mundo tecnológico, muitos dos equipamentos usados nas escolas estão defasados. De tão lenta que é a internet, professores e alunos desanimam em usá-la.
Referencial curricular. A pressão das secretarias de Educação para se vencer os conteúdos impostos pelo referencial curricular chega ao extremo de tornar o ensino-aprendizagem um processo mecanizado, sem emoção.
Carga horária. A mesquinhez e intolerância dos governantes em não conceder 1/3 da jornada em horas atividades, aquelas usadas pelos professores para preparar aulas, corrigir trabalhos e provas, pesquisar, se atualizar, é algo desumano, antiprofissional, retrógado e equivocado.
Autonomia na gestão escolar. Longe de se manter autônoma, as gestões escolares precisam obedecer rigorosamente o padrão estabelecido pelas secretarias de Educação. Um padrão posto para todas as escolas da mesma rede, sem contemplar as especificidades, como público, localização, abrangência e outros.
Concurso. Mais de 50% dos professores da rede estadual de Mato Grosso do Sul são convocados. Não têm estabilidade no trabalho. Os professores concursados são minoria nas escolas. Essa situação só vem corroborar com a visão autoritária e centralizadora do governo que não tem interesse em promover a democracia, muito menos a criticidade dos profissionais. Pelo contrário, submissão, atrelamento e dependência são disseminados e cobrados dos servidores públicos estaduais.
Isso tudo sem destacar as salas de aula lotadas, para economizar em salários, e os baixos salários. Sem falar da gritante desigualdade social do país que se reflete nas condições inadequadas de vida da grande maioria dos alunos das escolas públicas ou d falta de compromisso e responsabilidade dos pais, mais preocupados em sobreviver do que em encarar a escola como algo essencial na vida de seu filho. A diversidade cultural, geográfica, étnica, religiosa, de valores, costumes e crenças que é, sem dúvida, um celeiro de proposições pedagógico-didáticas, mas também um desafio a ser vencido.
Ora, como promover a melhoria da Educação diante de um quadro negro (sem trocadilho)? Pois os professores conseguem. A equipe escolar consegue.
Por incrível que pareça, o professor é um profissional competente que faz da sua missão ser um educador. Mágico, diria. Tolerante. Sábio.
Determinado. Teimoso. Ávido por fazer do exercício da sua profissão o maior responsável por mudanças sociais. Estes sim são merecedores de créditos.
Aí quando a gente de depara com um projeto educacional, como a Feira Científica e Cultural da Escola Estadual Cel. Felipe de Brum, da rede de ensino de Amambai, que, nas palavras de uma professora, “exteriorizou toda a vida e energia positiva que faz a escola Cel. Felipe de Brum se manter ativa, mesmo perante tantos empecilhos”, fica o questionamento: pode mesmo uma estatística determinar o conceito de uma escola? Pode mesmo um índice refletir o comprometimento dos profissionais de uma escola com a Educação?
Quem visitou a Feira, quem passeou pelas salas, quem esteve na Sala de Relaxamento ou na Sala dos Sentidos ou na sala que contou tão sábia e criativamente a história da luz pode presenciar de perto a magia de um trabalho que, mesmo diante de tantos desafios, consegue ser maravilhoso.
Quem viu de perto os trabalhos artísticos, os artesanatos, as fotografias, pesquisas, instalações, conteúdos espalhados pelos quatro cantos, alunos e professores unidos em prol de um objetivo: apresentar o melhor do que se ensina e do que se aprende.
Creio que a Feira Científica e Cultural da Escola Estadual Cel. Felipe de Brum é uma resposta àqueles e àquelas pessoas que não conseguem ver adiante de um número. Que se prendem a conceitos de gabinete, que estão mal acostumadas a apenas cobrar para justificar seu cargo.
Concordo que as estatísticas servem em muito para se traçar metas, projetar ações a médio e longo prazo. Mas, de maneira alguma, devem ser os únicos medidores da Educação, muito menos da qualidade do ensino oferecido em uma escola.
Pois, se o lúdico não for mais valorizado, se a criatividade não for apreciada, se o empenho não for um critério, se o comprometimento não existir mais, então vamos fechar as portas. Cruzar os braços. Impor um índice que avalie e meça a responsabilidade dos governantes com a Educação, que julgue se, de fato e de direito, a Educação é prioridade nas esferas governamentais. Será mesmo que é prioridade?
Diante de tudo isto, fica a questão: o que classifica uma escola em melhor ou pior? Um número? Não, decididamente, não.
A autora é jornalista e professora efetiva na escola estadual Cel. Felipe de Brum