25/12/2012 09h20 – Atualizado em 25/12/2012 09h20
Fonte: Por Frei Betto
25 de dezembro de 1. Jacó acordou tarde. Chegara cansado, na véspera, da viagem que o trouxera de Cafarnaum a Belém. Viera convocado pelo recenseamento decretado pelo imperador Tibério. Cada cidadão deveria retornar a seu lugar de origem.
Para Jacó, tratava-se também de uma oportunidade de deitar uma vista d’olhos na pequena propriedade rural que mantinha nas cercanias da cidade de Davi. Ali nascera, ali nutria o sonho de terminar seus dias, longe da azáfama comercial que o prendia à Galileia.
Zacarias, o capataz, correu esbaforido em direção ao patrão, tão logo o viu espreguiçar à beira do poço em busca de água. Aguardara ansioso que Jacó despertasse. Queria, o quanto antes, colocá-lo a par do que ocorrera na propriedade ao longo da madrugada.
― Tens cara de não haver cerrado os olhos esta noite, Zacarias! – observou Jacó.
― É verdade, patrão. Tive uma noite muito atribulada.
― O que sucedeu, homem? As ovelhas romperam a cerca?
― Que nada! Já a noite ia adiantada, quando empunhei o candeeiro para verificar se tudo andava em ordem na propriedade. Eis que avistei dois vultos próximos ao curral.
― E quem eram os intrusos? Ladrões de animais? Tratou de expulsá-los?
― Era o que pretendia fazer, patrão. Mas ao me acercar do curral, vi que a mulher estava grávida e já se dobrava às dores do parto.
― O que fizeste, homem?
― Acomodei-a com o marido junto ao cocho das ovelhas. Corri à casa em busca de bacia, água quente e panos limpos. Logo ela deu à luz um lindo bebê.
― Macho ou fêmea?
― Macho, patrão.
― E passaram a noite aqui?
― Sim, e tão logo o menino nasceu surgiu no céu uma estrela tão brilhante que meu candeeiro já nem tinha precisão. E chegaram três cameleiros.
― Cameleiros! Que diabos vieram parar aqui?
― Disseram ter vindo do Oriente conduzidos pela estrela brilhante. Queriam adorar o salvador.
― Que salvador, Zacarias? Tua cabeça não te confunde por falta de sono?
― Acho que se referiam ao Messias esperado por Israel.
― Ora, então achas que o Messias viria a nós como um intruso invasor de terra alheia? Um deus sem eira nem beira?
― Não acho nada, patrão. Sei apenas que vi um dos cameleiros oferecer ao menino um punhado de ouro; outro, um pouco de incenso; e o terceiro, mirra.
― E sabes quem são os pais do menino?
― Logo que os cameleiros partiram, fui à cidade em busca de pão. Na fila do forno de Tobias, comentei sobre o casal e o parto. Neemias, a quem nada passa despercebido, me contou que o pai, um tal de Zé, é natural de Belém.
Há tempos deixou a região e se empregou como carpinteiro lá pras bandas de Nazaré, na Galileia. Andava de namoro com Maria, a mãe do bebê. O casamento nem sequer tinha sido anunciado, quando ela apareceu grávida. Neemias desconfia de que o filho talvez nem seja do próprio Zé. O fato é que este apareceu aqui atraído pelo censo e buscou abrigo em casa de seus familiares. Ao verem a barriga avantajada de Maria, seus parentes consideraram uma pouca vergonha Zé ter vindo com a moça, pois nem casamento houve. Bateram-lhes a porta na cara.
― Deve ser por isso – ponderou Jacó – que vieram parar aqui no meu terreno.
― Com certeza, patrão. A moça já chegou que não se aguentava.
― E ainda estão por aí?
― Dei feno ao burrico que montavam e, hoje cedo, partiram no rumo do Egito.
― Melhor assim, Zacarias. Receio essa gente sem terra que entra sem licença na propriedade alheia. Se a moda pega… Também vou partir, Zacarias. Sele meu cavalo. Tenho audiência com Herodes em Jerusalém. Direi a ele que o Messias nasceu em minhas terras. Garanto que se divertirá com a notícia…