05/03/2013 12h08 – Atualizado em 05/03/2013 12h08
Fonte: Da Redação
Ela é professora desde 1999, pedagoga graduada em 2004, Mestra em Educação pela UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).
Ela é mãe de três filhos, é esposa, é liderança em sua comunidade.
Exerce atualmente a coordenação da Assessoria de Educação Escolar Indígena da Semed (Secretaria Municipal de Educação) de Amambai.
Ela fala em resignificar os conceitos, dar novos significados ao que já conhecido.
Ela fala também que não é atrás de um grande homem que vem uma mulher e sim ao lado dele.
Ela reside em Amambai, na aldeia Amambai.
Ela é indígena Kaiowá, com orgulho de sua etnia.
Elda Vasque Aquino, 38, sabe bem da luta das mulheres, em especial das mulheres indígenas. A situação é similar, só muda o endereço. Sem luta e participação, não há espaço para as mulheres.
Igualdade na sociedade?
Se a mulher ocupa hoje um espaço de mais igualdade na sociedade? Difícil de dizer, fala Elda, ao mesmo tempo em que parece que é igual, se vê que também não é; a participação da mulher é menos do que a do homem, um exemplo é a Câmara de Amambai que não tem representantes mulheres.
Na aldeia
E na aldeia, como é que é esta luta? “Na aldeia, agora é que está aparecendo; a mulher vivia à sombra, mesmo que as decisões fossem tomadas pelas mulheres, mas ficava oculta, aparecia como que a decisão fosse do homem; hoje mudou um pouco, mas ainda é pouco na sociedade indígena”, analisa a professora.
Elda Vasque explica que a mentalidade dos antigos ainda é essa, onde prevalece a participação dos homens, mas, segundo ela, entre os jovens a participação é igual entre homens e mulheres.
Ela pondera que esta ascensão das mulheres indígenas é inevitável porque “é a mulher que convive direto com os problemas do dia-a-dia, até porque os homens trabalham fora da aldeia”. Por outro lado, Elda sabe também que o espaço existe, mas para ser ocupado pela mulher, ela tem que participar, seja na sociedade índia ou não índia.
Discriminação
Sobre discriminação, sim, ela já se sentiu discriminada. Além de ser mulher, a mulher índia tem aparência e a língua diferentes. “A mulher amambaiense discrimina a mulher indígena; só de olhar a aparência a pessoa já discrimina (…) às vezes a gente fala uma coisa e é interpretada errada”, diz Elda.
Política
Ela foi candidata a vereadora nas últimas eleições municipais pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). Conquistou 458 votos, mas não foi eleita. “Tenho certeza que não consegui entrar na Câmara porque não tenho o poder aquisitivo para competir de igual por igual e também porque sou muito leiga na política, nem discursar sabia”, avalia ela.
Além disso, continua, apesar de participar sempre da política, eu tenho medo de prometer e não cumprir, pois isso para o índio é muito sério. “A política não é do jeito que a gente vê de fora”, confessa Elda.
Resignificar
Resignificar é dar novos significados ao que já conhecido. “A sociedade precisa ser menos preconceituosa, valorizar de igual para igual; mulher não serve só para cuidar da casa e procriar (…) a gente tem capacidade; a mulher não é menos do que o homem, quando a mulher pega um trabalho para fazer, leva-o com muita seriedade”, proclama a professora mestra.
Ela mesma está resignificando; quebrou o paradigma da cultura indígena de ter muitos filhos. Sua mãe teve 10, Elda teve três.
E continua: “A mentalidade dos mais antigos é difícil de ser mudada, mas os jovens sabem que têm que acompanhar as mudanças, sem deixar de ser índio”.
EducaçãoA escola pode ser a porta para a valorização da diversidade cultural, de gênero, étnica e outras. “A educação é uma grande parceira”, fala Elda. Ela avalia que “a escola foi uma grande ferramenta para nós [as mulheres]; os homens não estão mais machistas”.
“Isto tudo que eu tenho que mostrar, minha história de vida pode ser uma influência positiva para a sociedade, não só a amambaiense”, conclui, com sabedoria, Elda Vasque Aquino.