12/05/2013 09h30 – Atualizado em 12/05/2013 09h30
Alcoolismo entre as mulheres: um mal que começa a aparecer
Por: Geraldo Resende
Em maio de 2011, me pronunciei sobre a primeira semana de trabalhos da Comissão destinada a analisar as razões para o aumento do consumo abusivo de bebidas alcoólicas no País, a Comissão Especial Destinada a analisar as causas e consequências para o consumo abusivo de álcool – CÁLCOOL, a qual presidi. Na oportunidade alertei para o caso específico das mulheres alcoólatras, fenômeno recente que começa aparecer nos dados estatísticos.
Segundo a reportagem do jornal Folha de São Paulo publicada no último dia 10, quarta-feira, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas por mulheres cresceu 24% nos últimos seis anos. As mulheres estão bebendo mais e com mais frequência. A porcentagem de mulheres que bebem com exagero passou de 15% para 18,5%, de 2006 a 2012.
Esses dados foram levantados em uma pesquisa nacional realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A coleta de informações foi realizada com 4.607 mulheres com idade igual ou superior a 14 anos, dessas, 1.157 são adolescentes. Em 2011, proferi a mesma frase que o professor de psiquiatria titular da Unifesp Ronaldo Laranjeira afirmou na semana passada, “as mulheres estão bebendo tanto quanto os homens”.
O critério utilizado é o de mulheres que ingerem quatro doses ou mais em um intervalo de duas horas, cada unidade de bebida alcoólica é referente a uma latinha de cerveja, uma dose de vodka, ou uma taça de vinho. Em relação à ambos os sexos o aumento de consumidores com esse perfil foi de 31%, já o daqueles que bebem uma ou mais vezes por semana aumentou 20%.
O número de pessoas que afirmam já terem passado por situações, quando não conseguiam parar de beber pelo menos uma vez na vida também é alto, cerca de 32%. Em média, 8% dos que admitem beber afirma que já enfrentaram prejuízos profissionais e 9% dizem que já tiveram problemas com a família, ou em relacionamentos em decorrência do uso do álcool.
A nossa tão comemorada ascensão social infelizmente contribuiu para o aumento do consumo de bebidas, nos últimos anos. Enquanto o consumo exagerado se manteve estável na classe A, nas classes C, D e E aumentou de 40% a 50% em média.
As legislações mais duras e a fiscalização mais rígida estão surtindo um bom efeito. Houve um aumento de 21% dos entrevistados que afirmaram não dirigirem quando estão sob efeito do álcool. No dia 27 de março de 2012, ao final dos trabalhos da C Álcool, foi aprovado o relatório do deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), onde apontamos uma série de sugestões para combater este mal e que estão sendo apreciadas por esta Casa.
Acredito que podemos avançar com Proposições que proíbem propagandas de bebidas alcoólicas na televisão, em horários anteriores às 23 horas, bem como a venda de bebidas em postos de gasolina a menos de 100 metros de instituições de ensino. Também temos de proibir taxativamente a venda de bebidas alcoólicas em eventos esportivos.
Defendemos que o montante do recolhimento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), referente às bebidas alcoólicas sirva para custear internações médicas com causas ligadas às patologias provocadas por este consumo e ainda a destinação deste valor às campanhas para diminuir a ingestão de bebidas alcoólicas.
As recomendações propostas no relatório identificam que, estamos indo na contramão do interesse público, quando flexibilizamos o Estatuto do Torcedor, no que se refere a proibição de venda de bebidas alcoólicas nas imediações dos estádios, para atender exigências da Federação Internacional de Futebol, a FIFA.
O que recomendamos, é justamente o contrário. O Governo Federal tem de implementar políticas públicas para enfrentar o alcoolismo, suas causas e consequências. É imperativo a ampliação da rede de Centros de Atenção Psicossocial, voltados para dependentes de Álcool e Drogas, os chamados CAPS-AD. Também acreditamos que deve haver maior dotação orçamentária, no Ministério da Saúde para o tratamento de dependentes, bem como a criação de leitos especializados, semelhante ao que aconteceu no Programa ‘Crack, é possível vencer’.
Uma outra recomendação que propomos, agora para os governos estaduais, é a adoção de leis, aos moldes da Lei Estadual n° 14.592, de 19 de outubro de 2011, do Estado de São Paulo, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos e responsabiliza os estabelecimentos, punindo-os com multas e a possibilidade de fechamento.