27/11/2013 18h01 – Atualizado em 27/11/2013 18h01
Ao chegar ao final do ano letivo, nos deparamos com uma questão: Repetência Escolar
Por Jesudete Brum
A repetência é um tema bastante abrangente, requer uma reflexão de diversos lados que a envolve e não ter uma visão simplista sobre o assunto, pois está associada aos aspectos sociais, econômicos e culturais, e em geral, dentro de uma reprodução de famílias com baixa renda, histórico de pais sem muito preparo no fator emocional, educacional e da falta de uma maior perspectiva de vida.
Mas de quem é a culpa? Será que é da própria escola que não sabe lidar com as dificuldades de nossos alunos, se é culpa do sistema com currículo e do tempo engessado, se é da família que vê a escola apenas como um depósito se é do professor que carrega uma cultura egocêntrica e punitiva, onde por vezes se pensou que o bom professor reprovava mesmo! Ou então será que é culpa desse profissional que muitas vezes, mesmo que comprometido e responsável precisa sobreviver se dividindo em três escolas, em uma árdua tarefa de recuperar esse aluno, o qual não quer sua ajuda? Precisamos fazer uma analise até histórica, pois, por vezes a educação fez parte de uma cultura onde o aluno deveria aprender através do método da coerção, de onde surgia a ideia da “lição”. E até hoje o aluno que deveria receber uma mediação eficaz dentro de um ensino de qualidade acaba sendo o culpado por não conseguir aprender.
É nítido que as parcerias com a escola sempre dão muito certo, não só do Estado com uma política educacional comprometida em resgatar de fato aquele aluno antes que ele chegue a uma reprovação, mas da família, a qual é outra parceria que sem dúvida é nossa grande aliada, pois os alunos que as famílias desde a primeira infância estimulam, e as quais os pais se mostram mais preocupados na escola e também em casa com as tarefas, trabalhos, se destacam dos demais.
Infelizmente a maioria das vezes, quando chega o final do ano é que a família vem cobrar a função da escola ao ver seu filho prestes a reprovar e sentimos que há uma confusão de papéis no ato de educar, quando muitas vezes a escola não pode contar com o apoio da família. Parece que a família não está mais conseguindo manter de uma maneira geral a cumplicidade com a escola na educação do seu filho, devido o atropelo do dia-dia e dos conflitos. E acaba ficando para a escola encontrar o meio e a solução para sanar a reprovação. Mas também não adianta jogar a culpa pelo fracasso escolar ora nos alunos que não tem interesse, ora na família que se exime de sua função patriarcal, ora do sistema que não oferece melhores condições de trabalho, de estrutura física e didática e de valorização ao professor, nem tão pouco ao professor que não busca mecanismos de como ensinar e de recuperar o aluno dentro de suas dificuldades. Haja vista, se pensarmos friamente, o que faz um aluno que sabe que não tem chance de ser promovido? Que não consegue aprender? Nada! Ou melhor, não deixam os colegas ter aproveitamento também.
Já tivemos uma experiência de termos dois irmão reprovados em um mesmo ano e que pelo próprio relato da mãe, foi positivo na medida em que a família teve que fazer um balanço em casa para detectar se estavam acompanhando o rendimento dos filhos e no próximo ano vimos que os dois alunos se despertaram e foram muito bem em seus estudos, mas nesse caso se vê que houve uma preocupação, que a família acolheu, exigiu, monitorou e obtivemos sucesso, mas na grande maioria dos casos a verdade é que a reprovação trás prejuízos para todos os envolvidos. Além disso, só aumenta o número de estudantes por sala, os alunos precisam conviver com colegas de idade e maturidade muito desigual e muitas vezes perde a sua autoestima, o que é prejudicial.
A reprovação não se dá no último bimestre, e é necessário que a escola trabalhe a relação de causa e efeito. Então, quando o aluno se mostra desinteressado, não estuda e conta com a sorte, a reprovação se torna necessária. Por outro lado, se o estudante está com algum problema de saúde, se houve uma morte na família, a separação dos pais, mudança brusca da rotina e doença o rendimento cai, mas a reprovação não é indicada. Infelizmente em todas as escolas, todos os anos têm um número considerável de alunos que repetem a série que estavam.
A repetência aumenta a distorção idade-série e comprometendo o desempenho como um todo e colocam em xeque a qualidade do ensino da escola que oferece. Além de ficarmos preocupados em ver os índices elevados da repetência e sermos cobrados enquanto escola, sem dúvida o maior prejudicado, é o aluno, pois além de refazer um ano inteiro, ele muitas vezes perde o estímulo para continuar os estudos. O ideal seria que as escolas tivessem um sistema de acompanhamento desses alunos com necessidade de apoio ao longo do ano e não somente nas últimas semanas de aula. Seria propício o acompanhamento pela coordenação da escola, mas isso não seria o suficiente, haja a vista a vasta responsabilidade e atribuição que essa função tem. Então poderíamos fazer um levantamento dos alunos que tiveram um fracasso escolar e contar com um professor destinado só para esse acompanhamento de sanar dúvidas, incentivar, monitorar mesmo. Pois sabemos que todos nós sempre depois que passamos por qualquer fracasso precisamos de um apoio, e nesse caso pedagógico, pois Já contatamos em nossa prática que todos os alunos são capazes de aprender, mas, também que eles adquirem o conhecimento em ritmos e de maneiras diferentes. O que não adianta é fazer com que o aluno tenha que passar pelo mesmo processo de ensino que já não deu certo uma vez! Tanto a escola como o professor que é o agente, o qual está ligado mais diretamente com ao aluno deveriam fazer um diagnóstico dos alunos com mais dificuldades e os recuperar ao longo de todo o processo e não repetir o que não funcionou em sua metodologia com todos da sala ou apenas com aquele aluno. E muitas vezes até nem precisaríamos reprovar o aluno com tanta dificuldade, pois poderíamos promover esse aluno e ele receber esse acompanhamento no próximo ano com esse trabalho diferenciado o que poderia ser ofertado no contra turno como é feito nas disciplinas pendentes nas faculdades e em outros países, mas ainda não conseguimos vislumbrar alternativas reais para sanar essa questão em nossa realidade a nível nacional e local.
Jesudete Catarina Nogueira Brum Nascimento é pedagoga e professora efetiva da rede estadual de ensino de Amambai. Atualmente exerce a função de Coordenadora Pedagógica na escola estadual Cel. Felipe de Brum, em Amambai. Jesudete tem especialização em Educação Especial e Séries Iniciais, e atualmente cursa especialização em Coordenação Pedagógica, todas pela UFMS.