29/01/2014 14h47 – Atualizado em 29/01/2014 14h47
Enquanto os gênios dormem
Por: Fabio Chiorino do Esporte Fino
Duas cirurgias, um hematoma retirado do lado esquerdo do cérebro e o coma profundo. E nada mudou. Os especialistas em neurologia já apontam que as chances de recuperação diminuem a cada dia. Também destacam que a falta de abertura dos olhos até o momento é mais um indicativo de alta gravidade do quadro. O conjunto de fatores, que não se alteram há um mês, entristece todos que enxergam em Michael Schumacher uma das maiores lendas esportivas de todos os tempos.
A equipe médica de Grenoble que cuida do alemão soltou a última nota oficial no dia 17 de janeiro, indicando que o ex-piloto continuava “estável”, o que não traz muito alento. Até porque a classificação não combina com uma gloriosa carreira marcada muitas vezes pela evolução contínua. Um, dois, sete títulos. E Schumacher quebrou inúmeros recordes e, para frustração de alguns, tornou as conquistas no elemento mais previsível da Fórmula 1.
Não cabe agora concluir se Schumacher rompeu os limites seguros da pista de esqui ou se acidentou ao tentar salvar uma criança. As informações ainda são desencontradas e corre-se o risco de jogá-lo para os rótulos extremos do “inconsequente” ou “mártir”. Em uma época marcada pelos mais avançados apetrechos tecnológicos e pela falta absoluta de privacidade, impressiona o fato de nenhuma câmera ter registrado o que de fato aconteceu.
Talvez tenha sido apenas uma fatalidade. A cabeça se chocando contra a pedra impiedosa, incapaz de identificar ídolos que mudaram o rumo de um esporte. As vitórias, as superações, a excelência ajudam a criar uma espécie de fantasia. A vida não pode derrotar quem sempre venceu. Os fãs se apegam à ilusão de imortalidade. Como um super-herói da Marvel.
O futuro de Michael Schumacher não tem a exatidão de um cronômetro a marcar os décimos de uma volta mais rápida. Deitado pelo resto da vida numa cama de hospital? Recobrando a consciência, mas com graves sequelas? Totalmente recuperado, contrariando a maioria dos prognósticos? As hipóteses são discutidas de forma letárgica, porque não existem certezas.
Existe uma monstruosa dúvida, que já passou pelos estágios clássicos de desespero, comoção, vigília e desânimo. E o drama é que Michael Schumacher não abre os olhos, não acena, não sorri, não chora. Schumacher sempre pareceu ter o controle absoluto dos seus passos, o que transforma o imponderável no seu maior rival. A esperança agora é que uma fagulha inverta a lógica pessimista e devolva ao mundo um gênio do esporte. A espera pode ser tão cruel quanto à própria morte.