03/02/2014 08h21 – Atualizado em 03/02/2014 08h21
Por Artur Salles Lisboa de Oliveira
Introdução
O problema brasileiro, definitivamente, não é de oferta, já que além da proliferação de instituições de ensino superior ocorrida na última década, existe também uma grande disponibilidade de faculdades tecnológicas e cursos profissionalizantes destinados àqueles que buscam uma formação rápida e de cunho técnico.
Além disso, as facilidades proporcionadas pela Internet aumentam ainda mais as oportunidades de ensino na medida em que estudantes e profissionais já diplomados encontram nos cursos online um meio eficiente de qualificação profissional.
Assim, se o problema não está na oferta de faculdades no Brasil, então é preciso analisar o que está ocorrendo dentro das salas de aula?
Comprometimento
Os professores ensinam até o ponto no qual os estudantes querem aprender. Quando as pretensões dos docentes alcançam o limite máximo do interesse dos alunos, normalmente o conteúdo programático é dado meramente para cumprimento de tabela. Permitam-me fazer um parêntesis.
Em um ambiente universitário, julgo ser uma aberração os professores serem obrigados a “esmiuçar” o conteúdo para preparar os estudantes para as avaliações às quais serão submetidos. E pasmem: é uma prática comum. O papel dos docentes de facilitador do aprendizado é uma utopia em grande parte das instituições de ensino brasileira.
Diante dessa realidade, qual é a motivação que os docentes têm de ir a fundo no ensino mediante a indicação bibliográfica, a promoção de debates com outros professores ou profissionais renomados nas suas respectivas áreas quando a mentalidade da aprovação está tão fortemente enraizada nos estudantes?
Essa falta de autonomia e motivação para aprender está ligada a um sistema educacional falho, que enfatiza em demasia as notas obtidas pelos estudantes em detrimento de uma formação crítica global dos alunos. No último ano do ensino médio, à beira do vestibular, sabemos que pontuações precisamos alcançar para sermos aprovados nos cursos que desejamos. É um ensino “engessado” por percentuais, números e valores.
Profissionalismo
Infelizmente, a mentalidade da maioria dos estudantes universitários brasileiros é de que só é preciso se vestir bem quando se consegue um estágio ou um emprego, ou quando alguém importante fará uma palestra a convite do professor e, dessa forma, há uma certa preocupação com as vestimentas. Caso contrário, é sandália arrastando no chão, bermudas e camisas quaisquer.
E aí vem a pergunta: por qual razão os alunos se comportam assim nas salas de aula e quando conseguem a primeira oportunidade de estágio ou emprego passam a se vestir adequadamente? A resposta é bem simples: o estímulo salarial e a oportunidade de ascensão profissional determinam o comportamento dos jovens.
É triste fazer esse tipo de constatação, mas o emprego para o estudante é visto como uma oportunidade de grande importância, a ponto de fazê-lo abandonar o desleixo em suas roupas. Porém, o ambiente universitário, essencial não apenas para a qualificação técnica, mas, sobretudo, para o pensar crítico do individuo, é visto com tal desprezo que boa parte dos alunos o freqüentam com sandálias, bermudas e camisas ao gosto.
Conclusão
Quando a produção acadêmica e o pensar a sociedade merecerem alunos bem vestidos nas salas de aula, o Brasil se transformará em um país bem diferente do que vemos atualmente. Por enquanto, só sob a coerção das notas.
Artur Salles Lisboa de Oliveira é administrador de empresas com sete anos de experiência no mercado financeiro. Profissional com as certificações: Cpa-20 (Anbima) e Ancord.