05/02/2014 10h20 – Atualizado em 05/02/2014 10h20
Por: Mauro Donato do DCM
A atitude de afronta da torcida corintiana ao invadir o centro de treinamento do clube para exigir sabe-se lá o que não é novidade. Sobretudo em se tratando de Corinthians. Várias foram as oportunidades em que jogadores pediram para deixar o time após ameaças, quando não agredidos de fato. Nem por isso deve ser menosprezada, vista como normal. Não há nada de normal aí.
Essa agressividade de torcedores para com os jogadores de suas equipes do “coração” precisa ser coibida urgentemente.
Esse tipo de torcedor “profissional”, que pressiona durante os treinos, que “marca” os jogadores de perto, acompanhando suas vidas sociais, exigindo uma postura de monge tibetano dos atletas, que não aceitam nada menos que 100% de aproveitamento eternamente, é um causador de males gigantesco. Para a sociedade, inclusive.
E o alvinegro do Parque São Jorge é clube simbólico para representar uma ação em protesto a esses abusos. Uma greve, como a planejada pelos jogadores é um ato que repercutirá enormemente.
O time que mais vezes é transmitido pela Globo, rebelar-se e ameaçar interromper o campoenato? Perfeito.
Os críticos dirão que é desculpa esfarrapada pela má fase, que quando ocorre com o time deles ninguém dá bola, mas reforço: o Corinthians representaria uma significativa correção de rota no comportamento desses e de outros torcedores.
Pela propalada “grandeza” do clube, a decisão merece apoio e adesão dos outros clubes. No entanto, mesmo que seja para encarar sozinho, deve ir em frente com a iniciativa. Se a punição ao clube for um W.O. pelo não comparecimento ao jogo ou mesmo a desclassificação, pode ser didático. Aqueles torcedores seriam os únicos responsáveis por algo inédito e de forte impacto disciplinar e, sobretudo, financeiro. Não há fator mais disciplinador do que o caixa.
Depois de tudo, seria importante que a atitude grevista suscitasse a ampliação do debate. Por que tanto ódio entre torcedores e jogadores? Em que ponto do trajeto ocorreu esse divórcio?
Parece nítido que o aspecto financeiro é um dos ingredientes mais representativos. A diferença entre o padrão de vida e salarial de um torcedor médio e um jogador dos grandes clubes é abissal. Os atletas precisam ter consciência dessa gritante diferença.
O preço dos ingressos equipara-se ao de grandes shows e espetáculos em que os integrantes ensaiaram incansavelmente durante meses, cuja apresentação se dará num espaço confortável, seguro, fechado e com chances próximas a zero de ocorrer um erro grotesco como um guitarrista esquecer a melodia ou o baterista perder as baquetas. No futebol paga-se alto para ver a um zero a zero ou ao camarada errar pênalti.
Não é à toa que a imagem de torcedores agitando notas de dinheiro transformou-se em figurinha fácil a qualquer desgosto sofrido. Tudo resumiu-se a isso hoje. Na relação monetária entre protagonistas e espectadores.
Essa distância precisa ser reduzida, jogadores de futebol por mais que treinem nunca estarão imunes a erros, salários milionários para uma atividade tão suscetível a falhas tornou-se algo obsceno, torcedores paleozóicos são uma aberração a ser extinta.
Se a reação dos jogadores é a de greve, precisa ser respeitada, aliás, como bem fez a diretoria. Não ir para o campo será importante para dar um basta e iniciar um novo período, de maior respeito mútuo.
“Não vai, Corinthians”, seria o grito ideal para a greve.