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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Literatura em foco

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29/04/2014 11h24 – Atualizado em 29/04/2014 11h24

Por Fábio Luiz de Arruda Herrig

Uma das proeminências da filosofia contemporânea, Paul Ricoeur, disse, em uma de suas obras, que a literatura se mostra como um laboratório para a avaliação e reflexão acerca de nossas ações, ou seja, a coloca em uma dimensão ética. É neste sentido que este texto pretende apresentar uma reflexão sobre a relação entre Literatura, educação e sociedade, de forma breve, ensaística, entretanto, responsável.

A atual sociedade, movimentada por uma economia acelerada, assim como por um desenvolvimento tecnológico que acompanha o mesmo ritmo, parece esquecer elementos fundamentais para a constituição do ser humano. Por vezes, parece que a questão fundamental de nossa existência é colocada de lado em prol da imediatez das exigências cotidianas. A pergunta fundamental, acerca do sentido de nossas vidas, pode ser a única saída para um mundo coerente, e não, necessariamente, no contexto religioso.

Neste ponto é que a Literatura pode contribuir para a reflexão acerca de nossas responsabilidades: o que fazemos e para que fazemos, neste mundo? Será que a produção desordenada, assim como a produção estritamente utilitarista justificam todas as nossas ações? Até que ponto nos deve ser imputada alguma parcela de tudo que está disposto a nossa volta?

A Literatura não tem, necessariamente, uma função social. Ao contrário do que Sartre propôs, pode ser tão somente estética, mas o conteúdo que carrega, agrega em nossa formação como indivíduos. Encontramos, hoje, nas escolas, alunos que estão saindo do ensino fundamental e médio, mas que nem ao menos tem fluência de leitura em sua própria língua, essa limitação inibe-lhes a potencialidade da leitura literária, assim como a ampliação do escopo de suas experiências fictícias e, desta forma a sua própria capacidade de agir e julgar. É neste sentido que a Literatura influi na educação e, consequentemente, no campo ético, pois agir, ou não agir, pode influir, diretamente, na capacidade de julgamento do indivíduo em relação a determinadas circunstâncias, de forma que a não ação também pode ser imputada como responsabilidade do indivíduo presente, que escolheu não agir, e por conta disso, deixou que algo ocorresse e prejudicasse a coletividade. Desta forma, alguém que vê um Outro roubando e não o denuncia torna-se cúmplice do fato, devido a sua irresponsabilidade (tomado aqui como o ato de responder por uma ação ou não ação) diante de tal delito.

Assim, o que fica evidente é que a Literatura, dentro da escola e mesmo de casa, deve ser vista não como uma tarefa enfadonha. Não interessa, num primeiro momento, saber se o Barroco trabalha a oposição entre claro e escuro ou se o Arcadismo se preocupa como temas bucólicos, o que importa, numa instância primária, é perceber a Literatura como um instrumento de formação do caráter individual e coletivo. A cada obra que leio, não apenas me torno mais culto, mas encerro uma gama de experiências que me possibilitam ampliar a esfera de minhas ações na sociedade em geral e de responder de forma aberta por minhas ações, tendo por norte uma dimensão ética que se torna intrínseca ao meu ser por conta das experiências alheias, vividas na ficção, mas que passam a integrar a totalidade do meu ser.

Literatura em foco

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