14/10/2014 15h21 – Atualizado em 14/10/2014 15h21
Por R. Ney Magalhães
A História Política do Brasil como tantas outras é em parte verdadeira, ou muitas vezesfantasias que por interesses diversos ao longo dos anos se transformam em verdades. A chamada Revolução de 1964 ou Ditadura Militar, para mim a Revolução das Panelas, tem também suas verdades e suas mentiras contadas ao sabor da ideologia e do humor de seus relatores.
Esse importante episódio político eu vivi no auge de minha existência, aos 29 anos já casado e com filhos, como produtor rural nas margens do Rio Amambay na plenitude daqueles anos de redenção patriótica e retomada do nacionalismo. No próximo Dia do Soldado se Deus quiser vou completar meus bem vividos 80 anos de idade.
No inicio dos anos 60 um grupo de políticos aproveitadores tentou iludir com falso socialismo uma sociedade democrática e conservadora, respeitadora das propriedades e bens alheios.João Goulart e Brizola no sul e Arraes no nordeste arregimentavam incautos brasileiros para a ilegalidade da tomada de propriedades particulares.
Sem garantias do direito de propriedade e sem política agrícola os mantimentos desapareceram rapidamente das prateleiras dos Mercados.
SEM feijão/arroz/carnes e SEM trigo para o Pãozinho do café da manhã as donas de casa fizeram a Revolução das Panelas. Aderindo a vontade política de seu marido o Governador Ademar de Barros sua esposa Dona Leonor liderou passeatas nas Ruas de São Paulo. A esposa do Governador Magalhães Pinto de Minas Gerais também levou multidões às ruas. No Rio de Janeiro o jornalista, Governador Carlos Lacerda comandou o movimento. Esses três maiores centros populacionais motivaram o povo brasileiro a exigir mais ações dos governantes.
A falta de alimentos a inflação galopante e a corrupção diariamente denunciada na grande imprensa foram os motivos mais relevantes nesse Movimento que eu chamo de Revolução das Panelas e não revolução Militar. Os Governantes SEM apoio do Congresso abandonaram o Governo e o País refugiando-se no Uruguay, onde o então Presidente Goulart era proprietário de Fazendas.
Constitucionalmente o Congresso tentou governar com o Vice, que preferiu a escolha de um triunvirato complementado pelos Presidentes da Câmara e do Senado, poucos dias depois dissolvido pela pressão popular, eu prefiro dizer pela grande mídia da época que eram os Jornais, as Revistas e as Rádios. Assim, o Ministério da Guerra como eram chamadas as Forças Armadas da Nação formadas pelo Exercito, Marinha e Aeronáutica, foi convocado pelo Parlamento com a finalidade de GOVERNAR.
O povo não acreditava mais nos Políticos, tamanha era a corrupção denunciada na Imprensa. O nome do General Castelo Branco foi homologado pelo Congresso e assim esse Militar assumiu a Presidência da Republica. Os Ministros das Forças Armadas naturalmente eram também Militares, os demais eram todos profissionais civis.
Para a área de ação do meu Sindicato nossas atenções se voltavam mais para o Ministério da Fazenda do Planejamento e da Agricultura. Exatamente nessa época, para não ser omisso com minha terra e com minha família, passei a participar ativamente na Associação Rural de Ponta Porã que por força da Lei transformamos em Sindicato com abrangência em todo o Cone sul do Estado.
Poucos anos depois organizamos o Sindicato Rural de Amambaí, muito mais para beneficiar os Trabalhadores Rurais, possibilitando-lhes o acesso aos benefícios governamentais que vínhamos conquistando com o Novo Governo, notadamente o FUNRURAL criado pelo Presidente Médici, em cujo mandato foram aposentados os primeiros Trabalhadores Rurais e os ex-trabalhadores dos ervais, Médici é o responsável por este meu depoimento nesta Crônica necessária de ser escrita e divulgada. Explicando: Li na Imprensa que um jovem Procurador da Republica “recomendou” para a Câmara Municipal do município de Volta Redonda a alteração do nome de uma Ponte que leva o nome do Presidente Médici, julgando ser importante para proteção da memória, quando informações arquivadas no Projeto Brasil Nunca Mais indicam violações de direitos fundamentais e
cerceamento de expressão, durante aqueles governos…
Nos últimos anos leio e assisto declarações de verdades e de mentiras sobre aquela fase política iniciada por Castelo Branco, e complementada por Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. Como dirigente sindical liderando greves e Movimentos Sindicais Rurais que tiveram repercussão e adesão nacional, com a Confederação Nacional da Agricultura chegando até a criar a Frente Ampla da Agricultura Nacional “paramos” o comercio e demais atividades do Estado, inclusive com anuência e compreensão da Superintendência do Banco do Brasil nosso parceiro nas reivindicações classistas, como Credito Agrícola subsidiado, Preços Mínimos, Seguro Agrícola, Armazenamento, Prorrogação de Financiamentos …Nunca fomos cerceados ou impedidos de nos manifestarmos em Praças publicas, a imprensa com liberdade divulgava nossas reivindicações, criticas e sugestões, nossas lideranças tinham presença marcante na TV Morena, no Correio do Estado, na época os principais órgãos estaduais da Mídia.
Aqui mesmo em Amambaí com a concordância do Gerente e funcionários do BB as colhedeiras e tratores “fecharam” a entrada do BB. As Ruas eram trancadas e os comerciantes aplaudiam. Muitos companheiros que continuam na produção de alimentos e riquezas para o País aqui continuam suas lutas e podem testemunhar estas declarações. E nossos pleitos quase sempre foram aceitos.
Isso aconteceu também em Ponta Porã/Sidrolandia/Maracaju/Dourados/São Gabriel do Oeste e demais municípios que iniciavam a agricultura mecanizada, hoje na amplitude do agronegócio. Atividade que move o MS e equilibra a Balança Comercial do Brasil. Eu era feliz e não sabia uma frase que agora é muito presente no coração de meus contemporâneos.
E é claro também que nem tudo eram flores. Os subversivos da ordem, os e as assaltantes de Bancos, seqüestradores que em nome da democracia cometiam crimes, naturalmente tinham que ser punidos. Hoje, muitos desses cidadãos voltaram para o governo e muitos também já estão novamente na Cadeia.
Ramão Ney Magalhães, 79 anos, ex dirigente sindical rural, produtor rural em Amambai-MS.