23/03/2015 23h48 – Atualizado em 23/03/2015 23h48
Afinal, somos todos corruptos?
Por Odil Puques
A partir desta terça-feira (24), semanalmente, o advogado Odil Puques compartilha com os leitores do jornal eletrônico Amambai Notícias suas reflexões e ponderações acerca do cotidiano que nos cerca. Cidadão amambaiense crítico, orgulhoso de suas raízes e defensor da cultura fronteiriça, Odil escreve sobre diferentes temas. A política é sua tônica predominante, mas isso não impede de conhecermos outros assuntos que rondam a atualidade. Tenham todos uma boa leitura!
Afinal, somos todos corruptos?
Graça país afora manifestações populares contra a corrupção, a bandalheira e o ocaso do Governo Federal. Óbvio que as principais – e justas – queixas são dirigidas à ocupante da principal cadeira do Planalto Central e ao partido que há doze anos e dois meses lá está, graças ao voto e ao apoio popular.
Passado o Mensalão protagonizado por próceres petistas e com a prisão destes, imaginava-se que o país seria passado a limpo, mais eis que surge novo e devastador escândalo: da Petrobrás ou Petrolão tão ao gosto do brasileiro de nominar a tudo com apelidos criativos. Aos números: diz-se que foram desviados 21 bilhões da Petrobrás, isso mesmo 21 bi, que foram parar nas contas correntes dos partidários do governo federal e seus aliados e serviram, inclusive, para irrigar campanhas políticas, culminando com o pedido de abertura de inquérito policial contra 54 pessoas das quais 47 políticos entre eles os presidentes da Câmara e do Senado, ambos do PMDB. Mas o debate que proponho aqui é outro.
Com tantos escândalos em voga, as redes sociais trouxeram o pré questionamento de que os políticos desviam zilhões porque o universo deles é este. Que o Brasil é o país da vantagem e do jeitinho e o brasileiro idem. Afinal dizem, quem de nós – eu disse, nós – nunca falsificou um recibo ou omitiu valores na declaração do imposto de renda? Furou a fila? Apresentou atestado médico falso para não trabalhar enquanto refestalava-se em compras em Miami ou no Paraguai? E quem o assinou? Também incorreu em crime? Você já falsificou a carteirinha de estudante para pagar meia entrada? Quem nunca subornou o guarda de trânsito para escapar da multa? E outros tantos exemplos de pequenas atitudes irregulares que praticamos no dia a dia que poderiam ser mudadas para podermos mudar nossos mandatários, ou ao menos ter moral para cobrar. O empresário paulistano Ricardo Semler – um tucano de plumagem e bico, cuja filiação foi assinada por FHC, Covas e Serra – causou furor ao publicar nos estertores do 14, um artigo na Folha de São Paulo, onde afirma que nunca se roubou tão pouco no país, que a turma global do monitoramento estima que 0,8% do PIB é desviado para o bolso do alheio, sendo que já foi de 3,1% em outras eras, que se fala tanto em corrupção no poder público mas que é difícil vender para as incontáveis multinacionais sem antes subornar o diretor de compras. E conclui que não adianta resmungar, que cada um de nós sabe o que fazer. Esta é a mesma reflexão que proponho a mim e a você leitor e leitora. Que tal começarmos a mudar esse país por nós mesmos?
O autor é advogado e escreve às terças feiras nesta coluna