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domingo, 24 de novembro de 2024

A mulher como sucessora na empresa rural familiar

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09/03/2016 08h11 – Atualizado em 09/03/2016 08h11

No mês em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, conheça a história de uma gaúcha que, com paixão, se dedica há 20 anos para a empresa fundada pelos pais

Por Manuelle Motta

Por um longo tempo, o mercado de trabalho foi algo quase que restrito aos homens. As mulheres, aos poucos – principalmente nas últimas décadas – foram conquistando espaço em diferentes segmentos. Atualmente, é possível encontrá-las em posições que antes eram dominadas pelo sexo masculino, tanto no meio urbano, como no rural. A lida do campo e o gerenciamento de empresas familiares rurais são exemplos de atividades que elas vêm desempenhando e obtendo excelentes resultados.

Essa realidade pode ser encontrada na Agropecuária Brasitália, empresa rural familiar instalada na região noroeste do Rio Grande do Sul, mais especificamente nas cidades de Condor, Palmeira das Missões, Ijuí e Bozano. Adriane Costa Beber, que é uma das administradoras da empresa, vive essa experiência há cerca de 20 anos. De acordo com ela, a oportunidade surgiu diante de uma nova fase do negócio da família, na época sob o comando e propriedade dos pais, Igino e Almanir, e dos tios.

Buscando novos desafios, os antigos gestores encerraram a sociedade e o pai de Adriane, que já contava com a ajuda do seu outro filho, Mauro, se viu com uma carga de trabalho superior à que podia carregar. Adriane, aos 23 anos, finalizando a graduação em administração, foi então chamada para gerenciar a empresa ao lado do irmão.

 A princípio, diante da necessidade, ela lembra que não hesitou em assumir a função, mas sabia o desafio que iria enfrentar. “Como tinha meu irmão e meus primos trabalhando na propriedade, cinco homens para sucessão, nunca pensei que teria lugar para mim, conta Adriane. No entanto, ela recorda que em alguns momentos, principalmente nos primeiros anos, sentiu que a olhavam de forma diferente em determinados lugares, como por exemplo, quando ia comprar insumos, peças para as máquinas, etc. “A medida que o tempo foi passando, e as pessoas me conhecendo, isso foi acabando e, hoje em dia, é natural”, complementa.

As dúvidas que não existiram no início, apareceram em meados de 2002, quando Adriane resolveu rever algumas posições no trabalho. Uma antiga vontade se fortaleceu e ela foi cursar psicologia, atividade que desenvolve atualmente em paralelo com a administração da Agropecuária. Na concepção dela, mesmo tendo atuações bem distintas, é possível desenvolver as duas profissões. “Hoje, divido minha semana entre as tarefas da empresa e os atendimentos no consultório”, explica.

Aos 42 anos, ela não se vê longe da empresa familiar, mesmo diante da inserção de novas gerações no negócio. Há quatro anos, outra mulher, a sobrinha Cristina, passou a atuar junto na administração, dividindo determinadas funções com a tia. Na opinião de Adriane, o respeito entre as duas partes foi determinante na adaptação entre as gerações. “Da mesma forma que eu e meu irmão cuidamos do que nosso pai construiu, a Cristina e o seu esposo valorizam o trabalho que realizamos até hoje e, em cima disso, buscam aprimorar a atividade”, analisa.

Estratégia de sucesso

As atividades no agronegócio começaram na família em 1911, ainda com o avô de Adriane, um imigrante italiano que criou os filhos no campo. O valor pelo trabalho na terra fez com que quatro dos herdeiros seguissem no meio e dividissem o trabalho na antiga Agropecuária Costa Beber. O pai Igino era um deles e, assim como os irmãos, buscou novas oportunidades na década de 90, quando fundou a Agropecuária Brasitália.

A implantação da nova empresa gerou uma nova sociedade entre Igino e os seus cinco filhos, porém somente dois, Adriane e Mauro, atuam diretamente no negócio. No entanto, os outros três, Rosane, Elenita e André, sempre participaram das principais decisões, como venda e arrendamento de terras. Adriane recorda que, dentro do possível, tudo foi muito dialogado e transparente, o que na visão dela é uma das principais estratégias para o crescimento da empresa e a manutenção da união da família.

Porém, mesmo realizando reuniões periódicas para definir os rumos do negócio, Adriane lembra que, em determinados momentos, os papéis de irmãos e sócios se misturavam. Buscando definir a função de cada membro, e, finalmente, formalizar a sociedade familiar, a família Costa Beber buscou, em 2008, uma consultoria especializada com a empresa Safras e Cifras que, na visão de Adriane, deixou o processo ainda mais transparente e justo. “Nosso objetivo sempre foi minimizar possíveis conflitos e a regularização da sociedade é uma fase delicada. Desde essa formalização, trabalhamos com uma assessoria que, sem dúvidas, foi essencial para o crescimento da empresa, já que eu e Mauro temos a responsabilidade de administrar o que é nosso e de nossos pais e irmãos também”, avalia Adriane.

O uso da tecnologia, aliada a uma boa administração, permitiu que, em 20 anos de existência, a Agropecuária Brasitália dobrasse a área plantada, permanecendo com praticamente a mesma equipe. A confiança que sempre depositou na capacidade dos filhos fez com que o fundador Igino se afastasse gradualmente dos negócios. No entanto, mesmo aos 82 anos, ele mantém uma rotina de visitas à empresa familiar que viu nascer e crescer. Para o futuro, Adriane vislumbra o progresso que as novas gerações, como a de Cristina, podem acrescentar: “Cada geração tem seus próprios desafios. O importante é que essa sucessão seja natural, sem imposições. Que o jovem escolha, diante de outras alternativas, seguir com os negócios da família, assim como eu e Mauro fizemos”, finaliza.

A mulher como sucessora na empresa rural familiar

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