07/04/2016 08h06 – Atualizado em 07/04/2016 08h06
Por José Manoel Ferreira Gonçalves
A crise política que vivemos no Brasil só se faz agravar.
Por um lado, o governo parece desafiar a inteligência da população, defendendo o indefensável, escondendo a própria corrupção com peneira grossa, nomeando de forma desastrada ministro o líder do partido do governo com mandato de prisão iminente apenas para lhe oferecer foro privilegiado, e enfim chamando de golpista quem não se alinhe à linha sua.
No outro lado uma oposição não menos inidônea, capitaneada pelos personagens mais torpes que nos têm oferecido os partidos. O Eduardo Cunha não demonstra a menor honradez da necessária para propor a destituição de um presidente eleito. Nem o Michel Temer tem evidenciado a menor condição de receber esse cargo que se pretende vagar. Isso sem falar na linha de sucessão: o Temer, o próprio Cunha e o Renan Calheiros, todos denunciadíssimos na própria Lava Jato, como algo em torno de quarenta dos sessenta e cinco nobres deputados, Maluf incluso entre outros notáveis, que cuidam do Impeachment.
Mas nosso objetivo aqui não é fulanizar, antes o contrário, nosso objetivo é propor uma saída para um cenário tão lamentável e — porque não dizer tudo —, tão perigoso à sobrevida das instituições e à condição de encaminhamento da nação como um todo. Não nos creiamos tão distantes do pior: da convulsão social. Hoje mesmo tudo pode estar por um segundo. A extrema polarização entre pretensos constitucionalistas e supostos golpistas pode nos levar a uma situação de descontrole e enfrentamento violento.
Antes de chorarmos o primeiro cadáver cumpre buscarmos uma solução negociada que, se não pode atender a todos os interesses de cada lado, pode atender ao interesse máximo de cada um desses lados: a manutenção em primeiro lugar da paz e da não de menor importância democracia.
Entendidas as idiossincrasias, não é prudência nos considerarmos acima de nações como o Líbano e a Síria, que por causa de um governo por demais longevo e por demais apegado ao poder, ruíram recentemente por completo, tendo sua população perdido tudo… absolutamente tudo! Lá, aqueles que não perderam a vida própria perderam entes e tudo que possuíam. Há muitos outros exemplos no mundo, notadamente no continente africano em situação igual ou pior, o próprio Egito passou recentemente por problemas semelhantes, inclusive com morticínio, e até agora não conseguiu estabilizar-se politicamente, vendo constantemente renovado o risco.
Não vemos saída para o nosso problema mudando o político a sentar na cadeira da atual presidente, seja qual for ele da linha de sucessão. Como estão todos denunciados e tratam-se de notórios vezeiros no descaminho e no mal-havido, a tendência seria novos processos conturbados de troca de acusações e de cargos e de nomes e de siglas.
O substituto da atual presidente tem de vir necessariamente das incontestes urnas, meio único de consenso.
Para que isso se dê de forma pacífica e isenta, precisamos convocar inicialmente esses políticos da linha sucessória para que em ato de grandeza renunciem em bloco, abrindo caminho para que o presidente do Supremo conduza o país nos noventa dias que serão necessários para a nova campanha presidencial. Caso esses políticos se neguem ao ato, exortamos aqui a todos que o forcemos a fazê-lo. É hora da ação, guardemos as palavras para essa campanha que se faz necessária.
Trata-se de uma campanha excepcional, que precisa ser realizada em bases mais democráticas e menos plutocráticas que as que temos assistido e nos levado ao estado de coisas no qual nos encontramos. Uma campanha sem marqueteiros, sem produção, feita exclusivamente por meio de rádio e televisão, com o candidato o microfone e a câmera. Nada de recursos de novela ou de filme de Hollywood, que só visam enganar o eleitor. Precisamos eleger alguém que mostre competência, e não alguém que mostre ter dinheiro para pagar um marqueteiro competente.
Serenidade e firmeza é o que nos cobra o embaraçoso momento, momento que se bem conduzido pode nos levar a um patamar superior, que se não ocupamos ainda é em grande parte por vicissitudes que podem ser revertidas com o aqui proposto, ou seja, renúncia coletiva de todos da atual linha sucessória, com eleições diretas de sem marketing para eleger o novo presidente em noventa dias, enquanto o Brasil ficaria sendo presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, no momento o senhor Levendoski.
Resolvida esta questão poderíamos caminhar para uma constituinte, formada por notáveis não filiados a partidos, uma constituinte que, oxalá, nos traga o parlamentarismo, que tem per si o condão de evitar impasses como o que vivemos.