11/07/2016 07h15
Crônicas de uma Alma Solta
Por Luiz Peixoto
Todos amam o poder,
mesmo que não saibam o que fazer com ele.
(Benjamin Disraeli)
Vou começar essa crônica, com um texto que não é meu, mas sim de um dos escritores que mais respeito no Brasil, Rubem Alves, chamado “O voo 0666”
“Senhores passageiros do voo 0666, Paris-São Paulo, da TARIG, linhas aéreas democráticas. ” A voz soou metálica na sala do aeroporto onde os passageiros aguardavam o início do embarque. Cessaram imediatamente as conversas, fez-se silêncio e os passageiros trataram de prestar atenção nas instruções que se seguiriam. A voz continuou: “A TARIG, linhas aéreas democráticas, no esforço para democratizar os seus serviços, avisa os senhores passageiros que dentro de alguns minutos terá início uma assembleia livre e soberana para a escolha democrática do piloto que comandará o voo Paris-São Paulo. Os candidatos poderão se inscrever no balcão da empresa devendo, para isso, preencher as seguintes condições: (1) ser maior de idade; (2) dar prova de ser capaz de assinar o nome”. Fez-se um grande silêncio na sala de embarque. Os passageiros olharam uns para os outros, incrédulos, pegaram suas bolsas, pastas e mochilas e em silêncio deixaram vazia a sala da TARIG, linhas aéreas democráticas, e foram em busca de uma linha aérea que, sem ser democrática, fosse inteligente e que escolhesse seus pilotos por competência e não por voto da maioria. ” (in. Ostra feliz não faz pérola, página 127)
Leio esse autor desde sempre, conheci os textos dele lá pelos meados dos anos 1980. Me inspirou muito a pensar, a escrever e a poetizar os meus escritos.
Quando se aproxima as eleições, a cada dois anos, lembro desse texto. Afinal o voto da maioria nem sempre tem razão. Se tivesse, não seria o grito de “Libertem Barrabas” ouvindo no pseudojulgamento de Jesus.
Sou um democrata por princípio, acredito com disse Wilson Churchill “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos. ” Apenas penso que faltam critérios nas definições dos nomes a serem candidatos. Não basta vontade, deveriam haver critérios. Para eu, professor, poder lecionar, ou como dizem uns, dar aulas (nunca dei aula, sempre as vendi), devo ter feito uma licenciatura, no mínimo, além disso devo investir em minha formação continuada, a fim de estar atualizado, e por isso, recebo cerca de R$ 2.500,00 por mês. Um vereador, basta ter votos suficientes.
Gostaria muito de saber o que pensam os atuais candidatos, em plena campanha antes do tempo previsto, sobre cultura. Afinal cultura é tudo o que nos define. E nossa cidade é um espaço fértil culturalmente falando. Temos a influência sulista, paraguaia, guarani, tudo misturado. Um caldeirão de fertilidade. E tudo o que vemos são shows, eventos esporádicos e um centro cultural minúsculo construído na praça Orlando Viol.
Cultura deveria ser tema escolar, não só a importada, mas a nossa. Deveria ser coisa do dia a dia, não apenas do centro Conviver.
Eu ainda acredito. Mas enquanto uns e outros lotearem cargos para ter acesso ao poder, será difícil caminharmos rumo a uma Politica (com P maiúsculo) que valorize as pessoas e não o poder pelo poder. Já rolam nas conversas as diversas ofertas de secretarias em troca de apoio para a próxima gestão. Me dá vergonha de ver.
O povo, que é o demo do cratos, que se lasque. O importante é ganhar eleição. O poder, meus caros, é uma droga. Vicia e mata, mais que cocaína.
Luiz Peixoto – Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna