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domingo, 24 de novembro de 2024

Um dia de cada vez

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06/03/2017 15h04

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Costuma-se dizer que o ano só começa, no Brasil, depois do carnaval. Confesso que nunca entendi isso. Meu ano começou faz tempo já, estou entrando no terceiro mês de atividades diretas, uma correria típica de quem precisa do trabalho para se manter e manter os seus. Talvez para quem viva de benesses o ano comece só agora, mas quem é trabalhador sabe que o ano começa todo dia.

Sempre gostei muito do carnaval. Quando era mais jovem, aqui em Amambai, sempre tinha o carnaval no Clube Social, alguns ainda lembram. Fico ainda espantado com as críticas às festas do carnaval. Os de base religiosa atacam a festa da “carna vale” que do latim significa “adeus à carne”, alegando que é a festa da carne, da libertinagem, que é festa pagã. Creio que só o fazem por falta de conhecimento. Afinal a maioria das festas religiosas são de origem pagã que foram apropriadas (ou roubadas) pela cultura religiosa.

Nada contra quem prefere os das de carnaval para realizarem retiros religiosos, ou como a moda de hoje os chama, realizar acampamentos onde quem vai não é acampado e sim campista. Já participei de alguns também no tempo de juventude.

Nada contra quem prefere ficar à toa, na frente da televisão, ou com seus filmes e séries. Foi esse meu carnaval esse ano. E pulei muito. De série para série. De filme para filme. Da rede para o sofá… e assim foi todo o período de recesso.

Gostaria muito que houvesse aqui na cidade o carnaval de rua, onde as pessoas pudessem ir, ouvir músicas típicas da festa, se confraternizar. Mas não tem. Parece-me que por aqui festas só as organizadas para dar lucro para o agronegócio ou para exaltar a fé. Nada contra, mas ainda faltam opções de lazer e de diversão. Sei que muitos dirão que festa de carnaval só causa bagunça e sujeira. Aconselho a esses que passem na região da praça central, num domingo, às 6h da manhã, para ver que não é o carnaval que suja, e sim as pessoas sem educação, toda semana, o ano todo.

Carnaval é a maior festa popular do mundo. Está certo que afirma que nos grandes desfiles o popular não se apresenta. Mas esses deveriam conhecer o carnaval popular de verdade, dos blocos que festejam nas periferias, das cidades históricas de Minas Gerais, das ladeiras infinitas de Olinda, da praia aberta em Aracaju, das ruas e becos de Salvador. Já estive por lá e recomendo. É um banho de brasilidade.

Agora que passou a festa de momo, voltamos à normalidade. Um dia de cada vez. Voltamos aos casos de corrupção na política nacional, voltamos às denúncias a todos e às apurações parciais que só atingem um lado da história, voltamos às salas de aula superlotadas porque o governo do estado prefere tratar a educação como gasto e não como investimento, voltamos aos professores convocados sem salário ainda mas tendo que estar todo dia em sala de aula… voltamos à realidade. E ela é dura. Mas vamos, um dia de cada vez.

O ano começou sim. E faz tempo. Tivemos que engolir a reforma do ensino médio sem podermos opinar, afinal na nossa democracia frágil o que vale são os interesses dos representantes e não dos representados.

Mas eu acredito que a quaresma pode nos ajudar a pensar. Afinal o tempo necessário para que uma coisa aconteça é exatamente o tempo que acontecerá.

Sigamos… um dia de cada vez.

O autor é filósofo e escreve semanalmente nesta coluna

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