27/04/2018 14h41
Fonte: Folha Press
A Fifa anunciou o banimento do presidente da CBF, Marco Polo del Nero.
O comunicado foi feito na manhã desta sexta-feira (27) pela entidade que controla o futebol no planeta.
É a primeira vez na história que um presidente da CBF é punido com a pena máxima pela Fifa.
Segundo o comunicado da entidade, a Câmara de Arbitragem do Comitê de Ética considerou Del Nero culpado por suborno e corrupção, oferecer e aceitar presentes e outros benefícios e conflito de interesse.
Além da punição, o cartola terá que pagar uma multa de 1 milhão de francos suíços (cerca de R$ 3,5 milhões).
Desde dezembro, Del Nero estava afastado do cargo pelas acusações de corrupção feitas na Justiça dos EUA.
O cartola foi denunciado por participar de um esquema de recebimento de propina com cartolas da América do Sul na venda de direitos de torneios no país e na América do Sul.
A partir de agora, a CBF será comandada pelo paraense Antônio Carlos Nunes, o coronel Nunes.
No dia 14 de março, o ex-presidente da Federação Paulista de Futebol teve a sua suspensão prorrogada pela colombiana Maria Claudia Rojas, presidente da Câmara de Investigação do Comitê de Ética da Fifa.
Del Nero estava há menos de três anos no poder. Neste período, ele passou a maior parte do seu mandato se defendendo de acusações de corrupção.
O paulista era homem de confiança de José Maria Marin, ex-comandante da CBF, preso em maio de 2015 na Suíça após operação do FBI durante uma reunião da Fifa.
Em dezembro, Marin foi condenado por organização criminosa, fraude financeira e lavagem de dinheiro nos EUA
A pena só será anunciada em agosto. Mesmo assim, Marin já cumpre pena num presídio no Brooklyn, em Nova York. Del Nero é acusado pelos promotores norte-americanos dos mesmos crimes.
De todos os denunciados, o cartola paulista foi o último a perder o cargo.
Desde a prisão de Marin, ele nunca mais deixou o Brasil.
Del Nero é acusado pelos promotores norte-americanos dos mesmos crimes. Ele nega as acusações.
DIRIGENTE DIZ QUE VAI RECORRER
Os advogados de Marco Polo Del Nero criticaram a decisão da Fifa e disseram que vão recorrer à Corte Arbitral do Esporte (Cas).
Com sede na Suíça, a corte regula disputa entre partes que não estejam no mesmo país, como comitês olímpicos, federações esportivas, clubes e atletas.
O tribunal é um órgão independente das entidades de administração.
Segundo o escritório Bichara e Motta Advogados, “é com surpresa e indignação que o senhor Marco Polo Del Nero e seus advogados recebem a decisão proferida hoje pela FIFA”.
A CBF ainda não se pronunciou sobre o banimento do cartola. Até 11h desta sexta, Del Nero constava como presidente da entidade no site da confederação.
ANDANDO NA CBF
Mesmo afastado pela Fifa em dezembro, o dirigente praticamente ignorou a punição imposta pela entidade.
Nos últimos meses, ele manteve contatos diários com os integrantes da cúpula da CBF e articulou a sua sucessão.
No último dia 17, o diretor Executivo de Gestão da CBF, Rogério Caboclo, 45, foi eleito para substituí-lo a partir de abril de 2019. Caboclo é homem de confiança de Del Nero desde a federação paulista.
Nunes e Caboclo sempre rasgam elogios ao cartola banido pela Fifa.
Ao vencer a eleição, por quase unanimidade, na semana passada, Caboclo agradeceu o apoio de seu padrinho político.
Dos 67 eleitores, apenas Flamengo, Corinthians e Atlético-PR não votaram no dirigente apoiado por Del Nero.
No xadrez eleitoral da CBF, o dinheiro acabou ajudando a permanência do grupo político do cartola. A CBF repassa R$ 75 mil mensais às 27 federações e paga R$ 20 mil por mês a cada presidente.
O colégio eleitoral da CBF é formado pelas 27 federações e 40 clubes das Série A e B.
Mas as federações são maioria por causa do sistema de peso dos votos.
CPI E BENS
Del Nero foi investigado por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que encerrou seus trabalhos em dezembro de 2016 de forma inconclusiva: dois relatórios divergentes foram produzidos pela comissão. O texto oficial, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), não pediu nenhum indiciamento como resultado das investigações sobre contratos e negociações da CBF e seus dirigentes.
Já o relatório “alternativo” pediu o indiciamento de Del Nero, Marin e Ricardo Teixeira, também ex-comandante da entidade.
No trabalho de cerca de mil páginas assinado pelos senadores Romário (Podemos-RJ) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Del Nero é acusado de lavagem de dinheiro, estelionato, crime contra a ordem tributária, crime contra o sistema financeiro nacional, organização criminosa e crime eleitoral.
Em abril de 2015, quando o cartola foi eleito presidente da CBF, a Folha revelou que Del Nero e seu filho compraram do empresário Wagner Abrahão uma cobertura dúplex de mais de 300 metros quadrados por R$ 5,2 milhões na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
O apartamento pertencia a um das firmas dos filhos de Abrahão. O empresário faz uma série de negócio com a CBF. No acordo, Del Nero e seu filho repassaram ao empresário por cerca de R$ 400 mil e um saldo devedor (não revelado) uma outra cobertura no mesmo condomínio.
A negociação foi considerada suspeita pelo senador Romário, então presidente da CPI.
ABRIU A DIRETORIA DA CBF PARA POLÍTICOS
Antes de comandar a CBF, ele foi presidente da Federação Paulista de Futebol por 12 anos, quando Eduardo José Farah deixou o cargo. Ele era então presidente do Tribunal de Justiça Desportiva.
Advogado, ele era sócio do deputado federal Vicente Cândido (PT-SP).
No seu comando na CBF, Del Nero nomeou o ex-sócio como diretor da entidade. Cândido é diretor de Assuntos Internacionais.
Ele também deu um cargo na CBF para o deputado federal Marcelo Aro (PHS-MG), que agora ocupa a diretoria de Relações Institucionais. Em janeiro, mesmo afastado, Del Nero avalizou a contratação de Gustavo Perrella, ex-deputado estadual por Minas Gerais e filho do senador Zezé Perrella.
A CBF ainda conta com uma diretora de Assessoria Legislativa, que tem Vandenbergue dos Santos, aliado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), no comando.
Além de diretores ligados ao mundo político, a secretaria-geral é ocupada por Walter Feldman, ex-deputado federal por São Paulo.
STF
Nesta quinta-feira (26), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República e enviou uma investigação sobre a cúpula da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para a Justiça Federal no Rio de Janeiro.
O inquérito apura suspeitas de crimes contra o sistema financeiro, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, estelionato e falsidade ideológica, entre outros, supostamente cometidos por Del Nero, Teixeira e Marin.
A investigação começou na Polícia Federal no Rio em abril de 2017 e subiu ao Supremo três meses depois devido a suspeitas de envolvimento do deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), que tem foro especial perante essa corte.
O inquérito no Rio foi aberto a partir do relatório alternativo da CPI do Futebol, de 2015, cujos autores foram os senadores Romário (Podemos-RJ) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Eles apontaram supostas irregularidades envolvendo a CBF e o Comitê Organizador Local da Copa 2014.
DEFESA
Os advogados de Marco Polo Del Nero criticaram a decisão da Fifa e disseram que vão recorrer à Corte Arbitral do Esporte (Cas).
O primeiro recurso será enviado ao Comitê de Apelação da Fifa, que dificilmente mudará a decisão. Em seguida, eles vão entrar com um pedido de anulação da condenação no Cas.
Com sede na Suíça, a corte regula disputa entre partes que não estejam no mesmo país, como comitês olímpicos, federações esportivas, clubes e atletas.
O tribunal é um órgão independente das entidades de administração.
Segundo o escritório Bichara e Motta Advogados, “é com surpresa e indignação que o senhor Marco Polo Del Nero e seus advogados recebem a decisão proferida hoje pela FIFA”.
Na nota, os advogados de Del Nero afirmam que “o Comitê de Investigação da entidade não foi capaz de produzir qualquer prova de seu envolvimento em esquemas de corrupção” durante o processo.
“Por isso, a defesa recorrerá e tem a convicção de que a punição de primeira instância será reformada mediante análise por tribunal independente e não sujeito a interferências externas”, acrescentou.
Na manhã desta sexta (27), o cartola brasileiro foi banido pela Fifa. No comunicado, a Câmara de Arbitragem do Comitê de Ética considerou Del Nero culpado por suborno e corrupção, oferecer e aceitar presentes e outros benefícios e conflito de interesse.
Além da punição, o cartola terá que pagar uma multa de 1 milhão de francos suíços (cerca de R$ 3,5 milhões).
Del Nero foi investigado pela Fifa com base nas denúncias feitas por autoridades dos EUA que o acusam de participar de um esquema de recebimento de propina com outros cartolas da América do Sul na venda de direitos de torneios no país e na América do Sul.
Apesar do discursos dos advogados de Del Nero, as chances do cartola brasileiro reverter a punição são mínimas. Nenhum dirigente punido pela Fifa neste escândalo de corrupção foi absolvido pelo Cas.
Nos quatro meses em que ficou afastado da CBF para se defender, Del Nero não deixou o país. Ele teme ser preso e extraditado para os EUA.
Em janeiro, ele foi ouvido pelos investigadores da Fifa por vídeo conferência. A opção por ficar no país agravou a situação do cartola na investigação.
A CBF ainda não se pronunciou sobre o banimento do cartola. Até 11h desta sexta, Del Nero constava como presidente da entidade no site da confederação.
VEJA O COMUNICADO DO COMITÊ DE ÉTICA DA FIFA
“A câmara adjudicatória do Comitê de Ética independente baniu por toda a vida o Sr. Marco Polo Nero, presidente da confederação brasileira (CBF), de todas as atividades relacionadas ao futebol (administrativas, esportivas ou qualquer outra), tanto em nível nacional quanto internacional.
A investigação contra o Sr. Del Nero foi aberta em 23 de novembro de 2015 e refere-se, “inter alia”, a esquemas em que ele recebeu subornos em troca de seu cargo na concessão de contratos para empresas para os direitos de mídia e e marketing de vários torneios de futebol, incluindo a Copa América, a Copa Libertadores da América e a Copa do Brasil.
A câmara adjudicatória concordou com as recomendações da câmara de investigação e considerou o Sr. Del Nero culpado de ter violado o art. 21 (Suborno e corrupção), art. 20 (Oferecer e aceitar presentes e outros benefícios), art. 19 (lealdade) e art. 13 (Regras gerais de conduta) do Código de Ética da FIFA.
Como consequência, o Sr. Del Nero está banido por toda a vida de todas as atividades relacionadas ao futebol (administrativa, esportiva ou qualquer outra), tanto a nível nacional e internacional. Além disso, uma multa no valor de de 1 milhão de francos suíços foi imposta a Del Nero.
A decisão foi notificada a Del Nero hoje, e a proibição entrou em vigor imediatamente após a notificação.”