24/09/2018 19h44
Por Fausto Matto Grosso
Aproximam-se as eleições. Os principais contendores, segundo as pesquisas, têm também, as maiores rejeições. Temos pela frente uma eleição de ódio e medo, dois maus conselheiros. O país que herdaremos poderá ser um Brasil ainda mais dividido, com mais instabilidade política e social.
O pano de fundo da eleição que se aproxima é o de esgotamento da política tradicional, caracterizada pelo descompromisso programático, pela promiscuidade entre o público e o privado, pela corrupção, e pelo clientelismo, situação essa que afeta os mais diferentes partidos e suas lideranças.
Diferentemente de eleições anteriores, quando todos os candidatos pareciam iguais aos olhos dos eleitores, hoje a cena está mais iluminada. A exposição dos candidatos nos debates, nas pesquisas e nas mídias eletrônicas está deixando mais claro o que cada um representa. Será que escolheremos o mais acertado?
Uma boa ajuda para a tomada de decisão do voto pode vir da análise da tipologia dos líderes políticos construída pelo chileno Carlos Matus. O autor tipificava os estilos de liderança política em Chimpanzé, Maquiavel e Gandhi, em uma escala civilizatória.
Tais como nos grupos de chimpanzés, os líderes, assim classificados, são caracterizados pela expressão “o fim sou eu”. A forca representa o seu atributo político principal. Não existe projeto algum – o líder guia a manada a lugar nenhum e é guiado pela lógica de que “o projeto é o chefe e o chefe é o projeto”. É o estilo mais primitivo de fazer política. Os ditadores sul-americanos, velhos e novos, são uma boa representação desse espécime.
“Os fins justificam os meios” essa é a síntese da ideologia que sustenta o estilo Maquiavel. Em relação ao estilo anterior, a grande diferença é que neste caso há um projeto, que transcende o líder. O projeto não é mais individual, é coletivo, tem base social, mas é impossível realizá-lo sem o líder messiânico. Aqui o poder pessoal não é o objetivo, mas o instrumento. Nesse contexto, não há adversários, e sim inimigos que devem ser derrotados e, se necessário, eliminados. A esquerda autoritária foi pródiga em produzir tais lideranças.
Mas a humanidade já conseguiu produzir, embora mais raramente, outro tipo de líder, que baseia a sua liderança na força moral e no consenso. Gandhi é o paradigma desse tipo de liderança política.
Também aqui o projeto é coletivo, mas o líder não disputa para sê-lo. Não precisa força física, lidera pela superioridade de seus valores e da sua ética. Não precisa construir inimigos para vencê-los, mas sim subordinar e ganhar os adversários pela razão objetiva do projeto socialmente superior. Pratica a coerência entre discurso e ação, essa coisa hoje tão rara na política, cuja escassez está na origem da desmoralização dos líderes políticos.
Esses estilos de lideranças políticas raramente são encontrados em estado puro. O estilo real de cada político acaba sendo uma combinação particular entre esses estilos básicos, sendo, normalmente, possível identificar o que é preponderante em cada um.
A cada estilo de liderança, a cada combinação de estilos, vai corresponder, no exercício do poder, um comportamento político previsível. O de pensar e usar o governo como coisa sua, ou comportar-se segundo princípios republicanos. O de isolar-se no uso pessoal do poder ou de compartilhá-lo com a sociedade. O de perpetuar conflitos ou buscar convergências que possam viabilizar projetos de interesse público.
A essa altura, cada um deve estar procurando colocar as figurinhas dos líderes da atual disputa, nos álbuns de personalidades que lhes correspondem. O critério é de cada um, assim como a responsabilidade do acerto ou erro.
De acordo como os líderes são hoje, é possível prever como serão seus governos. Repare bem, não adianta reclamar depois.
Fausto Matto Grosso/Engenheiro Civil, Professor aposentado da UFMS