22/01/2020 21h32
Por Fausto Matto Grosso
Esta semana o mundo olha para Davos. É a cidade mais alta da Europa, com 1560 metros de altitude e 11 mil habitantes. Nessa comuna suíça do Cantão Grisões, reúnem-se lideranças empresariais e políticas, pioneiros digitais e personalidades públicas, todas preocupadas com os problemas globais. São esperadas grandes decisões que podem afetar a vida de todos. Já se disse que o Fórum Econômico Mundial “é onde os bilionários dizem aos milionários o que a classe média sente” (Jamie Dimon, do banco JPMorgan).
Mas não é a apenas isso. Cerca de um terço dos participantes é da sociedade civil – grupos que fazem campanha sobre pobreza e desigualdade, meio ambiente e direitos humanos, além da academia e da mídia.
Tudo começou após o fim da Guerra Fria, em 1971, quando um engenheiro e economista Klaus Schwab teve uma idéia não convencional. Era a “teoria das partes interessadas” segundo a qual uma empresa deve atender a todas as partes interessadas, não apenas a seus acionistas, mas também seus funcionários, fornecedores e a comunidade da qual faz parte. A visão para esse “capitalismo de partes interessadas”, socialmente responsável, se tornou o princípio norteador do Fórum Econômico Mundial.
Entre os grandes temas do encontro de 2020, constam: futuros saudáveis, como salvar o planeta, tecnologia para o bem, sociedade e futuro do trabalho e economias mais justas. Eis um rol de questões globais que nenhum país pode resolver sozinho e demandam instâncias e acordos multilaterais.
Também anualmente, de maneira simétrica a Davos, os movimentos sociais realizam, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial que acontecerá neste mês de janeiro, também com pautas globais.
Todos os últimos presidentes brasileiros buscaram a vitrine de Davos: Fernando Henrique, Luís Inácio, Dilma e Temer. Lula compareceu três vezes. Bolsonaro compareceu em 2019, acompanhado dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Em 2020, a representação será terceirizada apenas para Paulo Guedes. O chanceler Araújo deixará de comparecer, para prestigiar a Conferência Hemisférica Antiterrorismo, em Bogotá, na Colômbia, travando a sua guerra fria particular. Mas, pelo menos dois pré-candidatos presidenciais de oposição, marcarão presença: Luciano Huck e João Dória.
Não sei quais razões tem o presidente Bolsonaro para não estar presente, mas provavelmente devem estar ligadas, ao seu desgaste internacional em questões críticas como meio ambiente, direitos humanos e cultura, bem como pela sua constrangedora subserviência ao presidente Trump. Seguramente, não é uma personalidade bem vista internacionalmente.
Na sua estréia mundial, no fórum de 2019, sob grande curiosidade, Bolsonaro fez a abertura do evento. Em um pronunciamento tímido de menos de 10 minutos, quando tinha disponível 45 minutos, o presidente afirmou à elite econômica mundial que seu Governo não teria viés ideológico, falou ainda que o Brasil iria incentivar os negócios levando em conta o meio ambiente. Em um ano de governo, a verdade se impôs.
Revelou-se isolacionista, imitando Trump. Mostrou-se negacionista, não aceitando que as ações predatórias dos homens sejam responsáveis pela destruição do planeta. Dá constantes sinais de simpatia pelo autoritarismo. Enfrentou a inteligência da comunidade científica menosprezando seus ensinamentos. Sintetizando, optou pela contramão da história e da civilização.
É possível, também, que queira evitar um incomodo e provável encontro com a “pirralha” Greta, o “incendiário” Leonardo de Caprio e o “idiota, cretino e mal casado” Macron, todos brilhando no palco iluminado.
Fausto Matto Grosso/Engenheiro e professor aposentado da UFMS