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quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Com apagão, Macapá vive noite de desespero, com protesto e repressão policial

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07/11/2020 22h32

Em meio a apagão, Macapá vive noite de desespero, com protesto e repressão policial

Moradores relatam que foram atingidos por bala de borracha durante manifestação

Fonte:Vanessa Nicolav/Brasil de Fato | São Paulo (SP)

Sem energia elétrica desde terça-feira (3), moradores de Macapá fizeram protestos na madrugada deste sábado (7) e foram reprimidos com balas de borracha pela força policial. Segundo relatos locais, houve manifestações no bairro do Congós, Habitacional Jardim Açucena, Pedrinhas e Muca, todos localizados na periferia da capital. O motivo teria sido a exaustão da população com a situação de falta de água, aumento dos preços dos alimentos e o anúncio do governo de que a normalidade seria restabelecida dentro de 10 dias.

“O pessoal já estava com muita raiva, porque o governo daqui não fez nada pela gente, não deu nenhuma assistência. Aí, com anúncio dessa previsão de 10 dias, todo mundo entrou em desespero”, conta Benedita de Fatima Alves Sardinha, professora de sociologia e moradora do conjunto habitacional Sucena.

Segundo ela, o protesto foi generalizado na região sul do município. “De noite, andando pelo bairro, a gente via focos de fogo por todo lado. Botaram fogo em tudo”, conta a professora.

Também indignada com as condições que tem vivenciado nos últimos dias, Benedita e seu companheiro, Fausto Suzuki, participaram de um dos protestos. Segundo informa, a repressão policial veio rápido e foi brutal. “A polícia apareceu muito rápido, e já chegou atirando.”

Uma das vítimas da ação policial foi seu companheiro, que foi atingido na mão e no braço por balas de borracha. “Eles fecharam a rua e já chegaram atirando muito na gente. Como eu tenho um perfil diferente, sou alto e chamo muita atenção, eles foram direto pra mim. Eu tentei me esconder atrás de uma árvore, mas eles continuaram atirando.” conta Suzuki, que também é professor.

Segundo Moroni Pascale, morador de Macapá e militante do MAB, os protestos foram espontâneos e são resultado do descaso com que a população está sendo tratada. “O povo que mora na periferia é o que está sofrendo mais, porque não tem poço artesiano, que não tem gerador, que mora em casa popular. É natural, depois de 4 dias, que o povo se revolte assim”, afirma.

Outro local em que a violência policial foi registrada foi no residencial São José. Segundo informações de vídeo recebido pelo Brasil de Fato, moradores que realizavam ontem (6) um protesto pacífico foram atacados pela polícia. Um dos relatos é de um homem, pai de duas crianças autistas, que estavam sofrendo por conta da falta de água e luz. “Fui defender minha família e o que aconteceu? Fui alvejado pela polícia”, afirma.

O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Amapá, mas, até o momento, não obteve retorno.

Situação de emergência

A Prefeitura de Macapá decretou estado de emergência na cidade na última quinta-feira (5), válido por 60 dias. Segundo a administração municipal, o decreto servirá para adotar medidas emergenciais para que sejam adquiridos outros tipos de insumos, e assim atender a população e amenizar problemas ocasionados pela falta de energia. A Prefeitura informa ainda que disponibiliza carros-pipa, que estão fazendo rodízios nos bairros da cidade abastecendo com água as casas dos munícipes.

Um decreto de estado de emergência também foi assinado pelo governo do Amapá, na sexta-feira (6), para acesso a recursos emergenciais para garantir a distribuição de água potável, instalação de geradores de emergência, distribuição de combustível para alimentar os geradores, entre outras medidas.

Restabelecimento parcial

Na madrugada deste sábado, o sistema elétrico de Macapá voltou a ser conectado à rede de Transmissão do Sistema Interligado Nacional – SIN, conforme nota divulgada pelo Ministério de Minas Energia. Porém, com o reparo um dos transformadores da Subestação Macapá, apenas 33% da carga típica foi restabelecida.

Na Zona Oeste a energia ainda não havia voltado no início da manhã, e em bairros na Zona Norte chegou eletricidade, mas o fornecimento foi suspenso novamente.

Na casa onde moram os professores, a energia foi restabelecida durante a madrugada de sexta-feira, porém a água ainda não voltou. Como vivem em um apartamento no quinto andar, a água não ganhou força suficiente para subir para além do terceiro andar.

“É muito complicado porque acabamos de adotar uma criança, e a coisa toda aconteceu no primeiro dia que ela chegou em casa. Está muito complicado dar conforto para ela do jeito que as coisas estão. Mas essa é uma dor minha, existem mais 750 mil pessoas com uma dor diferente”, afirma Suzuki.

Protesto agendado

Um manifestação organizada pelos sindicatos está prevista para ocorrer neste domingo (8). A expectativa é que aconteça na praça da Bandeira, no centro de Macapá, com intenção de pressionar as autoridades para atuarem com mais agilidade e atenção às necessidades das populações mais vulneráveis.

Início do apagão

Na última terça-feira (3), uma explosão em uma subestação na Zona Norte de Macapá, no Amapá deixou 13 dos 16 municípios sem eletricidade, impactando cerca de 778 mil pessoas. O corte de energia gerou uma reação em cadeia, falta de água, desabastecimento e encarecimento dos produtos alimentícios e aglomeração. As causas do incêndio ainda são desconhecidas, e o prefeito Clécio Luís (sem partido) publicou na última quinta-feira (5), o decreto 3.462/2020, que declara estado de calamidade pública por 30 dias.

Edição: Geisa Marques

Sofrendo sem energia desde terça-feira (3), moradores de bairros periféricos de Macapá fizeram protestos na noite de ontem (6) - Reprodução/ Youtube

Professor Fausto Suzuki foi alvo de dois tiros de bala de borracha após protestar no Habitacional Jardim Açucena, em Macapá / Arquivo pessoal

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