Literatura Cura tem o objetivo possibilitar, por meio da literatura, o acolhimento e a possibilidade de ressignificar, revisitar e criar memórias positivas durante o período de internação hospitalar
O Projeto A Literatura Cura é uma ação inovadora no atendimento humanizado da Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul (Cassems), e há cinco anos transforma em textos literários como por exemplo, poemas e contos, as memórias e histórias de pacientes do Hospital Cassems de Campo Grande deixando mais leve a rotina de quem está internado na unidade hospitalar.
A historiadora e escritora, Raquel Anderson, explica que a ideia inicial do Projeto – implantando no Hospital Cassems de Campo Grande em outubro de 2017 – era incentivar o hábito e o gosto pela leitura entre os pacientes internados na unidade hospitalar. No entanto, A Literatura Cura, aos poucos ganhou outros traços levando acolhimento e a possibilidade de revisitar memórias positivas durante o período de internação.
A inspiração para a produção de poemas, cordéis, micro contos que são entregues aos pacientes em caixas de remédios, de acordo com a escritora, veio na estruturação do projeto ao realizar pesquisas em busca de referências científicas e estudos para embasar a proposta. Raquel conta que encontrou evidências de que a poesia além de encantar é também medicamento para amenizar dores como a saudade.
“Para que eu pudesse ver como é que eu poderia levar literatura para o hospital usei meu lado historiadora e encontrei alguns relatos, como por exemplo, na Roma antiga no século II já se escreviam poesias com efeitos curativos. A capacidade da literatura de dialogar com as pessoas com os recursos que ela possui, entre eles a poesia, pode atingir as pessoas de diversas formas. E no mundo todo, hoje, a literatura dialoga muito próxima às questões da saúde, sobretudo porque a poesia desconhece pautas pesadas”.
Segundo Raquel Anderson, nos cinco anos em que é realizado no Hospital Cassems de Campo Grande o A Literatura Cura evidencia o quanto é importante o cuidado dos pacientes além do físico, mas também oferecer afago na alma. A autora conta também que para traduzir em palavras, sentimentos e memórias dos pacientes internados no Hospital Cassems de Campo Grande, existe uma “Anamnese Literária” que resulta em doses individualizadas de arte e carinho.
“A anamnese é o nome dado na entrevista que o médico faz com o paciente, eu fiz uma adaptação, então eu converso com as pessoas, extraindo as relevâncias da sua vida, do cotidiano, e são conversas de amenidades, de coisas leves que atingem o universo afetivo dessas pessoas, as memórias afetivas, as referências de vida, o universo do ponto de vista dos afetos e a partir dessas informações eu componho, poemas, poesias, crônicas, contos, diversas modalidades literárias para cada pessoa”.
Arte que transforma
A artista visual e arte educadora, Marisa da Conceição Gonzaga, ficou dez dias internada em maio deste ano, no Hospital Cassems de Campo Grande, para se recuperar de uma pneumonia bacteriana e para passar as horas fazendo ilustrações. Os desenhos logo chamaram a atenção da equipe do hospital, que comentou com a mentora do A Literatura Cura. “Foi uma coincidência, eu estava desenhando no hospital para passar o tempo. Até que a Raquel me procurou, falou do projeto e eu pedi para ela que me desse umas folhas para passar o tempo”, relembra.
Com a nova tarefa, Marisa da Conceição Gonzaga, encontrou uma nova motivação e mesmo depois da alta segue ilustrando as páginas em que os poemas são escritos. “Uma das coisas que me motiva a participar do projeto é que daquele dia da visita da Raquel me alegrou muito, porque eu acredito na arte, na literatura como cura para alma, então a alegria é um remédio e foi a partir daí que eu fico feliz em participar do projeto”, pontua a artista visual e relembra que as ilustrações ajudaram também no tratamento “eu comecei a fazer os desenhos no hospital e ficava envolvida o tempo inteiro que eu tinha que ficar internada, sem poder colocar os pés no chão, então na verdade o projeto em si foi a minha cura”.
Segundo Raquel, essa é apenas uma das várias histórias vivenciadas nos cinco anos do projeto A Literatura Cura. “Tenho grande emoção, com todo esse trabalho que é muito dinâmico porque cada pessoa tem uma história diferente, mas tenho, claro, algumas experiências ao longo destes anos que foram belas”, pontua Anderson.
A primeira é de um paciente que estava em estágio final da luta contra o câncer e por meio do projeto, pode rever amigos e familiares. “Ele teve uma melhora súbita e isso permitiu que ele saísse da UTI e fosse para o quarto”, relembra Raquel. O projeto também possibilitou a reconciliação entre paciente e a mãe. “Eles se despediram, então o projeto ajudou a mudar o final da vida dessa pessoa e isso me tocou muito”, finaliza.
Nesses cinco anos, A Literatura Cura tem seu próprio selo postal nos Correios utilizado nas cartas encaminhadas pelo projeto para pacientes que receberam alta antes ‘o remédio para a alma’ em forma de texto literário ficar pronto. Inovou também ao se transformar em Tele Literatura Cura e ao criar o Fotografias com Poesias, adaptações que permitiram que a ação fosse continuada mesmo durante os anos com altos indicadores da pandemia de covid-19.
Fonte: Assessoria Cassems