Maria Isabel Barroso Salgado Alencar, a Isabel do vôlei, faleceu na madrugada desta quarta-feira (16), de forma repentina, aos 62 anos. Com vitoriosa carreira no esporte e posicionamento político afiado, Isabel carrega grandes histórias dentro e fora das quadras.
Nascida no Rio de Janeiro em 1960 e criada em Ipanema, zona Sul da cidade, Isabel é neta de Geraldo Barrozo do Amaral, o Dodô, boêmio eternizado em crônicas de Manuel Bandeira como “o Bom Gigante”. Ainda pré-adolescente, se interessou pelos esportes, escolhendo o vôlei para chamar de seu.
Em pouco tempo, foi revelada pelo Flamengo nas quadras e fez história ao ser a primeira jogadora brasileira a atuar na Europa, quando representou o Modena, da Itália, em 1980, já com a primeira filha, Pilar Salgado, nos braços.
Em seguida, atuou nas Olimpíadas de Moscou, em 1980, e Los Angeles, em 1984, respectivamente a estreia e a segunda participação da seleção brasileira feminina nos jogos, que ainda dava seus primeiros passos na profissionalização.
De volta ao Brasil, depois da temporada na Itália, foi apontada como “musa do vôlei”, estampando diversas capas de revistas e jornais. Mas não foi só pela imagem e pelo desempenho nas quadras que conquistou, Isabel também chamou atenção pela atitude forte e determinada em defesa do que acreditava ser importante.
Uma das cenas que resume bem sua personalidade aconteceu em 1982, em um torneio amistoso da seleção brasileira no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. O jogo era contra o Japão, tinha mais de 20 mil pessoas na arquibancada. O público estava sendo hostil com as nipônicas, que venciam o jogo.
Isabel, então com 22 anos, pediu o microfone oficial do evento e fez um discurso forte, dizendo que se os torcedores não parassem de xingar as asiáticas, não teria mais jogo. A partida seguiu, o Brasil foi derrotado, mas o público se comportou.
Aos 32 anos migrou das quadras para as areias, jogando ao lado das campeãs olímpicas Jackie Silva e Shelda Bedê. Aos 37 anos se aposentou, mas não parou. Iniciou a carreira como técnica, treinando as filhas Maria Clara e Carol. Depois se dedicou a projetos paralelos como a produção de documentários.
Também escolheu usar sua imagem pública para apoiar causas, sobretudo as que defendiam a democracia e a liberdade de expressão dos atletas brasileiros. Em 2020, se juntou ao ex-jogador Walter Casagrande Júnior e outros esportistas para formar o movimento “Esporte Pela Democracia”.
Como grande parte das mulheres, conciliou o trabalho com as gestações e a criação dos filhos. Há diversas imagens da atleta jogando com um barrigão até o sexto mês de gravidez. Depois de Pilar, vieram Maria Clara, Pedro Solberg e Carol Solberg, os três últimos também atletas e com carreiras vitoriosas no vôlei. Anos mais tarde, aos 55 anos, com os filhos adultos, adotou Alison, quando o garoto já havia completado 13 anos.
Nesta semana, Isabel havia ingressado na equipe de transição do governo Lula (PT) na área do esporte. No mesmo dia em que assumiu a função, na última segunda-feira (14), começou a se sentir mal e foi ao hospital, fez testes e foi liberada. Retornou no dia seguinte para ser internada, onde permaneceu internada até falecer.
Isabel deixa cinco filhos, cinco netos e uma multidão de brasileiros, sobretudo mulheres, que se inspiraram na sua força e determinação.
Fonte: BdF Rio de Janeiro