Em entrevista ao jornal O Globo, ministro da Fazenda elencou prioridades do governo para o ano que está começando
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a discussão sobre mudanças no Imposto de Renda (IR) pode não ocorrer neste ano, devido às eleições municipais. Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo, Haddad disse que a reforma tributária, aprovada em 2023, foi priorizada pois entra em vigor já em 2026.
Ao jornal carioca, Haddad defendeu mudanças no IR, destacando que a carga tributária sobre o consumo, no Brasil, é muito maior que a aplicada sobre a renda e o patrimônio – o que sobrecarrega as pessoas mais pobres.
“Do meu ponto de vista, essa reforma [do IR] deve viabilizar a redução da carga sobre o consumo, o que permitiria uma alíquota de IVA [Imposto sobre o Valor Agregado] menor. Tributa mais a renda, diminui o peso sobre o consumo, e o efeito fica neutro sobre a carga tributária total. Tudo com transição para que não seja de um ano para o outro, seja diluído no tempo”, apontou.
Haddad disse que as prioridades do governo junto ao Congresso em 2024 passam pela regulamentação da reforma tributária sobre o consumo aprovada em 2023, acompanhamento de medidas para cumprimento do arcabouço fiscal e uma busca pela redução da volatilidade do dólar.
O ministro foi consultado, também, sobre o cumprimento da meta fiscal, algo que tem gerado embates em discursos com outros membros do governo, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estamos tomando medidas para cumprir a meta. Agora, mexemos pela primeira vez com muitas leis e há projeções de receita que demandam tempo para se medir os efeitos. O arcabouço [fiscal] vai ser cumprido como planejado”, afirmou.
Haddad falou ainda sobre a relação do governo com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Com a autonomia do BC, aprovada durante o governo do hoje inelegível, Lula não pode interferir no mandato. Entretanto, segundo Haddad, a relação entre eles tem caminhado bem.
“Minha relação com o Roberto [Campos Neto] sempre foi profissional. A do Lula, assisti ao primeiro encontro, em dezembro de 2022, e não foi um bom encontro, mas não quero entrar em detalhes. Já o segundo foi muito bom. A relação institucional da Fazenda com o BC nunca teve problemas. E a do Planalto passou a não ter”, garantiu.
Sucessão de Lula
Ao O Globo, Haddad disse ainda que “existe consenso” sobre a candidatura de Lula à reeleição em 2026. Candidato derrotado por Bolsonaro em 2018, quando Lula estava preso, Haddad disse que não pensa atualmente na possibilidade de ser o sucessor, mas avalia que o partido deveria debater sobre o tema.
“O Lula foi três vezes presidente. Provavelmente, será uma quarta. Ao mesmo tempo que é um trunfo ter uma figura política dessa estatura por 50 anos à disposição do PT, também é um desafio muito grande pensar o day after [expressão em inglês para “dia seguinte”]. Eu não participo das reuniões internas sobre isso. Mas, excluído 2026, o fato é que a questão vai se colocar. E penso que deveria haver uma certa preocupação com isso. Porque a natureza da liderança do Lula é diferente da de outros fenômenos eleitorais. O bolsonarismo tem uma dinâmica muito diferente”, apontou.
Fonte: Brasil de Fato