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sábado, 23 de novembro de 2024

Meninas e mulheres são maioria em bolsas de pesquisa

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Nesta sexta-feira, 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher, data que simboliza a luta histórica em prol da igualdade de gênero. No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (IFMS), dados demonstram que, apesar de a equidade ainda ser um desafio, avanços já podem ser celebrados.

Um deles é sobre a participação de estudantes em projetos de pesquisa. Atualmente, segundo a Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação (Propi), o número de bolsas de iniciação científica já é maior para alunas – são 172 bolsas, ao passo que estudantes do sexo masculino somam 115.

Isso foi possível graças a um edital de fomento voltado exclusivamente à participação feminina em pesquisas científicas, o Meninas e Mulheres na Ciência, publicado desde 2021. Por meio dele, o IFMS visa atender ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU número 5, de alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

“Esse dado demonstra um aumento na participação feminina em atividades de pesquisa dentro da instituição e reflete nosso compromisso com a promoção da igualdade de gênero e o apoio ao desenvolvimento acadêmico das mulheres”, ressalta a pró-reitora de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação, Roselene Oliveira.

Nesses três anos, o fomento total foi de R$ 359 mil, sendo aprovados 74 projetos de pesquisa nas mais diversas áreas do conhecimento. O apoio financeiro é proveniente do Programa Institucional de Incentivo ao Ensino, Extensão, Pesquisa e Inovação (Piepi) e do Programa Institucional de Iniciação Científica e Tecnológica (Pitec). Já o recurso para bolsas são oriundos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (Pibic-EM), Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica nas Ações Afirmativas (Pibic-AF).

“O edital ajuda a combater as disparidades de gênero de várias maneiras. Além de aumentar a visibilidade e a representação feminina na área, pode incentivar o desenvolvimento de estudos sobre tópicos que são muitas vezes negligenciados ou sub-representados na academia”.

A pró-reitora cita, por exemplo, questões relacionadas à saúde feminina, igualdade de gênero, violência contra mulheres e empoderamento econômico feminino. “Assim, o edital não apenas promove a diversidade na pesquisa, mas também pode levar a avanços significativos em áreas que impactam diretamente a vida das mulheres em todo o mundo”.

Meninas e mulheres são maioria em bolsas de pesquisa
A pró-reitora Roselene Oliveira (à esq.) acredita que o edital ajuda a combater as disparidades de gênero no IFMS

Elas na pesquisa – Um dos projetos selecionados para o atual ciclo do edital Meninas e Mulheres faz uma comparação de índices de vegetação para definição de mapas de uso e ocupação do solo no Assentamento Teijim, em Nova Andradina. De acordo com a coordenadora, Grazieli Suszek, o levantamento está sendo feito no intuito de auxiliar os pequenos produtores em relação à conservação do solo.

resultado parcial da pesquisa já foi apresentado, inclusive, no VIII Congresso Internacional das Ciências Agrárias, realizado em Recife (PE).

Há 14 anos no IFMS, a professora soma mais de 60 trabalhos de pesquisa e extensão desenvolvidos. Em 2023, foi homenageada com a medalha Darcy Ribeiro pelos relevantes resultados e dedicação aos projetos.

“Quando a gente coloca meninas para desenvolver projetos de iniciação científica, isso faz com que elas tenham outra visão em relação ao mundo do trabalho. Dentro do IFMS, as estudantes têm a oportunidade de conviver com as professoras, e isso faz com que elas cresçam e evoluam em relação a esperar alguma coisa do futuro”, comenta.

Ao longo desse tempo, Grazieli consegue perceber a diferença que o Instituto Federal fez na vida das estudantes.

“Como professora, percebo que as meninas hoje já conseguem se visualizar como acadêmicas de mestrado e doutorado, ou sendo profissionais da área e conseguir dar uma vida melhor para suas famílias. O IFMS trouxe essa visão de um futuro melhor, principalmente, para as alunas que se engajam na iniciação científica e transformam as suas vidas, conseguindo, por exemplo, participar de congressos e mostras internacionais ainda no ensino médio”, destaca.

Em relação a eventos, a docente apresenta um dado interessante: no ano passado, em feiras como a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec) e o Seminário de Educação Profissional, por exemplo, o Campus Nova Andradina foi representado apenas por mulheres. “Então a gente percebe que elas realmente estão ocupando seu espaço”.

Meninas e mulheres são maioria em bolsas de pesquisa
A docente já foi homenageada com a medalha Darcy Ribeiro por sua dedicação no desenvolvimento de pesquisas

Uma das estudantes que participaram dos eventos citados pela docente é a acadêmica de Agronomia do Campus Nova Andradina, Emily Miskiw, 21, bolsista de iniciação científica do projeto, sob orientação da professora Grazieli. Sua trajetória no IFMS começou em 2018, quando ela ingressou no curso técnico integrado em Agropecuária.

“Desde o início, faço parte de projetos. Atualmente, minha área de pesquisa é a de utilização de drones. Graças à pesquisa já participei de muitos eventos, até internacional, e muitos congressos”, celebra.

Sobre o mundo do trabalho, a jovem considera que a mulher tem conseguido ocupar espaços.

“Já vi ofertas de trabalho em que davam preferência às mulheres, não por sermos melhores do que os homens, mas sim na questão de organização. Às vezes, a empresa quer a mulher para comandar grupos de homens”.

Meninas e mulheres são maioria em bolsas de pesquisa
A estudante Emily Miskiw atualmente tem como área de pesquisa a utilização de drones

Nem tudo são flores -Apesar dos avanços e de diversos exemplos da inserção da mulher em diferentes setores da sociedade, é preciso reconhecer que há muito a ser superado. O preconceito ainda é uma realidade e deve ser combatido.

“Teve uma situação em que fui a campo e, quando falei que era técnica em Agropecuária e que estava fazendo uma pesquisa, senti aquele olhar de que ‘você não sabe fazer nada, é só uma mulher’. Também tentei uma vaga de estágio recentemente numa empresa, que acabava me colocando vários empecilhos. Depois soube, por funcionários dela, que eles não queriam me contratar por eu ser mulher e estar indo a campo num canavial”, conta a estudante Emily.

A acadêmica avalia que não conseguiu a vaga por acharem que ela não daria conta de realizar o serviço.

“Ainda há muito preconceito em relação à mulher, principalmente na área do agro. A gente acaba se sentindo mal por não poder ser inserida em alguns locais de trabalho. Claro que não são em todos os lugares, ultimamente as pessoas estão mudando esse pensamento. Nós, mulheres, estamos buscando independência e alguma forma de lutar para vencer essa barreira”.

Sua orientadora no projeto de pesquisa, professora Grazieli, também compartilha da mesma opinião.

“Em Mato Grosso do Sul, ainda há a desvalorização da mulher em relação à questão trabalhista, principalmente em relação à família, quando o homem, machista, não a deixa trabalhar. O IFMS trouxe uma evolução nessa questão social e, principalmente, cultural, não só em relação ao trabalho, mas também à parte pessoal. A estudante consegue ter uma vida melhor, ser uma pessoa melhor. Ela não precisa se comparar ao homem, mas precisa, cada dia mais, melhorar em relação a tudo isso e conseguir desenvolver seu trabalho de forma satisfatória”, finaliza.

Além de conceder bolsas a alunas de cursos técnicos e da graduação, o edital Meninas e Mulheres na Ciência tem como regra que a coordenadora do projeto de pesquisa seja docente da instituição. Desta forma, também contribui para o aumento das mulheres orientando trabalhos, cujo número ainda é inferior em relação ao dos homens.

Mulheres como minoria -Atualmente, dos 202 projetos de pesquisa em andamento no IFMS, apenas 52 deles são coordenados por mulheres, o que ressalta ainda mais a importância de iniciativas como o referido edital.

“Apesar dos avanços significativos e dos resultados positivos alcançados com o edital de Meninas e Mulheres na Pesquisa Cientifica do IFMS, ainda existem muitos desafios que precisam ser enfrentados, pois a participação das pesquisadoras no Instituto ainda é baixa em relação aos homens”, aponta Roselene.

As mulheres também ainda são minoria no corpo discente. Entre os mais de 12 mil estudantes matriculados em cursos presenciais ofertados pelos dez campi da instituição, são 6.535 estudantes meninos e 5.866 meninas.

Em relação ao quadro de servidores, a participação feminina também é menor que a dos homens. Se analisado só o quadro de docentes da instituição, de professores efetivos e substitutos, são apenas 218 mulheres, o que representa nem a metade dos 469 do sexo masculino.

O número é um pouco menos desigual quando comparado o total de efetivos da instituição, somados os docentes e técnicos-administrativos. Dos 1.168 servidores, 41% são mulheres.

Meninas e mulheres são maioria em bolsas de pesquisa
Renilce Barbosa é diretora-geral do Campus Corumbá, onde as mulheres representam 50% do número de gestores

Mulher & Gestão – A disparidade também ainda pode ser percebida nos cargos de gestão. 

Segundo a Diretoria de Gestão de Pessoas do IFMS (Dgepe), o percentual geral entre homens e mulheres com Cargo de Direção (CD), Função Gratificadas (FG) ou Função de Coordenação de Curso (FCC) na instituição é a seguinte: 39% são ocupados por gestoras, docentes ou técnico-administrativas. Em um total de 292, são 114 mulheres e 178 homens.

Neste cenário, há um campus que se destaca. Em Corumbá, as mulheres não só ocupam todos os cargos de direção, três no total, como também representam exatamente 50% do número total de gestores, se somados CDs, FGs e FCCs.

É a única unidade do IFMS em que a igualdade de gênero, no que diz respeito aos cargos de gestão, é realidade. A diretora-geral do campus, Renilce Barbosa, ressalta a importância dessa paridade entre servidores mulheres e homens.

“Temos a expectativa de que isso possa se constituir como materialização e didatização de que mulheres podem ocupar cargos de liderança, se posicionar, fazer escolhas, tomar decisões, sonhar, conquistar, acertar e errar, e, sobretudo, gerir uma instituição de ensino, pesquisa e extensão”.

Para ela, apesar das muitas conquistas das mulheres, que hoje ocupam cargos de lideranças nas diferentes instituições, ainda há muito a avançar no que tange às políticas de igualdade de gênero.

“Destaco a necessidade contínua de formação para superação da visão patriarcal estrutural, ainda hoje fortemente presente e fomentada no nosso cotidiano em diferentes espaços sociais e, por vezes, institucionais”.

Sendo uma mulher preta e de ascendência indígena, Renilce deseja que, enquanto diretora-geral do Campus Corumbá, possa contribuir para uma sociedade mais igualitária.

“Que consigamos superar os desafios, as muitas barreiras, por vezes invisíveis, que enfrentaremos por sermos mulheres. Estamos otimistas e vamos trabalhar no intuito de proporcionar espaços institucionais em prol de uma sociedade mais justa e igualitária. Temos a possibilidade de promover mudanças importantes, não somente pela formação acadêmica dos nossos estudantes, mas também pela representatividade”, finaliza.

Além do Campus Corumbá, outras três unidades do IFMS têm uma mulher no cargo de diretora-geral atualmente: Andréa Marques Rosa (Aquidauana); Angela Kwiatkowski (Coxim), e Débora Ocon de Almeida (Nova Andradina).

Meninas e mulheres são maioria em bolsas de pesquisa
O cargo de gestor máximo do IFMS é ocupado por Elaine Cassiano, reeleita como reitora – Foto: Julio Marx

Outra prova de que as mulheres têm cada vez mais espaço no IFMS é que, atualmente, o cargo de gestor máximo é ocupada pela professora Elaine Cassiano, reeleita para um segundo mandato até 2027. Ela é uma das 14 reitoras que compõem o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), no total de 41 instituições que compõem o colegiado.

“Superar barreiras e consolidar espaços de liderança é um desafio para nós, mulheres. A representatividade feminina em cargos de alta gestão ainda reflete a necessidade de superarmos obstáculos históricos e culturais que, por vezes, inviabilizam nossos esforços e méritos. Cada conquista reafirma a importância de reconhecermos e valorizarmos as contribuições femininas em todos os campos de atuação”, reflete Elaine.

Além da reitora e da pró-reitora de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação, Roselene Oliveita, também faz parte da alta gestão do IFMS a professora Claudia Fernandes, à frente da Pró-Reitoria de Ensino (Proen).

8 de março – A origem da data está ligada aos movimentos trabalhistas da virada do século XIX para o XX, mas só foi declarada oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Dia Internacional da Mulher no ano de 1975.

De acordo com dados da própria ONU, se as tendências atuais continuarem, mais de 342 milhões de mulheres e meninas poderão estar vivendo em extrema pobreza até 2030. O empoderamento econômico feminino é o foco, inclusive, do tema escolhido pela Organização para o 8 de março deste ano: ‘Invista nas mulheres: Acelere o progresso’.

O IFMS, enquanto instituição pública de ensino, tem como um de seus valores o Compromisso Social, e visa promover a inclusão e a igualdade em todas suas ações. O edital de Meninas e Mulheres na Ciência é apenas uma dentre várias outras delas.

Só no edital de 2023, ainda vigente, por exemplo, o fomento para pagamento de bolsas de pesquisa às estudantes participantes somou mais de  R$ 135 mil, nos valores mensais de R$ 300 para alunas de cursos técnicos e de R$ 700 para acadêmicas de graduação, com duração de até um ano.

Um dos objetivos da seleção é combater a evasão das estudantes, visando à permanência delas na instituição até seu êxito com a conclusão dos cursos, oportunizando a todas a continuação de seus estudos e/ou a inserção no mundo do trabalho. E o emprego é justamente um dos cinco pontos apresentados pela ONU que podem garantir e acelerar o empoderamento econômico das mulheres, já que, quando elas prosperam no mundo do trabalho, estão mais bem posicionadas para exercer seus direitos. 

A ONU também ressalta que “aumentar a participação significativa das mulheres em setores onde atualmente são menos representadas, incluindo ciência, tecnologia e engenharia, é chave para o seu empoderamento”.

Isso tudo vai ao encontro do que afirma a pesquisadora, filósofa e uma das mais conhecidas ativistas negras brasileiras da atualidade, Djamila Ribeiro: “Quando as pessoas entendem que a gente está lutando por justiça social, por equiparação e por equidade, não tem motivo para não ser feminista”.

Fonte: Laura Silveira -Assessoria de Comunicação Social do IFMS

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