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domingo, 24 de novembro de 2024

O dia em que fui refém !

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09/06/2017 10h25

Fonte: G

Fui refém do assalto ao carro Forte na MS 156 e o que importa é não estar vencida! Foram mais ou menos dez minutos de angustia e tortura psicológica, deitada no chão, imponente perante a situação e sem saber o que viria a acontecer Ao meu lado outras pessoas, alguns amigos e, outros desconhecidos, talvez com o mesmo questionamento: será que vamos morrer? O dia 06/06 de 2017 era para ter sido um dia comum, mas não foi! Aproximadamente, às 10 horas da manhã um homem altamente armado, usando um capuz, atravessou a pista e nos fez parar. A princípio pensei se tratar de um acidente, um carro estava capotado e outros parados. Percebi que não se tratava de abordagem policial e nem de acidente. Procurei manter o autocontrole, vi alguns dos reféns deitados no chão e outros sentados atrás dos carros. Busquei por um lugar que permitia servir de trincheira, cobri a minha cabeça, escutava muitos tiros. O homem que nos abordou estava extremamente agressivo, agrediu meu amigo e disse: “Eu estou com muito ódio, vou matar todo mundo!”. Foram mais alguns minutos até escutar uma grande explosão, destroços do carro implodido caíram próximo a nós, nessa hora levantei e pensei na possibilidade fuga, mas os assaltantes estavam perto e um deles, mais calmo que o outro disse: “não vamos matar ninguém, só queremos o dinheiro!”. Deitei-me novamente no chão, continuei acompanhando as orações da senhora que ali estava e, também fiz as minhas, pensei nos meus filhos e lembrei que “Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, nenhuma espada corta” (BETÂNIA). Vidas são colocadas em risco todos os dias nessa região de fronteira, rica em cultura, porém, historicamente fragilizada e esquecida. Aqui o agronegócio impera e têm sua segurança particular, já o cidadão comum da classe trabalhadora, fica sujeito a esse tipo de violência. Momentos antes do episódio, passamos por um posto novo da Polícia Rodoviária Federal na cidade de Caarapó e não havia nenhuma abordagem, se quer avistei algum policial. Prosseguimos com a viagem e não encontramos nenhuma viatura da DOF depois fiquei sabendo que estavam em uma comemoração. de 30 anos da instituição. Fica o questionamento: Será que não tinham alguém para deixar no lugar? Considerando que é início de mês e tem fluxo de carro forte para pagamento de funcionários! A falha na segurança quase se transformou em uma tragédia fatal, quase matou pais, mães, filhos e trabalhadores que ali estavam ! Depois desse drama, ao chegar em casa abracei a minha família e agradeci por estar viva! E ainda, me dispus a ir trabalhar, fiz um debate com o texto do Marx sobre “Os benefícios secundários do Crime”, que se inicia assim: “Não apenas o crime é normal, como é fácil provar que ele tem utilidades.” Quais seriam essas utilidades? “O criminoso produz, além disso, toda a polícia e a justiça criminal, juízes, condutores, júris etc. e todos esses diferentes ramos da produção que além de formarem categorias da divisão social do trabalho, também desenvolvem diferentes habilidades do espírito humano, criam novos desejos e novos meios de satisfazê-los […] Ele produz não apenas livros sobre o direito criminal, não apenas a legislação criminal e os legisladores, mas também arte, literatura, romance e até dramas trágicos […]”. (E vale ressaltar aqui, no atual momento da história, que o crime inclusive, alimenta as postagens no facebook). Marx nos faz refletir sobre o crime como um produto da própria sociedade capitalista. Questiono: Seria de interessante para o capital, que tem na produção de armas um dos pilares de sua manutenção, acabar com os crimes? As armas que os assaltantes usaram são fruto de negócios milionários, produzidas, em sua grande parte no E.U.A, chegam até nossas fronteiras fragilizadas, lugar em que se é possível comprar desde um simples Viagra até arma letal. Acredito que já somos reféns desse sistema faz tempo! O que aconteceu no dia 06/06/2017 apenas faz parte de um longo processo histórico. Por isso, não banalizemos a situação e nem a deixemos de refletir sociologicamente sobre os fatos. Como disse Galeano em uma sociedade baseada e
m desigualdades sociais, o medo ameaça! E essas ameaças alimentam o sistema e pessoas perversas! Renascida! Graças ao pai Oxalá ! Vou continuar lutando! G

Foto: Divulgação

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