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sábado, 23 de novembro de 2024

De Imigração e Emigração

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11/07/2018 18h05

Por Fausto Matto Grosso

A questão dos imigrantes está hoje no centro da agenda mundial com seus dramas e desafios. Diariamente, os meios de comunicação nos falam dessa questão na Europa, nos Estados Unidos e no Oriente Médio. Nosso país foi construído por imigrantes e escravos.

Mesmo a nossa população indígena – cerca de 4 milhões na época do descobrimento – já era originária de imigrações. A esse respeito, a tese mais aceita é que os ameríndios são descendentes de caçadores asiáticos que cruzaram da Sibéria para América do Norte, através do Estreito de Bering, durante o final da era do gelo. Há cerca de 10 mil anos esses povos chegaram ao atual território brasileiro. Colombo os chamou de “índios” porque imaginava ter chegado às Índias.

O novo ciclo de imigração para o Brasil, não começou, também, com o descobrimento, pois as primeiras pessoas que aqui ficaram – condenados e degredados – não o fizeram por vontade própria, o que não caracteriza a situação de imigrantes. A imigração – pessoas que para cá vieram para morar e viver – teve início em 1530 com a chegada dos primeiros colonos portugueses. Também vieram para cá muitas famílias portuguesas ricas, que se fixaram em Pernambuco e Bahia. Os portugueses pobres ficaram em outras regiões mais periféricas, como o Maranhão.

No Sec. XVI, vieram para cá cerca de 50 mil portugueses e 50 mil escravos africanos, estes, principalmente para a lavoura da cana de açúcar. Já no Sec. XVII, aqui aportaram cerca de 550 mil africanos e 50 mil portugueses na época de grande desenvolvimento da mineração especialmente em Minas Gerais. Os escravos não se enquadram exatamente como imigrantes, pois não vieram para cá por vontade própria.

Com a abertura dos Portos do Brasil, em 1808, inicia-se uma nova fase de imigrações e esta passa a ser feita, normalmente, organizada pelo governo. Os primeiros foram cerca de 300 chineses de Macau, trazidos príncipe regente (futuro rei D. João VI) com o objetivo de introduzir o cultivo de chá no Brasil. Também, nesse período, vieram os suíços para ocupar a região serrana do Rio de Janeiro e que deram origem ao município de Nova Friburgo.

Após a Independência a imigração visava principalmente ocupar as terras vazias do sul do País – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os alemães se dirigiram principalmente para o Vale do Rio dos Sinos, onde deram origem à cidade de São Leopoldo. Italianos foram assentados na Serra Gaúcha onde plantavam uva, trigo e milho e deram origem a Caxias do Sul.

No início do século XX, chegaram os japoneses. A maior parte desses imigrantes se dirigiram para as plantações de café no estado de São Paulo. Nesse mesmo período vieram os sírio-libaneses e palestinos, com destino aos centros urbanos, em particular São Paulo e Rio de Janeiro.

Todos esses povos tiveram grande impacto na cultura, na demografia e na economia brasileira. O Brasil foi, portanto, um grande receptor de imigrantes que para cá vieram buscar uma vida melhor, “fazer a América”, como se dizia.

Essa situação começa a se inverter a na década de 1980, quando passamos à condição de país exportador de brasileiros, sobretudo para os Estados Unidos, o Paraguai, a Europa e o Japão.

Pesquisa recente do Instituto Datafolha apontou que 70 milhões de brasileiros com mais de 16 anos, deixaria o Brasil se pudessem. O número é assustador, corresponderia ao desaparecimento de toda a população de SP, RJ e PR.

Iriam embora do Brasil 62% dos jovens da faixa 16 a 24 anos; 43% da população adulta; 56% daqueles com curso superior; 51% das classes A e B. Os Estados Unidos teriam 14% dos nossos emigrantes, e 8% iria descobrir Portugal.

Nosso País deixaria de ser o destino dos imigrantes, que fizeram nossa história, nossa cultura e nosso desenvolvimento e passaria a exportar gente desiludida, desesperançada e que quer buscar vida melhor fora do Brasil. Estaria invertido a nosso perfil como País, para nossa vergonha e indignação.

Fausto Matto Grosso

Engenheiro civil, professor da UFMS (aposentado)

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