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sábado, 23 de novembro de 2024

Povo faz padre deixar o ministério sacerdotal

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13/12/2018 15h59

Por Pe. Crispim Guimarães

Foi o único título que encontrei para definir o que venho observando nos últimos tempos na Igreja. Reclama-se dos padres, diáconos e religiosos/as que supostamente não atendem bem o povo, que não se sente acolhido. Não se pode negar que algumas acusações devem ter suas razões, contudo, existem outras questões mais profundas.

Desejo tecer algumas reflexões, fruto da convivência diária com o povo que nos procura na igreja, com os mais variados problemas. Muita gente vem desabafar seus problemas psicológicos, e o padre tem que ser um pouco profissional nesta área, outros relatam as dificuldades de relações familiares e o padre precisa compreender o momento existencial da família para acolher e aconselhar, outros ainda têm necessidades de transporte, remédios, comida, moradia, e o sacerdote, no mínimo deve acompanhar com carinho suas queixas e depois, se não pode solucioná-las, encaminhar para os que são qualificados para este fim, mas poucos são os que voltam de mãos vazias dos nossos ambientes e a prova é: se somos tão procurados é porque a notícia que corre é que a igreja sempre ajuda.

Todavia, ouço frequentemente as pessoas falando dos seus esforços para perder peso, malhar e conquistar um belo corpo, saúde, falam dos colégios caros e exigentes que podem qualificar profissionalmente, sobretudo, seus filhos, gastam pequenas fortunas para enviar a prole a países desenvolvidos para dominar línguas, mesmo que fique em casa de desconhecidos. Admiro esses esforços, realmente são louváveis tais atitudes.

Repito, ouço muitas reclamações de pessoas que foram atendidas por sacerdotes e pessoas da Igreja e que não se sentiram acolhidas e muitas deles dizem: “por isso as igrejas protestantes estão cheias”, já ouvi reclamações a meu próprio respeito, ouço isso com frequência quando tento explicar o que é a Igreja Católica e sua doutrina.

Estes dias comecei a pensar: muitos padres deixaram o ministério, não porque se apaixonaram e quiseram casar simplesmente, muitos, na realidade tiveram a mesma sensação de impotência diante de certas pessoas que chegam às secretarias e desejam ter todos os direitos e nenhum dever, e por isso, são grossas com as secretárias, com os padres, com qualquer pessoa que represente a Igreja.

Experiência própria: é raro um dia em que não me sinto apreensivo com as propostas que algumas pessoas, que se dizem católicas, me fazem. Exemplos: chegam para batizar e não querem fazer o curso, “por não terem tempo”, querem padrinhos de outras religiões, querem casar-se, porém sem a preparação necessária e denominam as exigências de burocracia, querem usar as dependências da Igreja como se fosse um salão de festas. Para resumir, tudo que a gente fala – como forma de manifestar o amor da Igreja, que pretende preparar bem, fazer conhecer aquilo que será celebrado, é visto como falta de acolhida ou empecilho.

Mas, por que será que para a Igreja nunca se tem tempo, mas para a academia, para o inglês, para as festas, para manter os filhos nos melhores colégios, não se cria tantas dificuldades? De fato, se por um lado alguns deixam e outros têm vontade de deixar a Igreja, muitos padres também têm a tentação de deixá-la por causa de certos católicos que em tudo acham dificuldades, querem todos os direitos e não vêem que as preparações são necessárias para o bom exercício da catolicidade, não é barreiras, mas expressão de amor. Não ama o pai que prepara bem o filho para a vida?

Por mais pecados que cada padre possa ter, assim como os leigos, nenhum padre vai negar os “serviços” da igreja, sobretudo, os sacramentos, mas seria pecado de sua parte não fazer com que a pessoa seja preparada para recebê-lo. Quero ver quem leva seu filho ao médico que fez o curso de medicina em um ano, em um dentista que estudou no seu próprio quintal, quem colocaria livremente seu filho no pior colégio? Muitas pessoas chegam à igreja querendo obrigar o sacerdote a fazer o que lhe convém e não o que está certo. Pergunto-me em que nos diferenciamos dos corruptos?

O processo de conversão da Igreja passa por todos, Papa, bispos, padres, religiosos (as) e leigos, precisamos sair do marasmo e do maldito “jeitinho”, que no fundo é uma tentação para tornar a Igreja de Cristo uma Instituição falida. Por isso, o padre é ministro por Cristo, o fiel deve ser católico por amor a Cristo, quem é padre por “causa do povo”, não persiste quem é católico por causa de pessoas abandonará sua fé, católica ou qualquer outra.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

Pe. Crispim Guimarães

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