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sábado, 23 de novembro de 2024

DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA ESQUERDA

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08/04/2019 19h05

Por Fausto Matto Grosso

Há hoje, uma grave crise mundial de legitimidade que atinge todos os partidos, entre eles os de esquerda. É preciso mudar ou morrer.

Um momento fundador dos partidos da esquerda, tal como existem hoje, pode ser considerada a Revolução de 1917 (fevereiro e outubro), liderada pelo Partido Operário Social Democrata Russo. Esse partido acabou rachado entre bolcheviques, defendendo uma ruptura revolucionária, e os mencheviques que propunham uma revolução moderada, permitindo primeiro a democracia e o pleno desenvolvimento do capitalismo para só depois implantar o socialismo. Essas foram as divergências que geraram os partidos comunistas, em oposição aos partidos sociais democratas.

A base material sobre a qual esse processo se desenvolveu foi a economia da Revolução Industrial, cujos reflexos produziram no operariado “o sentimento e a necessidade de organizar-se enquanto classe, com o objetivo de combater a burguesia”. Esse mundo mudou, por mais que isso não seja reconhecido por certa esquerda conservadora.

Por trás da nova realidade, uma modificação profunda na civilização: a Revolução Cientifica e Tecnológica, que está enterrando a instituições nascidas da Revolução Industrial, entre elas os partidos tradicionais de esquerda.

Essa nova era da civilização, baseada nas tecnologias de informação e comunicação, as TICs, surge impactando todas as esferas da vida em sociedade. O mundo se globaliza. As coisas, que pareciam sólidas, se desmancham no ar. Surgem novos valores, novas práticas e novas regras, que demandam novas instituições.

As pessoas hoje tem mais acesso à informação, organizam-se em redes que articulam os cidadãos em suas lutas e demandas. Elas não precisam mais de partidos, embora estes devam continuar existindo por conta da democracia representativa. Os cidadãos não querem ser tutelados por organizações que representam a velha ordem. Vocês não nos representam, gritam nas ruas! Não adianta fingir que não é conosco também. Um mundo novo pede passagem. Ou a esquerda se conecta, ou não terá futuro.

A polarização entre esquerda e direita, continuará válida enquanto houver desigualdades e o fundamentalismo liberal que pretende não apenas uma economia de mercado, mas também uma sociedade de mercado. Essa polarização não é mais suficiente para dar conta do mundo mais complexo. Novas questões se colocam e a politica pensada de maneira unidimensional torna-se insuficiente. Há um demanda por uma visão pluridimensional, considerando outras polarizações, para responder à complexidade crescente.

Há hoje uma nova ordem mundial globalizada. Nenhum dos grandes problemas contemporâneos pode ser resolvido fora dela, com cooperação internacional. Isso está claro na questão ambiental, mas também é válido para o comércio, a circulação de pessoas, os fluxos financeiros, a articulação do conhecimento, o combate ao crime organizado, o clima e as doenças. Nessa questão, há uma clara disjuntiva que opõe nacionalistas, xenófobos e isolacionistas, normalmente de direita, e a esquerda globalista, herdeira das melhores tradições internacionalistas.

A questão ambiental contrapõem sustentabilistas e negacionistas, estes últimos não aceitam que as ações predatórias dos homens sejam responsáveis pela destruição do planeta. Quanto à organização da vida política, há clara contradição entre democratas e autoritários.

Há que se pensar também uma nova forma-partido, permeável à participação da cidadania. Não mais partidos fechados, verticalizados, aparelhados e centralizadores. Tem que se pensar em uma forma intermediária ente os partidos atuais e os movimentos, um partido-movimento. Instrumento da sociedade e das suas demandas e não pretendendo tutela-la. Aberto também às manifestações eleitorais da cidadania, abrigando as candidaturas independentes e avulsas.

Uma organização partidária, que se pretenda progressista, no mundo atual, tem que ter flexibilidade organizativa e conjugar os valores da equidade, da democracia, da sustentabilidade e do globalismo. Só assim a política poderá se libertar do sectarismo e da simplificação. E sobreviver.

Fausto Matto Grosso/Engenheiro civil e professor aposentado da UFMS.

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