13/07/2019 18h57
Por Fausto Matto Grosso
A eventual entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, sinalizada mas ainda não concretizada, é uma questão complexa e ainda indefinida. Trata-se de trocar o status do país quanto ao seu grau de desenvolvimento. Significa sair da condição pais “em desenvolvimento” para entrar no clube dos países ricos.
Participar atualmente da Organização Mundial do Comércio–OMC, significa ser beneficiário de certas vantagens e proteções concedidas aos países em desenvolvimento. Participar da OCDE funcionaria como uma espécie de ampliação de “grau de investimento”, o que lhe permitiria ser mais atrativo para grandes investimentos estrangeiros, abrindo-se mais ao comércio internacional.
Paralelamente a isso, está acontecendo também a tramitação do acordo de cooperação entre o MERCOSUL e a União Europeia, cuja negociação também era antiga. Neste caso, ainda a ser aprovado pelos parlamentos dos países membros, o Brasil terá que observar rígidas exigências controle ambiental, onde se incluem a questão das queimadas e continuidade do País no acordo do clima, do qual Bolsonaro pretendia se afastar.
Esses dois acontecimentos resultaram de pleitos antigos, desde os tempos de FHC, e que agora caíram no colo do Presidente Bolsonaro, talvez como um presente indesejado, pois o obrigará a prestar contas sobre direitos humanos e questões ambientais. Ademais, também estaremos nos afastados mais dos países árabes e da China, nossos grandes parceiros comerciais.
O presidente brasileiro, desde a campanha propunha relações bilaterais privilegiadas com os Estados Unidos. Trump proclamava “America first”, Bolsonaro imitava aqui com o “Brasil acima de tudo”. Na sua última visita, dando continências à bandeira americana, voltou a proclamar, vexatoriamente, “Brasil e Estados Unidos, acima de tudo”, esquecendo até de falar em Deus.
Da mesma forma nosso enigmático e esdrúxulo ministro de Relações Exteriores, já na sua posse, proclamava para espanto de muitos que “globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural”, prosseguia, “é um sistema anti-humano e anticristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo”, “não mergulhemos nesta piscina sem água que é a ordem global”.
De qualquer forma, os dois acontecimentos parecem serem bons para o Brasil. É a afirmação da realidade de uma nova ordem mundial resultante do avanço das forças produtivas na sociedade pós-industrial, fruto principalmente da revolução nas tecnologias de informação e comunicação. A princípio isso é irreversível.
Se não buscarmos, uma integração competitiva nas grandes cadeias mundiais de valor, seremos integrados compulsoriamente, como subordinados. É pegar ou largar.
Vale a pena reler o empoeirado Manifesto Comunista, onde o velho filósofo da Prússia Renana apontava que a burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, já naquela época, havia configurado um mundo cosmopolita onde produção e o consumo de todos os países haviam se unificados, para grande pesar dos “reacionários”.
Não há saída fora desse mundo cosmopolita. Nenhum dos grandes problemas contemporâneos pode ser enfrentado fora do contexto das grandes organizações multilaterais. Regras nacionais serão sempre insuficientes. Sozinho, nenhum país conseguirá enfrentar problemas ambientais, de comércio internacional, do disciplinamento dos fluxos financeiros, da conectividade do conhecimento científico, da circulação de pessoas e do combate ao crime organizado, entre outros. O isolamento só acarretaria o maior empobrecimento da população e prejuízos aos interesses nacionais.
Quanto ao presidente Bolsonaro, me fez lembrar de uma hilária narrativa do comediante José de Vasconcelos na qual o atacante português, após marcar um gol no Brasil, saiu gritando, “foi sem quer, foi sem querer”. Incrível, né!
FAUSTO MATTO GROSSO/Engenheiro civil, professor aposentado da UFMS