03/11/2020 22h04
Mulheres no poder,
na Bolívia. E no Brasil?
Fonte: Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
Mulheres no poder
Por Vera Durão, jornalista, membro do conselho Integração, Mulher e Diversidade da ABI
Novos ventos começam a soprar lá para os lados da Cordilheira. Uma alegria incontida me invade ao celebrar a vitória de Arce, do MAS, e o empoderamento das mulheres bolivianas, guerreiras incansáveis na luta pela derrubada do fascismo. De um total de 36 senadores bolivianos, 20 são mulheres, ou 56 por cento. É uma grande vitória, num mundo onde ainda impera o Pátrio Poder.
No Brasil, a presença feminina na política ainda é bissexta, apesar de em 2011 termos elegido Dilma Rousseff, Presidente.
O Senado brasileiro tem hoje 10 senadoras, ante 86 senadores. Pouco mais de 10 por cento. Ainda há muito a fazer para atingirmos a cota obrigatória de 30 por cento de brasileiras no Poder Legislativo, conforme determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2010.
O Congresso Nacional ainda é um locus predominantemente masculino! “Um mar de ternos escuros e gravatas, onde sobressaem alguns pontinhos coloridos entre o preto e o azul dos paletós”, segundo destaca Ângela Boldrini, em reportagem da FolhaPress, sobre a bancada feminina pós eleição de 2018.
O fato não surpreende, se virarmos a roda da história para trás.
Uma curiosidade: quem foi a primeira senadora brasileira? A Princesa Isabel. Ela ascendeu ao Parlamento em 1871. A Constituição de 1824, em seu artigo 46, garantia aos príncipes da Casa de Bragança o direito de se tornarem senadores ao atingirem 25 anos. Isabel foi uma “senadora biônica”, por direito dinástico. A herdeira imperial não representava nenhuma província, em particular. Ela permaneceu senadora até a Proclamação da República, em 1889.
Outro fato q contribuiu para a demora da entrada das mulheres brasileiras na política foi que: o voto feminino só se tornou um direito em 1932.
As parlamentares se queixam também do machismo vigente no mundo político. Segundo pesquisas da Transparência Partidária, com dados do IBGE, e do Observatório do Legislativo Brasileiro ( OLB), embora haja avanços a mandatos femininos, mesmo eleitas as mulheres são preteridas dentro das estruturas de poder das duas Casas ( Senado e Câmara).
Na Câmara, durante 185 anos, a Mesa Diretora foi composta apenas por homens. Apenas em 2011, a deputada e hoje senadora Rose de Freitas ( Podemos) foi eleita por seus pares para ocupar um posto como titular do colegiado. Nunca houve uma presidente da Câmara ou do Senado!
No Senado atual, com 10 senadoras, duas são presidentes de comissões permanentes, mas nenhuma faz parte da Mesa Diretora.
Simone Tebet ( MDB-MS), que preside hoje a principal comissão do Senado, a CCJ, ensina como chegar lá: ” Com a mulher, na política não adianta bater na porta. Tem de chegar se impondo, não dá para ser muito no diálogo”.
Toda esta questão aponta para a necessidade de uma luta mais ferrenha e mais disposição das mulheres para cumprir a cota de 30 por cento para candidaturas femininas em cada partido. A dominância masculina na política brasileira só será posta abaixo quando aumentar o número de votos femininos dentro do Congresso.
Não nos esqueçamos que, no caso da Presidente Dilma Rousseff, um dos ingredientes do golpe que a derrubou foi o MACHISMO!
O que fica para todas nós é o exemplo de Marielle Franco, uma vereadora guerreira, que ousou violar estes códigos patriarcais da política brasileira, ultrapassando a barreira da mulher “paz e amor” para pelejar pela causa pública. E pagou tal ousadia com a própria vida.
Sigamos seu exemplo e das mulheres bolivianas.
Ousar lutar, ousar vencer!