14/05/2021 23h45
Nem só de bate-papo sobrevive um app de mensagens instantâneas; conheça mais sobre o CAV – grupo de amigos de Amambai
Fonte: Redação
Em um universo altamente tecnológico, onde a informação e a comunicação estão ao alcance de um clique, “o desafio é menos de compartilhar o que temos em comum do que aprender a administrar as diferenças que nos separam”. A afirmação entre aspas é do sociólogo francês Dominique Wolton, especialista em Ciências da Comunicação, em seu livro Informar não é comunicar, publicado em 2009.
Comunicar-se hoje em dia é muito fácil, difícil é a manutenção das relações nos grupos e rede social. Quem nunca se indignou com um comentário ou um posicionamento postado na rede de internet ou quem nunca se aborreceu em um grupo social a ponto de abandoná-lo que atire a primeira pedra.
CAV – Conheci Antônia Vera
A manutenção de um grupo é tarefa árdua, é desafiante. Criado em 2015 no aplicativo WhatsApp, o CAV – Conheci Antônia Vera – é um grupo composto exclusivamente por homens, com cerca de 120 participantes ativos, com o objetivo de agrupar os amambaienses que não residem em Amambai, nos diferentes municípios e regiões do país e, claro, os que ainda moram em Amambai.
O CAV é um grupo diferenciado. Ele teve a sua gênese quando José Ramão Mariano e Silvio Dutra Lopes – este o atual presidente do grupo, se encontraram e decidiram criar a possibilidade de interagir com os irmãos amambaienses que moram em outros municípios.
“O CAV tem servido como meio de integrar as pessoas, conectando velhos amigos e também servindo para novas amizades surgirem. Além do mais, o grupo está sempre realizando projetos, em parceria com a Prefeitura Municipal, para resgatar e enaltecer a história de Amambai e seus moradores”, fala o presidente caviano – assim são chamados os membros do CAV – Silvio Dutra.
O nome do grupo é referência a uma cidadã outrora conhecida de muitos, com um roteiro de vida não muito claro. Explicam, os mais corajosos, que Antônia Vera era empresária na cidade. Um ramo não muito comum. A dama em questão era proprietária de um prostíbulo. Prostituta não, comerciante. Isso há muitas décadas. A maioria dos contemporâneos habitantes de Amambai nem era nascida. Será? Melhor pensar assim para aceitar mais passivamente esta história.
De 2015 para cá, foram realizados encontros anuais, sempre em setembro, mês do aniversário de emancipação político administrativa de Amambai, com a participação dos cavianos, familiares e convidados. Nestas oportunidades, o que não faltam são lembranças, risadas, contação de causos e muitas histórias rememoradas. Também acontecem nestes momentos homenagens a cidadãos pioneiros de Amambai, ex-prefeitos e personalidades que contribuíram com o desenvolvimento de Amambai.
O grupo tem uma diretoria, fundamentalmente criada para promover a realização do encontro anual. Também foram estabelecidas regras que, se infringidas, seja, por exemplo, a exposição de fotos não convenientes ou a ofensa a um dos membros, o infrator deve pagar uma cesta básica e em outras vezes acarreta uma suspensão.
Foco e propósito do CAV
Mas de sombra e água fresca ninguém sobrevive, nem o mundo virtual. A troca de mensagens diárias – centenas, no caso do CAV, as piadas, zoações e o embate de ideias não são suficientes. É preciso acrescentar consistência, ainda mais quando a diversidade em todas as áreas é característica de um grupo de rede social.
Diversidade e diferenças
Wolton já alertava, em seu livro, para essa questão: “O problema não é mais somente o da informação, mas antes de tudo o das condições necessárias para que milhões de indivíduos se comuniquem, ou melhor, consigam conviver num mundo onde cada um vê tudo e sabe tudo, mas as incontáveis diferenças — linguísticas, filosóficas, políticas, culturais e religiosas — tornam ainda mais difíceis a comunicação e a tolerância.”
Por conta da diversidade e das diferenças é que algumas rusgas existiram e existem, a maioria delas em razão de posicionamentos políticos que acabam desagradando este ou aquele membro. Situação esta que levou alguns a saírem do grupo.
“O CAV não pereceu, o grupo tem vida própria, é hoje um organismo muito ativo, as pessoas gostam do CAV. O CAV tem uma aura muito própria. A gente não exclui a política do CAV, absolutamente, mas o contraditório é sempre necessário para que você não fique alienado ouvindo só uma posição. E no CAV a gente contradiz…não é que você tem que ser oposição, ou situação, a gente sabe que este antagonismo, quando é uma coisa educada, eficiente, ele pode gerar um bom bate-papo, uma boa dialética, uma boa conversação, isso tudo faz parte do CAV.”
Os dois idealizadores reforçam a ideia que é preciso projetos que não fiquem dentro da redoma ou dentro do quadrado do CAV. “O CAV existe por conta de Amambai, temos que fazer coisas que atinjam diretamente a sociedade para que essa entenda que o grupo de amigos de Amambai tem no seu íntimo um amor desmedido pela cidade, pelo povo, pela cultura, pela cidade, pelas pessoas, pelas tradições, pela comida, pelos bailes, por tudo aquilo que nos relembra a nossa Amambai”, falam eles.
Ações sociais
Nesses quase seis anos de existência, os cavianos realizaram diversas ações sociais, entre elas, entrega de cestas básicas de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social, apoio a situações específicas de saúde, arrecadação de recursos entre os membros do grupo e através de eventos esportivos em benefício de entidades da cidade e moradores.
A assistência a moradores de Amambai em condição de fragilidade material ou moral diante de riscos produzidos pelo contexto econômico-social é uma atuação contínua do grupo.
Cultura
A preocupação com a cultura, com as tradições da região e com a manutenção dos costumes sempre foram uma constante entre os cavianos. Por conta desta característica, em 2017, por solicitação formal do grupo ao executivo municipal e através de processo junto ao Ministério Público, foram recolocados os bancos da praça Cel. Valêncio de Brum, retirados em 2012 em consequência de obra de revitalização no local. Esses bancos fazem parte da história da cidade e neles há inscrições com nomes de pessoas e famílias pioneiras de Amambai.
Parque da Bica
A Bica do Pedro Couto é um local folclórico em Amambai e está localizada na rua São Cristóvão, nas proximidades da sede da Associação de Moradores da vila Jussara. Pedro Couto é conhecido de todos pelas suas bençãos dadas indistintamente aos cidadãos enquanto ele transita pelas ruas da cidade. A Bica fica em sua propriedade e é considerada sagrada para muitos.
O tombamento deste local como Patrimônio Cultural em Amambai foi um dos projetos que nasceu dentro do CAV. Em setembro de 2019, a Prefeitura realizou o lançamento da pedra fundamental do Parque da Bica. No local, existem inúmeras nascentes e uma represa desativada que serão aproveitadas para lazer dos moradores da região.
“Nós gostaríamos que a Bica fosse reativada, restaurada, mantendo todo aquele manancial espetacular como um parque ecológico dentro da cidade, gerando um ponto turístico acessível para a comunidade. Esta ideia acabou gerando um projeto por conta da Prefeitura”, explica José Ramão.
Outros projetos
A produção de um Calendário Histórico de Amambai – de mesa, de parede e de bolso, com fotos antigas de Amambai – 12 fotos, uma por mês – cedidas por pessoas e selecionadas por uma comissão do CAV, é outro projeto do grupo que está em andamento. Será feito um histórico da foto, identificando a época e o local, com o intuito de rememorar o registro fotográfico. “Tenho certeza q vai ser uma coisa bacana a gente vai homenagear Amambai, vai ser o calendário do CAV.”
O apadrinhamento de praças públicas, com a realização de jardinagem, plantio de flores e de grama – é outra iniciativa que está sendo estudada pelos cavianos. “Nós zelaríamos por este espaço público utilizado pela comunidade e que daria uma significância ao grupo, porque nós estaríamos aí também participando dessa vivência diária das pessoas.”
Os recursos para a viabiização dos projetos propostos serão oriundos de partilha entre os integrantes. “O objetivo é de, em se buscando um projeto com custo mais elevado, fazer alguma espécie de promoção, tipo um leilão”, explica José Ramão.
Ele e Silvio falam ainda sobre a intenção de realizarem entrevistas com amambaienses que moram em Amambai ou não, valorizando esses cidadãos e a história da cidade. “Não queremos que o CAV seja simplesmente um grupo de conversa de WhatsApp, de mensagens, de brincadeiras, de piadas, então nós temos que ter projetos, porque se você não tiver projeto, ele se esvai, ele cansa, não tem uma motivação expressiva ou significativa que daria uma continuidade no trabalho”, finaliza José Ramão.